Chineses recuam após ‘guerra das blusinhas’ no país

Enviado Quarta, 14 de Maio de 2025.

Pela primeira vez desde a onda de entrada de marketplaces estrangeiros no Brasil, esse mercado perdeu fôlego em 2024

Pela primeira vez desde a onda de entrada de marketplaces estrangeiros no Brasil, esse mercado perdeu fôlego em 2024, e o tráfego de clientes continua a desacelerar neste ano, após recente aumento na cobrança de ICMS pelos Estados. Varejistas nacionais aceleraram a expansão no mesmo período.

A tradicional pesquisa anual da Nielsen IQ (NIQ) sinaliza o desaquecimento depois da queda de braço, de 2023 a 2024, entre grupos asiáticos e empresas nacionais. Redes brasileiras criticavam a isenção tributária nos envios, que ficou válida até parte do ano passado.

Consumidores foram questionados se realizaram alguma compra internacional por essas plataformas em 2024, e 53,2% confirmaram que fecharam transações, frente aos 69% no ano anterior e aos 72% em 2022, quando a informação foi incorporada à pesquisa.

AliExpress e Shein perderam mais a preferência em 2024 entre todas as plataformas, na lista dos sites mais utilizados pelos entrevistados. A taxa caiu de 44% para 41% entre 2023 e 2024 para o AliExpress, do grupo chinês Alibaba, e na chinesa Shein de 38% para 35,7% (eram válidas múltiplas respostas). Procuradas, as empresas não se manifestaram.

“As compras em sites internacionais apresentaram retração [em 2024 frente a 2023] e houve uma diminuição na frequência de consumo [em transações] acima de quatro vezes ao ano”, relata o trabalho, em sua 51ª edição.

Para essa regularidade, o total de compradores caiu de 20% para 18,2%, e para de 6 a 10 compras ao ano, diminuiu de 22% para 19,4%. Porém, cresceu o percentual que faz só uma compra ao ano, de 17% para 18,7%.

Após agosto de 2024, a compra no exterior tornou-se mais cara com a entrada em vigor do imposto de importação de 20% sobre a venda, como definido pelo governo, e o fim da isenção nos envios de até R$ 50. Acima de US$ 50, foi mantida a regra dos 60% de imposto. Isso passou a valer para as empresas do programa Remessa Conforme, que antecipam a nacionalização de mercadorias.

Só que em 2025, o ICMS que também incide na compra subiu de 17% para 20% em vários Estados, co objetivo de elevar arrecadação. Esse imposto precisa ser pago pelo consumidor (que na operação, é o importador da mercadoria), encarecendo mais o envio.

Segundo relatório do BTG, de abril, dados da Receita Federal mostram declínio “sequencial e acentuado” nas importações de itens de até US$ 50 desde agosto. Não há queda na venda, mas desaceleração no ritmo de expansão mensal.

Pesquisa do Valor no site do Fisco, na área de balança de pagamentos, mostra que, de janeiro a março de 2025, foram US$ 2,47 bilhões em importações de baixo valor, versus US$ 2,7 bilhões um ano antes.

Considerando o efeito do câmbio, o valor é maior neste ano (R$ 14,3 bilhões em 2025, versus R$ 12 bilhões em 2024). Só que neste ano, há mais uma empresa a dividir esse valor, pois a Temu entrou no país e tem crescido de forma agressiva.

A AliExpress informou que “há 15 anos no Brasil, segue na sua missão de globalizar e democratizar o comércio, dando oportunidade para que os consumidores -- independentemente de suas classes sociais - possam continuar a ter acesso a produtos do mundo todo, com qualidade e a preços justos”.

Esse movimento acontece num momento de mercado ainda pressionado pela guerra tarifária entre China e EUA, que leva os lojistas a tentarem compensar recuo na demanda em outros países. Brasil e México, nesta ordem, são os dois maiores mercados on-line da região. Ontem, Trump informou redução da tarifa de 125% para 54% nos envios de até US$ 800 da China. Apesar do recuo, até 2024, existia isenção.

A pesquisa da NIQ ainda informa alta de 19,1% nas vendas do on-line em 2024 versus 2023, frente a uma base fraca de comparação. Em 2023, a alta foi de 0,7% e em 2022, de 1,6%, anos duramente afetados pela alta dos juros.

Para 2025, mesmo após a escalada dos juros, que afeta crédito on-line, a Abcomm, associação brasileira de comércio eletrônico, prevê alta de 15% nas vendas, acima dos 10% em 2024. De janeiro a março, no on-line, Renner, C&A e SBF avançaram 15%, 24% e 25% respectivamente. Magazine Luiza recuou 2,3%. RD subiu 40%.

Fonte: Valor Econômico