Reforma administrativa ajudaria a resolver questão fiscal, diz Meirelles

Enviado Quinta, 13 de Março de 2025.

Ex-ministro da Fazenda reconhece que o país teve ganho de produtividade com reformas realizadas pelos governos anteriores, inclusive, a trabalhista, que, segundo ele, "veio para ficar"

Os desafios para o crescimento sustentável da economia brasileira têm como uma das prioridades a questão fiscal, e, nesse sentido, a reforma administrativa ajudaria muito o governo brasileiro a equilibrar as contas públicas e até mesmo zerar o rombo fiscal, na avaliação do ex-ministro da Fazenda e ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles.

Segundo ele, quando foi secretário da Fazenda do governo de São Paulo, na gestão do ex-governador João Doria, a reforma administrativa estadual resultou em uma economia de R$ 53 bilhões, reduzindo custos com empresas estatais e privilégios, por exemplo. “Uma reforma no governo federal poderia ser maior e, sim, resolver, de maneira consistente e sustentável, a situação fiscal”, afirmou Meirelles, nesta quarta-feira (12/3), durante participação no Brasil Summit 2025, evento realizado em Brasília pelo Lide e pelo Correio Braziliense.

De acordo com o ex-ministro, o Brasil tem avançado em várias reformas nos últimos governos, especialmente por conta da reforma trabalhista, realizada na gestão de Michel Temer (MDB), quando ele estava à frente do Ministério da Fazenda e também estruturou a proposta do teto de gastos, que entrou em vigor em 2017 e foi extinto no governo atual, substituído pelo novo arcabouço fiscal.

Ao ver de Meirelles, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, vem sofrendo bombardeio de integrantes do próprio governo na tentativa de equilibrar as contas públicas, tentando se comprometer em preservar o atual arcabouço. “A agenda dele é positiva, mas não está endereçando o cerne da questão”, alertou Meirelles, lembrando que o governo mantém uma política fiscal expansionista, que vai na contramão da agenda do Banco Central, que acaba sendo obrigado a aumentar os juros.

Meirelles participou do primeiro painel do evento que debateu sobre a economia brasileira e a economia brasileira em 2025, tratando sobre caminhos e perspectivas. “Temos alguns desafios importantes pela frente, mas a estrutura da economia brasileira já teve um grande impulso, uma grande melhora, com as reformas estruturais feitas. Temos agora que prosseguir, principalmente, na reforma administrativa, mas o fato é que o país já está mais produtivo devido às reformas já feitas”, reforçou Meirelles, que também é co-chairman do board do Lide.

O ex-ministro da Fazenda contou que, quando estava conduzindo a reforma trabalhista no governo federal, ele fez um comparativo de com uma empresa de 70 mil funcionários nos Estados Unidos e no Brasil para justificar a medida. “Nos EUA, a empresa tinha 27 causas trabalhistas e dois advogados trabalhando em tempo parcial. E, no Brasil, tínhamos 25 mil ações trabalhistas naquele momento, e mais de 100 advogados trabalhando. Essa reforma foi muito importante e está aí para ficar. E, talvez, precisamos mudar um pouco a regra para avançarmos um pouco mais por conta do comércio eletrônico”, afirmou.

Em relação ao impacto no Brasil do tarifaço dos Estados Unidos, que elevaram, a partir de hoje, em 25% a taxa de importação sobre o aço e o alumínio, Meirelles reconheceu que isso influencia diretamente o Brasil. E, para ele, o país precisará enfrentar esse cenário mais incerto, melhorando as perspectivas no mercado doméstico realizando reformas.

“O cenário internacional, de fato, hoje, está bastante incerto e esse nível de incerteza, na realidade, está aumentando”, alertou Meirelles. Ele destacou que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tem tomado medidas diferentes, e está mais agressivo nas medidas de confronto com todas as regiões do mundo e tem tomado medidas diferentes do mandato anterior. Como isso, os impactos no mercado financeiro tem sido maiores, porque a estratégia do líder norte-americano está equivocada, pois está focada na velha indústria e na retomada de empregos no chão de fábrica.

“O desemprego norte-americano já está muito baixo, porque houve um crescimento enorme da economia dos EUA, no avanço de empresas de alta tecnologia, como Google e Microsoft. Mas Trump ignora isso e tenta voltar à marcha da história em relação à produção industrial americana”, lamentou.

O Brasil Summit, que ocorre no Brasília Palace Hotel, reúne líderes empresariais, autoridades e especialistas do setor econômico e transição energética, para debater as perspectivas para a economia do país. Além de Meirelles, participaram do debate no primeiro painel o presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Isaac Sidney, o presidente do Banco de Brasília (BRB), Paulo Henrique Costa, e o deputado federal Antonio Brito (PSD-BA).

Fonte: Jornal Correio Braziliense