Real é a terceira moeda que mais se desvalorizou após tarifaço de Trump

Enviado Quarta, 09 de Abril de 2025.

Entre as 118 moedas analisadas entre o anúncio do tarifaço do governo Donald Trump (2 de abril) e hoje (8 de abril), o Brasil se destacou como a terceira moeda com a maior desvalorização, registrando uma queda de 5,1% nesse período de seis dias. Apenas o dinar da Líbia (-13,2%) e o peso colombiano (-5,8%) apresentaram desvalorizações mais acentuadas. A análise foi feita por Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating.

O motivo é a guerra tarifária entre Estados Unidos e China. Agostini considera que, caso Donald Trump continue com essa queda de braço - o que ele considera difícil, pois seus apoiadores já cobram uma mudança de rumo -, é difícil prever uma tendência para a taxa de câmbio e para a bolsa de valores.

- O momento atual exige cautela. Assim, o que provavelmente veremos daqui para frente é essa volatilidade, sem uma tendência definida até que haja um posicionamento mais claro de China e Estados Unidos em relação a essa disputa comercial. Isso se deve ao fato de que estamos falando de pelo menos 43% da formação do PIB global. São dois titãs, dois gigantes que estão nessa queda de braço com um efeito cascata na economia global, atingindo todos os países de forma indiscriminada. Portanto, até que esses dois países se entendam, os ativos financeiros continuarão sem uma tendência clara - considera ele.

Segundo ele, o que se pode afirmar é que essa volatilidade, a priori, pode se manter nesse patamar entre R$ 5,90 e R$ 6.

- Contudo, reitero, como estamos lidando com fatores sem um fundamento sólido, a taxa de câmbio pode, a qualquer momento, retornar para patamares como R$ 5,60, R$ 5,70 ou R$ 5,80. Imagine se Donald Trump declarar: 'Cometi um grande erro, vou revisar tudo e manter uma taxação média de 10% para todos'. Se isso acontecer, será um período de euforia nos mercados financeiros, com a bolsa em alta, o dólar em baixa e as moedas emergentes se valorizando.

Para André Galhardo, consultor econômico do Remessa Online, se a economia norte-americana desacelerar, o cenário pode ficar ainda pior.

- Os números ainda são ambíguos, existem sinais de que a economia dos Estados Unidos está perdendo força; no entanto, o mercado de trabalho segue firme. Não dá ainda para dizer qual é a extensão desses danos sobre a economia americana, nem a profundidade. No entanto, se essa desaceleração aguda e essa extensão forem grandes, isso abre caminho para o Fed cortar juros? É verdade. Isso poderia ajudar as moedas em desenvolvimento? É verdade também. Só que num ambiente em que nós temos guerra comercial e em que as principais economias do mundo estão desacelerando, isso faz com que os investidores corram para ativos seguros, como títulos públicos americanos e ouro, por exemplo.

Do outro lado da balança, ele lembra, tem a taxa real de juros do Brasil, que é muito elevada:

- Se Trump voltar atrás com algumas das suas medidas anunciadas nos últimos dias, considerando a taxa de juros muito forte aqui no Brasil e a expectativa de que o país crescerá também em 2025, a despeito de todos esses riscos, a gente pode ver alguma valorização da moeda brasileira. Mas, no geral, o cenário não é positivo nem para o real nem para a maioria das moedas dos países em desenvolvimento.

Fonte: O Globo - Coluna Míriam Leitão