Avaliação, contrato temporário e revisão de carreiras: veja detalhes da proposta de reforma administrativa

Enviado Quinta, 17 de Julho de 2025.

Relator acredita em aprovação este ano. Segundo especialistas, propostas são fundamentais

Os detalhes da reforma administrativa apresentados na terça-feira pelo relator do grupo de trabalho sobre o tema, deputado Pedro Paulo (PSD-RJ), ao presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), contempla medidas como avaliação de desempenho de servidores e possibilidade de contratação temporária.

Segundo especialistas, propostas como essas e a reestruturação de carreiras são fundamentais para reorganização do Estado. A expectativa do relator é que os projetos sejam protocolados em agosto e provados pela Câmara dos Deputados já na retomada dos trabalhos legislativos este ano.

— É um calendário plenamente possível de acontecer — diz o parlamentar.

Pedro Paulo adiantou detalhes das propostas, embora a íntegra do texto não tenha sido divulgada. Os projetos contêm medidas como bônus para servidores que batem metas e podem tornar obrigatório o estabelecimento de objetivos para todos órgãos públicos, que precisarão rever seu planejamento rotineiramente.

Segundo Pedro Paulo, a reforma é importante na medida que visa à modernização do funcionalismo público e dos serviços prestados pelo Estado.

— O Estado tem um papel central na vida das pessoas, tem um papel também fundamental na economia. O jeito que o Estado funciona, a capacidade dele de prover bons serviços, qualidade do funcionalismo público, isso tudo é importante para a economia e a sociedade. É fundamental ter um novo marco regulatório que permita que o Estado seja mais justo e eficiente — disse.

Avaliação fundamental

Para o professor Carlos Ari Sundfeld, da Escola de Direito de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (FGV Direito SP), a implementação de uma avaliação de desempenho é fundamental.

— É necessário proibir o reajuste automático, promoção por antiguidade ou promoções automáticas. A regra geral no serviço público brasileiro tem de ser por promoções por avaliação de desempenho. O Congresso poderia ter um alto impacto se aprovasse uma emenda constitucional que vetasse as promoções automáticas — diz o especialista.

Também está previsto um Concurso Nacional Unificado (CNU) para cargos estaduais e municipais. Neste âmbito, o texto apresentado ao presidente da Câmara também prevê a obrigatoriedade de fazer um de planejamento de recursos humanos para a próxima década antes de abrir um concurso.

Desse modo, será feita uma avaliação se aquele cargo é necessário por um período temporário ou com uma carreira mais duradoura.

Para facilitar a organização pública, a reforma vai prever um cadastro nacional para contratação temporária de funcionários públicos, num modelo que será estendido a todos os entes da federação.

Para a professora de administração pública da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Alketa Peci, é fundamental que uma reforma passe por uma estruturação das contratações temporárias, na medida que esse tipo de admissão tem crescido no funcionalismo público:

— O risco dos temporários é você ter as pessoas sendo contratadas e descontratadas a cada troca do governo, que é perigoso, que dá uma vulnerabilidade de trabalho. Então, é ótimo trabalhar essa ideia, de formalizar e de olhar de forma lógica, porque os temporários são necessários.

Entre os eixos da reforma também estão a gestão, governança e a transformação digital do poder público. No eixo da transformação digital, por exemplo, o projeto prevê que seja estabelecido um prazo para que todos os brasileiros sejam registrados em uma identidade digital. Objetivo é facilitar processos públicos que são atrasados pela falta de documentação em dia de beneficiários.

Sistema digital

Outra ideia é o ato digital obrigatório, que torna compulsório que todos os atos expedidos nas três esferas de Poder Executivo (federal, estadual e municipal) sejam registrados em um sistema digital.

O deputado federal Pedro Campos (PSB-PE), que também participou do grupo de trabalho, avalia que, com a explicação das medidas à sociedade e líderes do Congresso, a aprovação pode ocorrer neste segundo semestre:

— Com as propostas apresentadas, há todo o segundo semestre deste ano para poder avançar na discussão. Se os textos forem bem recebidos pela sociedade e pelo Congresso Nacional, há a possibilidade de que possam avançar.

O vice-líder do governo na Câmara, deputado federal Rogério Correa (PT-MG), diz que enxerga um bom clima para aprovação no Congresso:

— Se for abandonada a ideia privatista e não se entrar nisso, eu acho que tem como aprofundar e avançar muito no segundo semestre, porque aí se larga o debate mais ideológico, e começa um debate pela melhoria.

Os detalhes do texto

1- CNU pode ser estendido a estados e municípios

O Concurso Nacional Unificado (CNU), criado pelo governo federal, pode ser ampliado para estados e municípios. O certame unificou diversas provas de órgãos diferentes em uma única avaliação, que será feita pela segunda vez neste ano.
Pela proposta, estados e municípios também poderão oferecer vagas pelo certame, de modo a reduzir custos e buscar servidores além das fronteiras.

2 - Tabela única de remuneração para servidores

Uma das ideias levadas pelo relator é criar uma tabela única de cargos e salários, semelhante a modelos já existentes em Portugal e nos Estados Unidos.
A proposta teria um período de transição e busca corrigir distorções salariais no serviço público, reduzir desigualdades entre as mesmas áreas de atuação e promover mais transparência sobre a remuneração dos funcionários estatais.

3 - Facilitação para contratar temporários e cadastro

A reforma pretende facilitar a contratação de funcionários de forma temporária. O próprio governo considera que essa é uma forma importante para contratar para algumas funções, como brigadistas.
O texto em discussão na Câmara prevê a adoção de um cadastro nacional para contratação temporária, em modelo que será estendido a todos os entes.

4 - Avaliação de desempenho de servidores

O projeto em discussão também trata da avaliação de desempenho, com base em um programa que já vem sendo tocado pelo governo. Uma das ideias é dar uma bonificação para quem cumprir metas.
O grupo de trabalho que analisa a reforma não discute demitir profissionais com baixa performance. O governo se diz contra a competição de servidores, mas a favor da avaliação de desempenho.

 

Fonte: O Globo