No Rio, xadrez de 2026 passa por ‘campeões’ de prefeituras, e Paes precisaria avançar sobre base de Castro

Enviado Segunda, 21 de Outubro de 2024.

Depois das eleições municipais, cenário caminha para contrapor o prefeito da capital e o grupo ligado ao governador, que conta com os maiores partidos do estado

Duas semanas depois do primeiro turno das eleições municipais, caciques que saíram fortalecidos das urnas no Rio já fazem cálculos para 2026. Com o prefeito da capital, Eduardo Paes (PSD), visto como candidato natural ao estado, o grupo de siglas que dá sustentação ao governo Cláudio Castro (PL), vitorioso em municípios populosos da Baixada e do interior, busca um nome que se equilibre entre o bolsonarismo e uma direita moderada que hoje não está na base de Paes. O problema é que faltam quadros.

Apesar de o prefeito negar a intenção, o Palácio Guanabara trabalha com um cenário em que ele é candidato. A cúpula do governo, contudo, acredita que Paes só será favorito se “roubar” algum partido dos que encabeçam o ranking de prefeituras ganhas. Descartado o PL, inexorável por ser a casa de Jair Bolsonaro, Paes precisaria avançar sobre PP, MDB e União.

No rol de dificuldades, além de nuances locais, entra o aspecto nacional: Paes é aliado do presidente Lula (PT) no berço do bolsonarismo, o que dificulta atrair essas siglas.

Dois dias depois de reeleito, o prefeito deixou claro, em entrevista ao GLOBO, que a principal legenda a ser cortejada era o PP. Tudo mudou, no entanto, com o escândalo dos transplantes na Saúde estadual, que teve como pivô um laboratório ligado ao deputado federal Dr. Luizinho — presidente do partido no estado e ex-secretário de Saúde. Tido por Castro como um possível candidato, e por Paes como joia da coroa na tentativa de expandir suas bases, Luizinho dificilmente conseguirá se recompor do caso a ponto de despontar como protagonista de 2026, avaliam integrantes dos dois grupos.

São 16 prefeituras nas mãos do PP, atrás apenas das 22 do PL. Entre elas, cidades de relevância eleitoral como Nova Iguaçu, na Baixada, e Campos dos Goytacazes, no interior. Esse ativo estadual pode ter dificuldade de pular no colo de Paes por causa do jogo nacional. Presidente do PP, o senador Ciro Nogueira foi ministro da Casa Civil de Bolsonaro e tende a levar a sigla para palanques da direita.

— No Estado, a direita, a centro-direita e a extrema-direita ganharam, mas com ênfase na centro-direita e na direita clássica — aponta o cientista político Paulo Baía, da UFRJ.
De fato, os candidatos do PL que conquistaram prefeituras são mais da “máquina” do que ideológicos.

As outras legendas campeãs das municipais foram o União Brasil (12) e o MDB (10). Apesar de o presidente estadual dos emedebistas, Washington Reis, ser aliado de Bolsonaro, a sigla tem outras lideranças simpáticas a Paes e a Lula.

Componente que contribui para a indefinição sobre de que lado o MDB vai estar é o fato de ter filiado o vice-governador, Thiago Pampolha. Hoje rompido com Castro, o vice depende dele para saber se estará ou não na cadeira de governador a partir de abril de 2026. Castro diz agora que não vai disputar nenhum cargo; caso mude de ideia, terá de passar a caneta para Pampolha a seis meses das eleições.

Uma vez no poder, o emedebista seria um candidato natural à reeleição. Ele também tem bom trânsito com Paes, a quem deu um apoio tímido na disputa municipal — enquanto o MDB foi com Alexandre Ramagem, do PL, em movimento puxado por Reis.

Já o União Brasil é comandado no estado pelo presidente da Assembleia Legislativa, Rodrigo Bacellar, que virou o principal alvo do prefeito depois da reeleição. Ao GLOBO, Paes acusou o político de Campos de fazer “ameaças” e “extorsões” na relação com Castro. Em resposta, foi chamado de “vagabundo”. Tratado pelo prefeito como possível adversário em 2026, Bacellar também nega o interesse no cargo.

O bolsonarismo tem como prioridade absoluta a conquista das duas cadeiras do Senado, estratégia que atende aos anseios de formar maioria naquela Casa e impor uma agenda anti-Judiciário. Por isso, estuda apoiar para governador um candidato desse grupo de centro-direita que hoje alicerça o governo Castro.

A fim de manter o bloco com PL, PP, União e MDB unido, o governador vislumbra uma virada econômica em 2025, alavancando a avaliação do governo. As principais apostas são a nova concessão do serviço de distribuição do gás — que começou a ser desenhada anteontem, com um decreto para formar um grupo de trabalho — e o refinanciamento das dívidas dos estados, que está em análise no Congresso. Combinando a injeção de recursos e o alívio nas contas públicas, Castro trabalha com a expectativa de uma “nova Cedae”, cujo leilão arrecadou R$ 22 bilhões em 2021.

Se por um lado há dificuldades para atrair as siglas da centro-direita, Paes contaria com a centro-esquerda. O PT é o que tem mais prefeituras, com três. Além de manter o reduto Maricá, conquistou Paracambi e Japeri. O PDT, que tinha quatro em 2020, agora aposta as fichas no segundo turno de Niterói, com Rodrigo Neves.

Professor da UFRJ e estudioso da história política do Rio, Mauro Osorio avalia que, apesar de reduzida, a esquerda conseguiu fincar uma força:

— PDT e PSB perderam prefeituras, mas o PT ganhou. O Rio tem muitos sensos comuns equivocados, não acho que este foi um resultado ruim (para a esquerda).

Fonte: O Globo