Bacellar tem a candidatura ao governo do Rio em xeque

Enviado Quinta, 07 de Agosto de 2025.

Tratado até o mês passado como preferido do governador Cláudio Castro (PL) para sucedê-lo no Palácio Guanabara, o presidente da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), Rodrigo Bacellar (União), acumulou arestas com aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) que agora colocam sua candidatura em xeque. Após desagradar o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), que reclamou da “precipitação” de Castro na definição do apoio, Bacellar silenciou sobre a imposição de tornozeleira eletrônica e de prisão domiciliar ao ex-presidente, que recebeu gestos de solidariedade de outros candidatos de olho em seu apoio.

O presidente da Alerj tampouco compareceu a manifestações em apoio a Bolsonaro no último domingo. A postura destoa da adotada por Bacellar no primeiro semestre, quando teve uma sequência de encontros com o ex-presidente — em um deles, recebeu uma medalha de “imbrochável” —, participou de um ato pedindo anistia a condenados no 8 de Janeiro, na praia de Copacabana, e manifestou apoio a Bolsonaro após a denúncia da Procuradoria-Geral da República no inquérito da tentativa de golpe. Na ocasião, o próprio ex-presidente usou as redes sociais para agradecer as “sinceras considerações” de Bacellar.

Na avaliação de integrantes da base do governo do Rio, uma alternativa que vem sendo amadurecida por Bacellar é de concorrer a uma vaga ao Tribunal de Contas do Estado.

A guinada ocorreu após desdobramentos da demissão do ex-secretário estadual de Transportes, Washington Reis (MDB), assinada por Bacellar no início de julho, durante uma viagem de Castro ao exterior. Interlocutores do senador Flávio Bolsonaro afirmam que ele se incomodou tanto com Castro, quanto com Bacellar no episódio, já que Reis é um aliado bem quisto pelo ex-presidente.

Depois disso, no dia em que o Supremo Tribunal Federal (STF) impôs a tornozeleira eletrônica a Bolsonaro, Flávio afirmou que “houve precipitação na escolha do Bacellar” como candidato ao governo, e que o assunto só seria tratado no ano que vem. Anteontem, durante um evento de inauguração de delegacias na Baixada Fluminense, Castro repetiu o discurso de Flávio.

Interlocutores do governador e do presidente da Alerj afirmam que o clima entre ambos está “péssimo”. A avaliação é de que Castro, percebendo o incômodo da família Bolsonaro com Bacellar, se distanciou do aliado e passou a trabalhar para manter a própria candidatura ao Senado — que hoje é alvo de concorrência de outros bolsonaristas do PL, como os deputados federais Sóstenes Cavalcante e Carlos Jordy e o senador Carlos Portinho.

— Bacellar nunca foi de direita. Ele escondeu Bolsonaro na campanha de 2022, e no ano passado apoiou Rodrigo Neves em Niterói, quando o candidato da direita era eu — criticou Jordy.

Procurado pelo GLOBO, Bacellar não quis comentar sua relação atual com a família Bolsonaro, tampouco o cenário da sucessão de Castro.

Outro elemento que agravou o impasse sobre a candidatura de Bacellar foi uma resolução divulgada anteontem pelo presidente do PL, Valdemar Costa Neto, proibindo integrantes do partido de articularem apoio a políticos de outras siglas para eleições estaduais. O objetivo é que a definição de todas as alianças fique centralizada na cúpula do partido, isto é, no próprio Valdemar e em Bolsonaro.

Fonte: O Globo