Estados vão socorrer empresas mais afetadas pelo tarifaço de Trump
Enviado Quarta, 23 de Julho de 2025.Após ministro da Fazenda falar em “plano de contingência” para o tarifaço, São Paulo e Goiás citam crédito subsidiado para setores que mais exportam para os EUA. Outros governos avaliam impacto de sobretaxa
No dia seguinte à sinalização, dada pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, de que o governo federal estuda um “plano de contingência” para mitigar os efeitos negativos da elevação das tarifas de importação dos EUA sobre mercadorias brasileiras, governos estaduais anunciaram na terça-feira que planejam fazer o mesmo.
Os governadores de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), cotados como presidenciáveis nas eleições do próximo ano, citaram empréstimos subsidiados no rol de medidas.
O governador paulista disse, em visita a Rio Claro (SP), que a ideia é “aumentar o fundo garantidor, para dar crédito a esses setores que são mais afetados”, com uma “linha de crédito mais vigorosa, com juros subsidiados”. Uma segunda medida em estudo é liberar créditos do ICMS, o principal tributo estadual.
— Vamos fazer uma grande entrega de crédito de ICMS, uma grande devolução de crédito, para ver se a gente consegue abastecer essas empresas com recurso financeiro, para que elas possam passar por esse período mais crítico, esse período de negociação, sempre na esperança que isso aí vai chegar em uma boa solução, em um bom tempo — afirmou Tarcísio.
Em Goiás, segundo Caiado, a linha de crédito será voltada ao setor agroindustrial. Os juros serão inferiores a 10% ao ano, abaixo dos 15% ao ano da Selic, a taxa básica fixada pelo Banco Central (BC), referência mínima para os empréstimos de mercado. Apesar do subsídio, segundo o governo goiano, não haverá aporte de recursos públicos na medida.
Em contrapartida, será exigido das empresas que tomarem os empréstimos a manutenção dos empregos durante o período de acesso ao crédito. Também deve ser criado um fundo de garantia voltado a pequenos e médios empresários, para alavancar a oferta de crédito por parte dos bancos privados.
Em vídeo publicado nas redes sociais, Caiado afirmou que determinou a criação de um grupo de trabalho, com representantes do governo e da iniciativa privada, para avaliar medidas adicionais.
No Rio, o governador Cláudio Castro também anunciou, ainda na semana passada, a criação de um grupo de trabalho para elaborar estudos de avaliação dos impactos. Em 2024, o estado exportou US$ 7,4 bilhões em produtos para os EUA, especialmente petróleo refinado e semimanufaturados de ferro e aço.
O governador do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB), também instituiu na terça-feira um comitê para avaliar os impactos da sobretaxa americana. Cerca de 30% das exportações capixabas têm como destino os EUA.
No Paraná, o governo também vai reunir, ao longo da semana, os setores econômicos que poderão ser impactados pelo tarifaço. Entre eles estão madeira e derivados (como MDF, esquadrias e portas), café e suco de laranja. O Paraná vende para os EUA, em média, US$ 1,5 bilhão em bens.
O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSD), reuniu-se, na última sexta-feira, com representantes da indústria gaúcha, de entidades empresariais e da diplomacia americana para debater os efeitos da sobretaxa. Uma linha de crédito estadual específica para empresas exportadoras não está descartada, mas ainda não há decisão.
O governo da Bahia prevê anunciar, nos próximos dias, um conjunto de medidas de apoio aos segmentos econômicos mais impactados pelas tarifas. Também foi formado um grupo de trabalho, em parceria com a Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb), com o objetivo de avaliar os impactos do tarifaço.
No Pará, a Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Mineração e Energia informou que está desenvolvendo uma análise de cenário para definir medidas e implementar ações estratégicas.
No plano federal, as medidas em estudo no “plano de contingência” incluem a criação de linhas emergenciais de crédito e a criação de um fundo específico para empresas afetadas pela crise. Ele seria abastecido com crédito extraordinário (fora das regras fiscais) e usado como lastro para operação de crédito, de modo a reduzir a taxa de juros.
O secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Dario Durigan, ponderou que o socorro a empresas afetadas por tarifaço de Trump seria pontual, direcionado e com menor custo fiscal possível.
Na terça-feira, a indústria de máquinas e equipamentos engrossou o coro dos setores que serão afetados pela sobretaxa de Trump — ao lado dos segmentos de carnes, café, aeronáutico e a fruticultura. A Abimaq, associação que representa o setor, estima que os fabricantes de maquinário poderão ter uma redução de receita de cerca de US$ 4 bilhões ao ano, equivalente a 7% do total.
A Abiec, associação que representa os frigoríficos exportadores, alertou no mesmo dia que já há uma queda nas vendas de carne bovina para os EUA. Em junho, os frigoríficos brasileiros embarcaram 18.232 toneladas para lá, 9,8% abaixo de igual mês de 2024 e um tombo de 33% ante maio.
Fonte: O Globo