Indicação de vice do Rio para TCE abre caminho para presidente da Alerj disputar governo
Enviado Quarta, 21 de Maio de 2025.Governador viabiliza frente que pode unir União Brasil, PL e MDB contra Eduardo Paes
Na maior parte dos Estados em que os governadores não vão poder disputar a reeleição, a tônica passa por preparar o vice para concorrer em 2026. No Rio, porém, a situação é inusitada. O governador Cláudio Castro (PL) indicou o vice, Thiago Pampolha (MDB), que tinha pretensões de concorrer à sucessão, para uma vaga no Tribunal de Contas do Estado (TCE-RJ). A indicação tirou Pampolha da disputa e abriu caminho para o presidente da Assembleia Legislativa do Estado, Rodrigo Bacellar (União Brasil), concorrer no ano que vem, já no cargo de governador, a outro mandato no Palácio Guanabara, a sede do Executivo estadual, uma vez que Castro tende a renunciar ao governo até abril de 2026 para disputar vaga no Senado.
Pelo acerto, Bacellar se tornaria o principal adversário do prefeito Eduardo Paes (PSD) na eleição para governador no Rio. Paes, embora negue a candidatura, vem preparando o vice, Eduardo Cavaliere (PSD), 30 anos, para assumir a prefeitura. Perguntado como estão as conversas para 2026 com o prefeito, Cavaliere desconversou: “Só falamos sobre a prefeitura do Rio e os cariocas.” Paes, que é favorito nas pesquisas, não comentou.
Nesta terça-feira (20), a indicação de Pampolha para o TCE foi aprovada, por unanimidade, pela Comissão de Constituição e Justiça e pela Comissão de Normas Internas e Proposições Externas da Alerj. Agora, Pampolha terá que ser aprovado pelo plenário da Casa, em votação prevista para esta quarta-feira (21). “É uma decisão de vida. A decisão de vida, ela não toma como base situações fáticas que acontecem em determinados momentos. Leva toda uma conjuntura. Decidi tocar minha vida como conselheiro do Tribunal de Contas acreditando que essa é a contribuição que melhor posso dar a partir desse momento para servir o povo do estado do Rio de Janeiro”, disse Pampolha.
A indicação do vice para o TCE havia sido oficializada por Castro na segunda-feira (19) em mensagem ao Legislativo publicada em edição extra do Diário Oficial do Estado. Castro e Pampolha mantinham uma relação conflituosa e chegaram a romper no começo de 2024, após Pampolha ter deixado o União Brasil para se filiar ao MDB sem comunicar ao chefe. Em março deste ano, Castro disse ao Valor que Pampolha só seria governador se ele (Castro) infartasse e morresse.
Pampolha, 38 anos, resistia a deixar o posto de vice e se tornar conselheiro por entender que a saída encerraria precocemente a trajetória política dele. Nos últimos dias, no entanto, sob pressão dos aliados de Castro, o vice-governador já havia admitido a possibilidade de aceitar a proposta. Por meio de nota, Pampolha afirmou que recebeu com “honra e responsabilidade” a indicação feita pelo governador para ocupar a vaga no TCE e que seguirá “dedicado ao exercício de suas funções no Governo do Estado” até a nomeação.
A negociação para Pampolha se tornar conselheiro no TCE foi antecipada por “O Globo”. Segundo o jornal, Bacellar teria ambição de assumir o posto ainda este ano, para ganhar visibilidade com grandes eventos como o réveillon e o carnaval. Natural de Campos dos Goytacazes, no Norte fluminense, Bacellar é pouco conhecido da população.
O cientista político e professor da PUC-Rio Ricardo Ismael diz que a aproximação pragmática de Castro do vice tem como objetivo atrair o MDB para a chapa de 2026. Para o especialista, a queda de popularidade do governador não permite que ele dispense o vice ou qualquer partido para enfrentar Paes, reeleito prefeito da capital em 2024 com uma coligação formada por 12 legendas e apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
“Além das dificuldades naturais de montar uma chapa competitiva contra Eduardo Paes, o governador está mal avaliado há algum tempo e não tem tanta força como em 2022. Se Castro e o PL querem montar um palanque competitivo, vão ter que conversar com o MDB e outras forças políticas do Estado. A perspectiva pragmática fala mais alto do que qualquer atrito ou afastamento”, afirma.
Outro emedebista, porém, tem dito que quer se candidatar: o secretário estadual de Transportes, Washington Reis, presidente do MDB no Rio e ex-prefeito de Duque de Caxias, segundo colégio eleitoral do Estado, na Baixada Fluminense. “Quero ser candidato. É o nosso pleito original e estamos firmes nessa caminhada”, afirmou ao Valor.
O ex-prefeito de Caxias declarou que irá apoiar a candidatura de Castro ao Senado mesmo com a preferência declarada do governador pelo nome de Bacellar, e negou a possibilidade de ser candidato a vice de alguma chapa em 2026: “Chance zero de ser vice de alguém. Ou venho cabeça de chapa, ou vou cuidar dos meus netos”, disse. Procurados, o governo do Estado e o presidente da Assembleia Legislativa disseram que não comentariam.
Pesa contra a empreitada de Reis uma condenação no Supremo Tribunal Federal (STF) em um processo por crime ambiental em Caxias, a mesma que o impediu de ser vice de Castro em 2022. Segundo “O Globo”, um recurso apresentado pelo ex-prefeito está em análise no STF, com placar de 3 a 1 contra o político e pedido de vista pelo ministro Gilmar Mendes. Reis afirmou que é inocente e disse que tem “muita tranquilidade” de enfrentar o processo.
Para Mayra Goulart, professora do departamento de Ciência Política da UFRJ, a costura de Castro para fazer de Bacellar seu sucessor e colocar Pampolha no TCE é uma tentativa do governador de manter o peso no campo político fluminense, como fiador da ligação entre União Brasil, MDB e PL.
Ela ressalta que o PL tem atualmente dois senadores que podem tentar a reeleição ano que vem no Rio, Flávio Bolsonaro e Carlos Portinho. Para sair candidato pelo partido, portanto, Castro deve buscar se cacifar em uma articulação envolvendo as principais forças da direita fluminense. “Castro quer fazer valer o nome dele como articulador”, diz.
Fonte: Valor Econômico