Azeite? Celular? Saiba quais são os produtos mais falsificados no país e como identificar cópias

Enviado Segunda, 02 de Junho de 2025.

Mercado ilegal provocou perdas de R$ 327 bilhões a 15 setores no país em 2024

De bolsas de grife ao sabão em pó, os produtos falsificados à venda no Brasil formam um cardápio cada vez mais extenso. A prática se sofisticou nos últimos anos, na avaliação de entidades que a combatem, com a entrada de facções e milícias, e expandiu mercado via marketplaces no ambiente digital.

— Falsificam tudo que tem valor comercial. No Brasil, historicamente, fabricam muitas roupas falsificadas, pois é mais fácil. Celulares e acessórios de telefonia também são muito comercializados, mas a maioria vem de fora do país — explica o delegado Victor Tuttman, da Delegacia de Repressão aos Crimes contra a Propriedade Imaterial (DRCPIM): — E, recentemente, tem chamado a atenção falsificações de azeite e de café, devido ao aumento de preço deles. Na maioria desses casos, fazem misturas ou colocam um produto de menor qualidade em um rótulo de maior rentabilidade.

Os falsificados expõe os consumidores a riscos, portanto. Sem passar pelo controle de qualidade de órgãos oficiais, um eletrônico, por exemplo, pode ter defeitos camuflados na venda e parar de funcionar rapidamente. Já alimentos e medicamentos representam perigos à saúde.

— Não se sabe a origem de um produto falsificado, nem a composição dele. No caso de um medicamento, pode não ter a eficácia terapêutica, causar reações adversas e até gerar intoxicação — alerta Aline Borges, presidente do Instituto Municipal de Vigilância Sanitária (Ivisa-Rio).

Órgãos como Procons, Vigilância Sanitária e polícias fazem operações de combate a falsificados a partir de denúncias e até monitoramento de queixas na internet. Mas ressaltam que é importante que a população colabore, não comprando nesse mercado. O EXTRA traz, a seguir, dicas de como diferenciar produtos originais e falsificados — visto que algumas reproduções podem ser bem similares ou mesmo utilizar embalagens originais.

Temos o Rota Segura, um programa que monitora o mercado por cruzamento de palavras-chave na internet. Se alguém publica que foi num restaurante e acha que o vinho não era legal, pois acordou com uma dor de cabeça insuportável, ele busca se há outros casos naquela geolocalização. E aí a gente rastreia a rota de consumo.

O Comando Vermelho precisa lavar dinheiro, e essa é uma das formas. Há um aumento de estabelecimentos comerciais dedicados à venda de produtos falsificados em áreas dominadas por facções criminosas. Isso por que elas têm facilidade de vender lá dentro, e o Estado tem dificuldade de acessar para reprimir.

Perdas de R$ 367 bilhões no Brasil

A falsificação é uma das práticas do mercado ilegal — assim como o contrabando. Segundo o Fórum Nacional Contra a Pirataria e a Ilegalidade (FNCP), este mercado provocou perdas de R$ 327 bilhões, em 2024, para 15 setores produtivos.

  • Vestuário: R$ 87 bilhões
  • Bebidas alcoólicas: R$ 85 bilhões
  • Combustíveis: R$ 29 bilhões
  • Material esportivo: R$ 23 bilhões
  • Higiene pessoal, perfumaria e cosméticos: R$ 21 bilhões
  • Defensivos agrícolas: R$ 20 bilhões
  • Ouro: R$ 12 bilhões
  • Óculos: R$ 10 bilhões
  • TV por assinatura: R$ 12 bilhões
  • Óculos: R$ 10 bilhões
  • Celulares: R$ 9 bilhões
  • Cigarros: R$ 8 bilhões
  • Audiovisual (filmes): R$ 4 bilhões
  • Perfumes importados: R$ 1 bilhão
  • PCs: R$ 1 bilhão
  • Brinquedos: R$ 677 milhões

Outros 35 são impactados, mas não enviaram estimativas.

— As perdas quadruplicaram nos últimos dez anos. Isso prejudica o desenvolvimento do país, pois os setores deixam de gerar emprego e investimentos. Além disso, foram perdidos R$ 140 bilhões em tributação — diz Edson Vismona, presidente do FNCP.

A fuga da tributação, aliás, é um dos motivos porque o falsificado consegue ser tão mais barato do que o original. E ainda gerar um lucro alto.

— O mercado ilegal não investe em qualidade, usa mão de obra análoga à escrava, a matéria-prima não tem qualidade, e não é pago imposto. São grandes vantagens competitivas — diz Edson, exemplificando: — Um cigarro legal paga mais de 70% de imposto. Por isso, em alguns territórios de milícias, se proíbe a comercialização de cigarros que não sejam os deles, e tem sido uma das principais falsificações no Rio.

Como diferenciar originais e falsificados

Oferta - Em primeiro lugar, fique atento aos preços. Preços bem abaixo dos de mercado podem ser um alerta de produto falsificado, pirateado ou objeto de furto, roubo ou contrabando.

Confiança - Compre em loja confiáveis, presencialmente ou pela internet. Escolha comércios formais e de renome, que garantem a procedência dos produtos. Na internet, no caso de lojas menos conhecidas, pode-se pesquisar a reputação em sites como Consumidor.gov.br ou Reclame Aqui antes de fechar o negócio. Já os marketplaces têm ferramenta de avaliações e comentários sobre cada vendedor.

Licença - Todo estabelecimento comercial no município do Rio precisa ter licenciamento sanitário, e este documento deve estar fixado em local de fácil visualização pelo cliente. Este pode ser um sinal de que o negócio segue as regras.

Ilegalidade - Não se iluda por produtos oferecidos como réplicas, similares, equivalentes, com as mesmas funções e atributos do original.

Exame minucioso - Examine cuidadosamente o produto, buscando o fabricante, informações de procedência, composição, lote e validade. Verifique a qualidade. Produtos falsificados e piratas são, muitas vezes, mal-acabados e apresentam falhas de fabricação, como rebarbas, pontas e costuras soltas.

Rotulagem - O rótulo deve estar em português, sem desgaste, rasgos ou amassados. Desconfie se houver erros de ortografia, gramática ou design, pois pode ser um indicativo de falsificação. No caso de bebidas alcoólicas, o rótulo deve conter as advertências legais sobre o consumo excessivo.

Embalagens - Perceba na embalagem se há sinais de uso anterior ou até riscos e rachaduras. Bebidas devem estar com lacre de segurança intacto.

Volume - Preste atenção se o volume de líquido na garrafa está muito abaixo ou acima do padrão esperado. Marcas reconhecidas têm rigoroso controle de qualidade, o que garante a padronização.

Certificação - Confira se o produto tem selos de autenticidade (para tênis, relógios, bolsas e cosméticos), certificação (para alimentos, brinquedos, lâmpadas) e homologação (para celulares) por órgãos reguladores, como Inmetro, Anvisa e Anatel. A Associação Brasileira da Indústria do Café (Abic) tem um selo para este tipo de produto, que assegura ao consumidor que ele passou por seu controle de qualidade.

Bebidas - Nas bebidas, verifique o selo do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), que é obrigatório no Brasil. Da mesma forma, procure o selo do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), pois é outro indicativo de que o produto foi registrado e aprovado pelo respectivo órgão competente.

Comprovantes - Solicite os documentos relacionados à compra, como notas fiscais e certificados de garantia. Nos casos de compras feiras fora de um estabelecimento físico, o consumidor pode exercer o direito de arrependimento e devolver a mercadoria em até sete dias após a entrega.

Atendimento - Caso o consumidor desconfie da procedência de algum produto, ele pode reclamar aos canais de atendimento da Vigilância Sanitária e do Procon Carioca (pela Central 1746), à Sedcon (pelo WhatsApp 21-99336-4848) e ao Procon-RJ (disque 151 ou WhatsApp 21-98104-5445).

Veja falsificações apreendidas no Rio em 2025

  • Sabão em pó - Em 2024, foram apreendidas cerca de 90 toneladas pela Sedcon e o Procon-RJ.
  • Roupas - No início deste mês, a operação Veritas, da Receita Federal, Sedcon e PMERJj, apreendeu mais de cem mil itens em quatro lojas de vestuário, calçados, acessórios e perfumes no Rio. Eram imitações de Nike, Adidas, Tommy Hilfiger, Armani, Gucci, Lacoste, Louis Vuitton, entre outras marcas.
  • Azeite - Em Rio das Ostras, este ano, a Sedcon encontrou cem litros de azeite falsificado e contrabandeado em um depósito de bebidas.
  • Ozempic - Em 2024, o Ivisa-Rio encontrou indícios de falsificação do medicamento Ozempic, injetável, em uma farmácia.
  • Estética - Em 2025, até o momento, o Ivisa-Rio apreendeu 27 produtos falsificados em estabelecimentos de estética, como ácido hialurônico, pomadas modeladoras, balm e gel pós barba, óleo de barba e talco.
  • Materiais escolares - A Pcerj apreendeu mais de seis toneladas de produtos escolares falsificados com a marca da DC Comics, como mochilas com símbolos e imagens do Batman, na última semana.
  • Marketplaces - No último ano, o Procon Carioca notificou sete grandes plataformas de e-commerce, após encontrar nelas diversos produtos pirateados, como fones de ouvido, carregadores de celular, brinquedos, perfumes, copos térmicos e mais.

Fonte: Extra