Disputando protagonismo contra Paes na Segurança, Bacellar diz que há quem

Enviado Terça, 10 de Junho de 2025.

Ainda sem assumir publicamente o desejo de concorrer ao Palácio Guanabara, ambos já se movimentam em torno do assunto que deve ser o central das eleições de 2026

O presidente a Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) Rodrigo Bacellar (União) participou nesta segunda-feira de mais uma agenda pública de Segurança Pública. Nas últimas semanas, ele tem disputado o protagonismo na área já mirando as eleições de 2026 ao governo do Rio. O deputado participou da inauguração de uma base da Polícia Militar em Belford Roxo, comandada pelo corregelionário Márcio Canella. Também estiveram presentes o governador Cláudio Castro (PL) e os presidentes nacionais do Pogressistas e União Brasil, Ciro Nogueira e Antonio Rueda.

Durante seu discurso, Bacellar disparou contra o prefeito Eduardo Paes. Sem cita-lo nominalmente falou sobre alguém "com 13 anos de mandato" mas que não teria "movido uma agulha" pela segurança nesse tempo. Ele também exaltou, mais uma vez, sua passagem pela secretaria de Governo, que é responsável pelo programa Segurança Presente — sua principal bandeira na área.

— Agora, instruído por marqueteiro, quer começar a ser o grande xerife da segurança pública do Estado, mas que nunca fez merda nenhuma pela segurança — disse Bacellar.

Mais cedo, quem buscou demonstrar força foi Paes. Ele esteve ao lado do secretário estadual de Transporte Washington Reis (MDB) numa reunião sobre os planos de expansão do metrô no Rio. Prefeitos de vários outros municípios, a maioria do MDB, partido de Reis e Jader, também estiveram presentes. O governador, Cláudio Castro não participou da apresentação. A agenda ocorreu pouco dias depois de Reis ter entrado em rota de colisão com o governador.

O plano apresentado é da criação da Linha 3, que ligaria o Jardim Oceânico ao Recreio, na Zona Oeste da capital. Mesmo assim, estiveram reunidos os prefeitos Netinho Reis (MDB), de Duque de Caxias, Capitão Nelson (PL), de São Gonçalo, e o ministro das Cidades Jader Filho (MDB).

Tema principal da eleição municipal do ano passado, a segurança pública deverá permanecer no centro do debate durante a disputa para o governo do Rio, em outubro de 2026. Apesar da distância e embora ainda não tenham assumido a intenção publicamente, dois pré-candidatos já disputam o protagonismo em ações de combate à violência no Rio. Por um lado, o prefeito do Rio Eduardo Paes (PSD) corre para tirar do papel o projeto de armar a Guarda Municipal. Do outro, o presidente da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), Rodrigo Bacellar (União Brasil), tenta vincular sua imagem ao programa Segurança Presente, que será ampliado pelo governo do Rio.

Ao apresentar, na sexta-feira (06), como será a atuação da tropa armada, Paes disse que disputou duas vezes as eleições ao governo do Rio e que nunca “passou a mão na cabeça de bandido” e que não defende o “tiro na cabecinha”, mas que “o Estado deve até matar um delinquente, se este ameaçar o agente público”. Em seguida, brincou: “Vão até achar que sou candidato a governador depois de tudo que eu falei aqui”. Já Bacellar se envolve cada vez mais nas agendas na área de segurança. Na quinta-feira (05), participou da entrega de novas viaturas da Polícia Militar. O deputado discursou à tropa, e o governador Cláudio Castro (PL) atribuiu ao aliado a costura para convocar os excedentes do concurso de oficias da corporação.

Principal aposta do governo de Paes, um projeto em tramitação na Câmara prevê a atuação de uma tropa armada a ser criada dentro da estrutura da Guarda Municipal. O custo deve ser de R$ 215 milhões no ano que vem. O município afirma que os agentes serão permanentemente monitorados por GPS e câmeras corporais e vão obedecer a ordens de serviço digitais, em uma estrutura inspirada em modelos internacionais.

Mesmo sem o texto ter passado pelo crivo dos vereadores, a prefeitura estima que o treinamento da primeira turma de guardas armados comece em setembro, para que eles estejam nas ruas já em fevereiro de 2026. O município não detalhou que tipo de armamento será usado, mas confirmou que os processos de compra já foram iniciados.

Numa corrida contra o tempo, já foi lançado o primeiro edital para contratar internamente os 600 guardas municipais que farão parte da tropa de elite. Eles estarão em duas turmas. Cada um dos aprovados nesta seleção receberá uma gratificação pelo uso de arma de fogo no valor de R$ 10.283,48.

Os vereadores aprovaram na terça-feira, em primeira discussão, o texto enviado por Paes em março que define as regras de atuação da divisão armada. Ainda é necessária mais uma votação, e o projeto inicial pode receber emendas. Entre as polêmicas que estão postas e que a oposição tentar derrubar, estão a contratação de agentes temporários (não estatutários) e a proibição de o agente levar a arma para casa. Há mudanças que a própria prefeitura deve incluir no texto base, como a obrigatoriedade do uso das câmeras corporais e a decisão de não rebatizar a Guarda Municipal como Força de Segurança Municipal.

— Estamos fazendo o que me comprometi desde o início. Vamos implantar um novo modelo de policiamento. A população pode ter certeza de que serão muitos treinamentos. O crime que mais afeta o carioca está na rua, e é nesse foco que vamos atuar com a Guarda — afirmou Paes.

A pressa em agilizar o processo passaria pelo interesse do prefeito em disputar as eleições de 2026 ao governo do Rio, o que Paes não admite publicamente. Nos bastidores, entretanto, ele e seu partido já se movimentam para atrair aliados de fora da capital, entre eles, de São Gonçalo e Itaboraí, como mostrou reportagem do GLOBO na última segunda-feira.

Paes também criticou a posição do Partido Liberal, que votou contra o projeto da Guarda Municipal armada na primeira discussão. A legenda de Cláudio Castro apoiará Bacellar nas próximas eleições. No entanto, o prefeito diz manter uma relação institucional com o governo do Rio e que se encontrará com a cúpula da segurança estadual para explicar como funcionará a nova tropa e pedir sugestões. Ele também fez questão de pontuar que o agente armado terá dedicação exclusiva, ao contrário de programas como Segurança Presente, do governo estadual, e BRT Seguro, da prefeitura.

— Temos visto algumas políticas como essas, que são eficientes, mas são para o policial ganhar um dinheirinho extra. A Força de Segurança Municipal não é bico, por isso teremos uma remuneração alta — afirmou.

Bacellar, que deve ser o principal opositor de Paes numa eventual disputa ao governo estadual, também busca reforçar sua imagem na segurança pública. O presidente da Alerj garantiu ainda mais poder dentro do Palácio Guanabara com a renúncia mês passado do então vice-governador Thiago Pampolha, que se tornou conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE). Mas, por ainda ser um rosto pouco conhecido, ele têm intensificado suas aparições públicas, sobretudo em agendas de segurança.

Sua principal aposta é estreitar a ligação com o Segurança Presente, que será ampliado este ano. No programa partidário do União Brasil que está sendo veiculado em rádio e TV, Bacellar afirma que a segurança é uma das marcas da legenda.

Antes mesmo de destacar seus feitos como presidente da Assembleia, ele exalta sua passagem como secretário estadual de Governo — pasta responsável pelo Segurança Presente — e que foi responsável pela ampliação do número de bases. Este ano, o programa deve custar R$ 87,2 milhões.

Ao GLOBO, ele destacou ter levado o Segurança Presente ao interior do Rio e destinado R$ 50 milhões da Alerj ao programa. Ele ainda provocou adversários, sem citar nomes:

— Como tenho dito, segurança não é brincadeira, nem palanque para quem quer brilhar sozinho. É ouvir a tropa, trabalhar em conjunto e entregar.

Atualmente, o programa de reforço da segurança tem mais de 50 bases espalhadas pelo estado. São cerca de 1.600 policiais militares que recebem hora extra para trabalhar nos dias de folga. E a iniciativa deve ser ampliada nos próximos meses: Jacarepaguá, na Zona Oeste, e Marechal Hermes, na Zona Norte, devem receber núcleos. Na Tijuca, este mês será lançado o Mulher Presente, um braço do programa original voltado para combater a violência de gênero.

Fonte: O Globo