Trump ameaça taxar em 50% produtos brasileiros

Enviado Quinta, 10 de Julho de 2025.

Na manifestação mais contundente já feita pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump (Republicano), contra o governo brasileiro, a Casa Branca divulgou nesta quarta-feira (9) uma carta pública endereçada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), anunciando a imposição de uma tarifa de 50% sobre produtos importados do Brasil. A nova taxação entra em vigor no dia 1º de agosto.

Segundo o documento, os dois países tiveram anos para discutir o que o governo norte-americano considera uma relação comercial "muito injusta", marcada por políticas tarifárias e barreiras comerciais. "Por favor, entenda que o número de 50% é muito menor do que o necessário para garantir a igualdade de condições que precisamos com o seu país. E isso é necessário para retificar as graves injustiças do regime atual", diz o trecho.

Bolsonaro

Entre as justificativas apresentadas, Trump voltou a defender o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), atualmente réu no Supremo Tribunal Federal (STF), acusado de participar de uma tentativa de golpe de Estado em 2022. Trump classificou o julgamento como uma "caça às bruxas" que, segundo ele, "precisa terminar imediatamente."

A carta também menciona supostos "ataques insidiosos" do Brasil às eleições livres e à liberdade de expressão nos Estados Unidos. Como exemplo, Trump citou decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) contra plataformas de redes sociais norte-americanas, que foram multadas e banidas do mercado brasileiro por descumprirem ordens judiciais. A crítica coincide com uma ação da Justiça da Flórida que, na última segunda-feira (7), intimou novamente o ministro Alexandre de Moraes, em processo movido pela Trump Media & Technology Group (TMTG) e pela plataforma Rumble. Desde fevereiro, as empresas acusam o magistrado de "tentativa de censura."

Reciprocidade

Diante do anúncio, o presidente Lula convocou uma reunião ministerial de emergência na noite de quarta-feira (9). O encontro, que durou cerca de uma hora, contou com a presença do vice-presidente e ministro da Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin, e dos ministros Fernando Haddad (Fazenda), Mauro Vieira (Relações Exteriores), Gleisi Hoffmann (Relações Institucionais), Rui Costa (Casa Civil) e do assessor especial para Assuntos Internacionais, Celso Amorim.

Ao final da reunião, Lula subiu o tom: afirmou que o Brasil é um país soberano, com instituições independentes, e que não aceitará ser tutelado por ninguém. Disse ainda que qualquer elevação unilateral de tarifas será respondida com base na Lei de Reciprocidade Econômica, em vigor desde abril deste ano, e que teve como relatora uma oposicionista do governo, a senadora Tereza Cristina (PP-MS), que foi ministra da Agricultura no governo Bolsonaro. O presidente também rebateu a alegação de déficit comercial dos EUA em relação ao Brasil.

Sobre o julgamento dos envolvidos na tentativa de golpe de Estado, Lula declarou que se trata de uma questão interna. "É de competência apenas da Justiça brasileira e, portanto, não está sujeito a nenhum tipo de ingerência ou ameaça que fira a independência das instituições nacionais".

Mais cedo, o Itamaraty convocou o encarregado de Negócios da embaixada dos EUA, Gabriel Escobar, para prestar esclarecimentos sobre uma nota emitida pela representação diplomática em apoio a Bolsonaro, reiterando o posicionamento de Trump.

Eleições 2026

Para o cientista político e professor da ESPM, Fabio Andrade, as declarações de Trump devem ser analisadas sob duas óticas: a comercial e a política, especialmente no contexto do discurso da direita e da liberdade de expressão.

Ele avalia que a defesa de Bolsonaro é parte de uma estratégia ideológica aliada à pressão econômica. "É um complemento de ideologia com economia. Então, na medida em que o governo norte-americano se sente ameaçado, vai direcionar mais a carga."

Fonte: Correio da Manhã