Déficit primário de maio mostra melhora fiscal, mas a partir de medidas pontuais, sem conter avanço da dívida, explica economista
Enviado Terça, 01 de Julho de 2025.O déficit primário do setor público, divulgado hoje pelo Banco Central, veio menor do que se imaginava. A projeção do mercado para maio era de uma conta negativa em R$ 42 bilhões e o resultado foi de R$ 33,7 bilhões. O número ainda é bem menor do que o apurado no mesmo período do ano passado, quando foi de R$ 63,9 bilhões. Isso significa que existe uma melhora fiscal, mas essa melhora é resultado de questões pontuais, que não se refletem em redução da dívida, que avançou para 76,1% PIB, avalia a economista Juliana Inhasz Kessler, professora do Insper. E a melhora de maio pode não se repetir, destaca, diante da frustração de receitas com a revogação do decreto do IOF.
- Os resultados de maio são positivos numericamente, mas qualitativamente são preocupantes. Há uma melhora fiscal, mas ela está impulsionada por coisas muito pontuais, como o uso dos fundos federais, diminuição de crédito extraordinário e até o próprio contingenciamento. O juro alto pode continuar fazendo com que o governo fique exposto e vai ser difícil conseguir contornar os impactos negativos e o aumento do risco ou a permanência de um risco fiscal muito elevado. E a derrubada do decreto do IOF pode piorar esse dado, afinal haverá frustração de receitas com as quais o governo contava e até aqui não há nenhuma compensação prevista - explica a economista.
Juliana ressalta o peso do contingenciamento de R$ 31 bilhões feito pelo governo nessa conta, mas reconhece as reduções implementadas, por exemplo, com o recuo de gasto em crédito extraordinário, em cerca de R$ 6 bilhões, e a diminuição das despesas do Executivo, de R$ 12 bilhões.
- Quando a gente olha esses R$ 30 bilhões de diferença em relação a maio de 2024, os contingenciamentos são um ponto central dentro dessa história. É importante lembrar aqui que a conta dos precatórios não está sendo contabilizada, o que pioraria esse resultado. Em julho, o governo pagará R$ 70 bi em precatório, que estão fora da conta até 2026. O governo estava contando com receita do IOF, que seria grande, para reduzir esses impactos negativos. Agora que ela não vem, o governo está numa situação complicada - pondera a economista.
A boa notícia, de fato, dos dados de maio, diz a professora do Insper, é o maior equilíbrio nas contas de estados e municípios, com registro de superávit de R$ 4,5 bi.
- Essa foi a boa nova de maio, governos estaduais e municipais conseguindo ter superávit e estatais reduzindo déficit.
Tiago Sbardelotto, economista da XP, ressalta que o resultado de estados e municípios surpreendeu positivamente, era esperado um pequeno déficit ou um número muito próximo a zero. E aponta o que contribuiu para o superávit:
- Houve mais uma rodada de aumento de tributo, especialmente sobre combustíveis, e isso vem se refletindo nos dados de ICMS que, embora estejam desatualizados, mostram um ganho real neste ano. Tivemos ainda um processo de consolidação fiscal da parte dos municípios que é justamente a reversão daqueles déficits que tiveram no ano passado em função da eleição, por causa de gastos maiores, este é um ano de ajuste fiscal. O dado mais importante para esse resultado em maio, no entanto, foi a transferência da União para estados e municípios, que foi recorde, chegando a R$ 40,5 bilhões em termos correntes para os fundos de participação de estados e municípios - destaca o economista.
Fonte: O Globo