Como em 2022, casos na Justiça rondam sucessão de Cláudio Castro ao governo do Rio

Enviado Segunda, 19 de Maio de 2025.

Washington Reis volta a se lançar ao posto, apesar de condenação, e recurso do caso Ceperj mira Bacellar e Pampolha no TSE

Enquanto negociam espaços para alinhavar a construção de uma candidatura ao governo do Rio em 2026, os principais cotados para a sucessão de Cláudio Castro (PL) enfrentam pendências na Justiça — algo que já fez o governador precisar mudar de planos na eleição de 2022. Recursos nos tribunais superiores ainda travam a vida política de Washington Reis (MDB), que voltou a se colocar como candidato, Rodrigo Bacellar (União), presidente da Assembleia Legislativa e hoje o mais cotado para encarar o jogo, e o vice-governador Thiago Pampolha (MDB), que tende a desistir da empreitada ao aceitar uma cadeira no Tribunal de Contas do Estado (TCE).

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A situação de Reis é a mais complicada. Um recurso do presidente estadual do MDB no âmbito da condenação que o tornou inelegível por crime ambiental em Duque de Caxias, município da Baixada Fluminense que governou por dois mandatos e meio, está em análise no Supremo Tribunal Federal (STF). O placar no momento é de três a um contra Reis, mas o ministro Gilmar Mendes pediu vista — o que significa mais tempo para analisar o caso. Quem comanda a defesa do ex-prefeito é Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, um dos criminalistas mais famosos de Brasília.

— Sou um cara injustiçado, mas confio na Justiça e no bom senso das pessoas de bem. Sou candidato a governador — afirma Reis, hoje secretário estadual de Transportes.

O cacique emedebista, que tem como ativo a força política no segundo maior colégio eleitoral do estado e a ótima relação com a família Bolsonaro, busca se desvencilhar do projeto de Bacellar, a despeito da lealdade a Castro.

— Não vivo em função do Bacellar, tenho vida própria. O governador vai apoiá-lo, isso é fato, e mesmo assim eu vou apoiar o governador para o Senado — diz Reis.

Na política, o movimento de Reis é visto como uma forma de valorizar o passe do MDB nas negociações para 2026. Em tese, o PL de Castro e do ex-presidente Jair Bolsonaro teria a prerrogativa de indicar o vice da eventual candidatura de Bacellar, mas já caminha para emplacar as duas vagas para o Senado na aliança: além de Castro, Flávio Bolsonaro está em fim de mandato e tentará ser reconduzido.

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Reis, no entanto, nega o interesse em assumir a vice de alguma chapa — o que tentou em 2022, mas foi impedido pela Justiça por causa da mesma condenação. Depois de a inelegibilidade do emedebista ser confirmada naquele ano, ele foi trocado por Pampolha, à época filiado ao União Brasil.

Os outros cotados para a sucessão de Castro contra a provável candidatura do prefeito Eduardo Paes (PSD) ainda estão, junto com o próprio governador, no aguardo do julgamento de recursos do caso Ceperj no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). No Rio, o Tribunal Regional Eleitoral formou maioria favorável à cúpula do poder estadual na investigação em que o Ministério Público acusa Castro, Bacellar e Pampolha, entre outros, de abuso de poder político e econômico. Derrotada pelo placar apertado de quatro a três, a Procuradoria recorreu à Corte superior para tentar cassar os mandatos.

No processo, o MP elenca supostos desvios com finalidade eleitoral em projetos e programas da Fundação Ceperj e da Uerj que somam quase R$ 1 bilhão. O governo, segundo os investigadores, teria se aproveitado de cargos “secretos” nos órgãos em prol de benefícios meramente eleitorais — o que a gestão Castro e Bacellar negam. Os nomeados para funções na administração pública seriam, na verdade, pessoas pagas para atuar como cabos eleitorais.

Também pendente de recurso no TSE está outro pedido da Procuradoria Eleitoral, este focado em supostos gastos ilegais de R$ 10 milhões pela chapa Castro-Pampolha na campanha de 2022. Assim como no caso Ceperj, o TRE discordou do MP, que recorreu à instância superior.

Bacellar e Pampolha — 45 e 38 anos, respectivamente — são considerados jovens para os padrões da política. É por isso que causou surpresa, nas últimas semanas, a tendência de o vice-governador aceitar a indicação para o TCE, tribunal visto como uma “aposentadoria” dos sonhos para políticos, dado que o cargo é vitalício e oferece salário de R$ 39,7 mil.

A cadeira no TCE fica aberta a partir de amanhã, depois da aposentadoria do conselheiro José Maurício Nolasco, e a vaga é uma das que são preenchidas por indicação do governador. O envio do nome de Pampolha por Castro passou a ser considerado certo, apesar de ainda não anunciado publicamente.

Articulações

A família de Pampolha construiu patrimônio milionário por meio de dezenas de postos de gasolina, e as ambições políticas do vice-governador, como ele próprio já falou, pareciam maiores do que o desejo por um cargo que, a despeito de ser bem remunerado, é pouco sedutor do ponto de vista de poder, realização política e popularidade.

Antes de entrar em atrito com Castro, no início de 2024, o vice-governador chegou a ser secretário estadual de Meio Ambiente. Sob a alçada da pasta fica o Instituto Estadual do Ambiente (Inea), que já autuou alguns postos da família de Pampolha no passado por supostas irregularidades. Em abril deste ano, o emedebista negou que a pressão para abrir mão de continuar na cadeira de vice e de se candidatar no ano que vem tivesse relação com uma suposta ameaça de “devassa” nos negócios familiares.

— De forma alguma. Ameaças de qualquer tipo nunca me intimidaram e não seria agora (que intimidariam) — disse ao GLOBO.

Com o vice no TCE, Castro abre espaço para Bacellar pavimentar a candidatura de 2026, já que Pampolha se colocava como interessado em ocupar a cadeira de governador quando o chefe do Guanabara se desincompatibilizasse no ano que vem para poder disputar o Senado.

O presidente da Alerj, que agora ficaria em primeiro na linha sucessória, não esconde de aliados que só se considera apto a vencer a disputa contra Eduardo Paes caso esteja no poder meses antes da eleição. O prazo final para Castro deixar o cargo é abril, mas Bacellar preferiria até que ele o fizesse antes, apesar de o governador não ver com bons olhos um abandono tão precoce.

Desconhecido do eleitorado, o político de Campos dos Goytacazes vislumbra como cenário ideal uma passagem de poder ainda este ano, situação que o colocaria como governador durante grandes eventos como o réveillon e o carnaval.

Fonte: O Globo