'Jogo político': como a Cedae virou moeda de troca e Pampolha saiu do caminho de Bacellar na corrida para o governo do Rio
Enviado Sexta, 30 de Maio de 2025.Mais do que uma vaga no Tribunal de Contas do Estado (TCE), a articulação que tirou o vice-governador do Rio, Thiago Pampolha (MDB), do caminho da candidatura do deputado estadual Rodrigo Bacellar (União Brasil) a governador, também envolveu a entrega de “porteira fechada” da Companhia de Água e Esgoto do Rio de Janeiro (Cedae) e a promessa de financiamento de campanhas de outros familiares do jovem emedebista na eleição do ano que vem.
Foi prometido a Philipe Campello, atual superintendente da Vice-governadoria, a presidência da estatal. Outro nome colado a Pampolha, o coronel do Corpo de Bombeiros Leandro Monteiro também vai ganhar uma diretoria na Cedae. Mas afinal, o que significa comandar a Cedae hoje, mesmo depois da concessão do saneamento feita pelo governador Cláudio Castro em 2021?
A empresa, que segue responsável pela captação e tratamento da água no estado, está no azul depois de anos no vermelho. As concessionárias ainda têm que comprar água do estado para distribuir à população e, no primeiro semestre do ano passado, a Cedae teve lucro de R$ 443 milhões, 332% acima do mesmo período do ano anterior. Em breve, a empresa divulgará o balanço completo do ano de 2024 com superávit acima de R$ 1 bilhão.
No comando da estatal, o grupo político de Pampolha poderá nomear dezenas de cargos por fora do Diário Oficial. Além disso, também vai cuidar do setor jurídico da estatal, responsável por contratos milionários com escritórios de advocacia. Durante o governo Wilson Witzel, uma nota do colunista Ancelmo Gois deu a dimensão do tamanho do setor. “A Cedae oficializou a renovação dos contratos com quatro escritórios de advocacia. Vai gastar, veja só, R$ 12,6 milhões de reais pelos próximos 12 meses. Dá a média de R$ 1,052 milhão, por mês, somente com advogados para defendê-la”, escreveu.
Em entrevista para a newsletter no fim de março, o vice-governador havia negado aceitar qualquer negociação e deixou claro que não arredaria o pé da condição de candidato à sucessão de Cláudio Castro: "Achavam que eu seria um vice decorativo", disse.
Nas semanas seguintes, contudo, Pampolha sucumbiu ao protagonismo do pai, o empresário Domingos Gonçalves dos Santos, que passou ele próprio a articular a saída do filho do jogo eleitoral.
Domingos, de 63 anos, é um personagem muito maior na cena política e empresarial do Rio que o herdeiro, de 38. Em 2023, o patriarca declarou ser sócio de 21 postos de gasolina e patrimônio de R$ 18.425.519,73. Os dados estão públicos em processos administrativos de recadastramento ou abertura de novos postos no Sistema Eletrônico de Informações (SEI) do governo do estado. Já Pampolha, na declaração de bens entregue ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em 2022, informou ter apenas três postos de gasolina e patrimônio de R$ 416.455,10.
Domingos passou a aderir à agenda Bacellar em meio a um fato que chamou a atenção da classe política do Rio: uma operação de fiscalização de postos de gasolina feita pelo governo do estado logo depois da entrevista de Pampolha para a newsletter. Embora não tenha sido alvo dessa ação, a família já foi investigada pelo Instituto Estadual do Ambiente (INEA) em 2020. Na ocasião, nove estabelecimentos dos Pampolha foram autuados por irregularidades como falta de licenças ambientais ou desrespeito a normas de lançamento de efluentes líquidos com água e óleos.
Na negociação com Bacellar, que também teve a participação do ex-governador Sérgio Cabral, atualmente consultor do parlamentar, Domingos também arrancou o compromisso de ajuda financeira para dois outros membros da família que poderão se candidatar em 2026. Tanto a irmã (dona de postos de gasolina) quanto o marido de uma prima (proprietário de uma hamburgueria) de Pampolha manifestaram interesse de concorrer a deputado federal ou estadual no ano que vem, com a saída do emedebista da vida partidária.
Procurado para falar sobre as negociações que envolveram a sua desistência de concorrer ao governo do Rio, Pampolha escreveu uma nota: "Não integro mais o governo do estado. Nomeações e indicações são de competência exclusiva do governador, não tenho qualquer participação ou influência nesse processo."
O ex-vice governador participa nesta quinta-feira, às 17h, da cerimônia de posse como conselheiro do TCE.
Fonte: O Globo