Fiscal acusado de cobrar propina foi melhor aluno no ITA e tinha
Enviado Sexta, 15 de Agosto de 2025.Patrimônio da empresa que teria sido usada para lavagem de dinheiro subiu de R$ 411 mil para R$ 2 bilhões em dois anos, segundo MP
O auditor fiscal Artur Gomes da SIlva Neto, acusado de participar de um esquema bilionário de fraude tributária na Secretaria da Fazenda do Estado de SP (Sefaz-SP), emergiu como figura central da estrutura criminosa que envolvia corrupção passiva, corrupção ativa e lavagem de dinheiro. Antes do envolvimento com o crime, Artur traçou uma trajetória acadêmica de sucesso no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), um dos vestibulares mais difíceis do país.
A operação que levou à prisão do fundador da Ultrafarma, Sidney Oliveira, teve início após as investigações do Ministério Público constatarem a evolução patrimonial da mãe do auditor fiscal, Artur Gomes da Silva Neto, preso na terça-feira e acusado de ter recebido mais de R$ 1 bilhão em propina.
Ele chegou a participar de palestras para vestibulandos, nas quais narrava seu desempenho “excepcional” nos exames mais concorridos do país: além do ITA, foi aprovado no Instituto Militar de Engenharia (IME) e no curso de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). Segundo o promotor Roberto Bodini, o auditor preso ficou em primeiro lugar em sua turma do ITA.
Artur optou por seguir carreira na engenharia aeronáutica e se formou pelo ITA. Durante a graduação, conquistou o Prêmio Professor Rene Maria Vandaele, concedido aos estudantes com melhor desempenho nas disciplinas dos departamentos de Aerodinâmica e Estruturas. Como reconhecimento, recebeu da Embraer uma viagem aos Estados Unidos, onde visitou importantes empresas do setor aeroespacial e centros de pesquisa, entre eles a Nasa.
A análise de dados fiscais revelou que Artur realizou inúmeras viagens para países considerados paraísos fiscais nos últimos anos, como Suíça, Emirados Árabes Unidos e Uruguai, o que levantou suspeitas, segundo o MP, sobre a ocultação de ativos ilícitos e o risco de fuga.
A operação, batizada de Ícaro, teve como objetivo desarticular um esquema de corrupção envolvendo auditores fiscais tributários lotados no Departamento de Fiscalização da Secretaria da Fazenda do Estado de São Paulo.
Segundo documentos do MP, a mãe do auditor, identificada como Kimio Mizukami da Silva, era sócia de uma empresa chamada Smart Tax, que teria sido utilizada para a lavagem do dinheiro recebido das empresas.
Em 2021, o patrimônio declarado pela empresa foi de R$ 411 mil. Já em 2023, o patrimônio da Smart Tax subiu a R$ 2 bilhões. O auditor Artur Gomes, que havia fundado a Smart Tax com sua mãe, saiu do quadro estatutário em 2013.
Este aumento patrimonial teria sido decorrente da compra de criptomoedas, segundo declarado à Receita Federal. O MP apurou que essas criptomoedas teriam sido adquiridas por meio de valores recebidos da Smart Tax.
Em 2021, a Smart Tax passou a ter como ocupação a "prestação de serviços especializados em consultoria, assessoria e auditoria tributária".
"Os dados fiscais enviados pela Receita Federal, com a quebra de sigilo da mãe permitiram constatar evolução patrimonial absurda, em decorrência de rendimentos advindos de a empresa Smart Tax", diz o MP nos autos do processo.
Segundo o MP, o contador da Smart Tax, Agnaldo de Campos, ao lado do auditor Artur, era o principal responsável pelo uso da empresa para a lavagem financeira de recursos obtidos em um esquema de corrupção que é alvo da investigação.
"Agnaldo age como "testa de ferro" de ARTUR nas negociações da Smart TaxS com outras pessoas jurídicas. É o responsável por conduzir as negociações, sempre cientificando Artur sobre elas", diz o MP.
Fonte: O Globo