Castro tenta organizar 'dança das cadeiras' em acordo com vice para indicar sucessor
Enviado Quinta, 15 de Maio de 2025.Governador do RJ quer entregar cargo para presidente da Alerj disputar sucessão, mas depende de acerto com Pampolha
O governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), tenta finalizar nos próximos dias um acordo com o vice, Thiago Pampolha (MDB), para permitir que o presidente da Assembleia Legislativa, Rodrigo Bacellar (União Brasil), possa assumir o Palácio Guanabara no ano que vem para concorrer à sucessão já no cargo.
A principal moeda de troca de Castro estará disponível a partir do próximo dia 19: uma vaga de conselheiro no TCE (Tribunal de Contas do Estado). Atual ocupante do cargo, José Maurício Nolasco participará de sua última sessão nesta quarta-feira (14), antes de completar 75 anos e se aposentar compulsoriamente.
Da esq. para a dir, o vice-governador do Rio, Thiago Pampolha (MDB), o presidente da Assembleia Legislativa, Rodrigo Bacellar (União Brasil), e o governador, Cláudio Castro (PL), em reunião para tratar de ações de ajuda aos municípios atingidos pelas chuvas, em janeiro de 2024 - Divulgação Governo do Rio de Janeiro
O objetivo do governador é convencer Pampolha a aceitar uma indicação para a vaga de Nolasco no TCE e abrir espaço na linha sucessória. Dessa forma, Bacellar poderia assumir o governo no início do ano que vem, quando Castro deve deixar o cargo para disputar o Senado.
A estratégia é semelhante à adotada pelo ex-governador Sérgio Cabral em 2014, quando renunciou para dar destaque para o vice Luiz Fernando Pezão (MDB) antes das eleições. A diferença é que o beneficiário, na ocasião, não dependia da "dança das cadeiras" planejada agora por Castro.
A dificuldade se deve ao fato de Pampolha ter decidido também se colocar como pré-candidato para 2026. Ampliou o investimento em suas redes sociais, buscando um discurso duro na segurança pública, à semelhança do governador.
Desde o ano passado, quando trocou o União Brasil pelo MDB sem aval de Castro, ele vive às turras com o ex-companheiro de chapa. Chegaram a romper, depois se reconciliaram, mas o vice ainda não recuperou o espaço que tinha no governo, como secretário de Ambiente.
Nas eleições municipais, ele se aproximou de Eduardo Paes (PSD), provável candidato de oposição ao governo estadual em 2026. Pampolha esteve num evento em que o prefeito do Rio de Janeiro chamou Castro de "frouxo".
O vice tem dito que ser seu direito assumir o Palácio Guanabara caso Castro deixe a cadeira. O governador, por sua vez, ameaça não se candidatar e permanecer no cargo apenas para atrapalhar os planos do ex-aliado. Apesar das rusgas, os dois mantêm diálogo sobre a alteração da linha sucessória, e um acordo é visto como provável para os próximos dias.
Nesta semana, Castro deve iniciar também uma reforma no secretariado e pode reabrir espaço para o grupo político de Pampolha na Cedae (Companhia Estadual de Água e Esgoto).
A reformulação também tem como objetivo consolidar em favor de Bacellar a manutenção da aliança que o reelegeu em 2022.
O objetivo é tentar minar a tentativa de Paes de atrair aliados de Castro para sua chapa. O prefeito tem apostado no PP, comandado pelo deputado Doutor Luizinho. Uma das sinalizações foi abrir conversas sobre a entrega da vaga de vice para o prefeito de Campos dos Goytacazes, Wladimir Garotinho (PP), filho do ex-governador Anthony Garotinho.
Os movimentos do prefeito sofreram um revés com o anúncio da federação chamada União Progressista, que uniu o União Brasil ao PP.
O comando do grupo no Rio de Janeiro deve ser compartilhado entre Bacellar, presidente regional do União Brasil, e Luizinho. Eventual rebelião do dirigente do PP contra o presidente da Assembleia em favor de Paes é vista como improvável.
Outro foco de Castro é a aliança com o Republicanos, partido do qual o prefeito também busca se aproximar. O comando da sigla no Rio de Janeiro deve ser retomado pela Igreja Universal, que apoiou a reeleição de Paes em 2024.
O movimento visa limitar as alianças do prefeito a partidos de esquerda, a fim de reforçar a sua vinculação ao presidente Lula (PT), cuja popularidade no Rio de Janeiro se mantém em baixa, segundo pesquisas internas da equipe de Castro.
Na eleição de 2024, Paes conseguiu mitigar o cenário com o apoio de lideranças evangélicas. Contudo, a avaliação da equipe do governador é de que ele terá mais dificuldade de acessar o eleitorado do interior e da Baixada Fluminense, áreas em que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) teve melhores resultados em 2022.
Bacellar, por sua vez, vem tentando se aproximar de Bolsonaro para que o ex-presidente auxilie na exposição de seu nome, ainda desconhecido de grande parte do eleitorado. O presidente da Assembleia teve ascensão meteórica como deputado estadual e nunca disputou cargo majoritário.
Bolsonaro sinaliza a possibilidade de apoio. Porém mantém viva as expectativas do secretário de Transportes, Washington Reis (MDB), de ser o candidato do campo bolsonarista. Pesa contra o emedebista a inelegibilidade em razão de uma condenação no STF (Supremo Tribunal Federal).
Paes, por sua vez, mantém o discurso de que não deixará a prefeitura para se candidatar. Afirma que seus movimentos políticos se devem à tentativa de criar uma frente contra Castro. Seus aliados, porém, afirmam que ele será convocado para a disputa. Por outro lado, o prefeito considera a hipótese de não tentar o Palácio Guanabara pela terceira vez em um cenário político muito adverso.
Fonte: Folha de S. Paulo