Mercado de carbono abre oportunidades de trabalho no Brasil

Enviado Segunda, 07 de Abril de 2025.

Companhias buscam profissionais para projetos de redução de emissões, adoção de fontes de energia limpa e negociação de créditos

Uma nova indústria “verde” deslancha no Brasil e começa a recrutar profissionais para posições estratégicas. O mercado regulado de carbono, que permite que empresas e países compensem as emissões de gases de efeito estufa (GEEs) por meio da compra de créditos vinculados a iniciativas de cuidado ambiental, ganhou um projeto de lei do governo brasileiro no final de 2024 e deve estar funcionando a todo vapor em 2030.

De acordo com estimativas da Câmara de Comércio Internacional (ICC Brasil), o país pode receber até US$ 120 bilhões em recursos destinados ao setor nos próximos cinco anos, com a possibilidade de gerar 3,4 milhões de postos de trabalho, até 2040. 

Os profissionais do segmento, que existe em outros países há mais de 20 anos, são recrutados para implementar projetos focados em diminuir as emissões de GEEs, como a adoção de fontes de energia limpa e ações de reflorestamento. Também podem ser encarregados para quantificar as emissões produzidas pelas organizações, orientar as lideranças sobre a adoção de práticas sustentáveis e promover a negociação de créditos de carbono entre empresas.

“Nos últimos dois anos, tivemos um aumento de 18% no número de projetos de recrutamento de candidatos para a área”, revela Kleber Bonancio, gerente sênior associado da Talenses, de seleção de executivos, que atua com contratações para o mercado de carbono há seis anos. “O número reflete o crescente interesse pelo tema no Brasil, especialmente após o avanço das discussões sobre o mercado regulado, criado oficialmente em 2024, e com as estimativas de aportes no setor.”

Bonancio diz que o horizonte de negócios aquece o mercado de trabalho, incentivando mais organizações a compor equipes dedicadas. “As contratações são realizadas principalmente para companhias dos setores de energia [renováveis e petróleo e gás], agronegócio, indústrias químicas e manufatureiras”, afirma. Mas, explica o consultor, como o segmento é novo, as operações devem enfrentar desafios para preencher posições, devido à escassez de currículos qualificados na área. “Isso faz com que a procura por talentos seja altamente competitiva, com a exigência de currículos com habilidades técnicas.” 

É o caso de Maria Belen Losada, head de produtos de carbono do Itaú Unibanco, admitida em 2022. Com mais de 20 anos de experiência na tesouraria de bancos como BNP Paribas e Morgan Stanley, a executiva argentina baseada em São Paulo atua no mercado de carbono há três anos e foi procurada pelo time de RH da instituição financeira para ocupar o posto. “Entre as minhas atividades estão a assessoria na geração de projetos de carbono, comercialização dos créditos e no ‘advocacy’ [defesa] do mercado”, diz a graduada em economia, com especialização em finanças sustentáveis pela Universidade de Cambridge.

Um dos feitos já realizados por Losada foi a criação de uma plataforma de negociação e custódia de créditos de carbono, junto a oito bancos internacionais, como BNP, UBS e BBVA. “O objetivo é conectar a demanda e a oferta de créditos entre os clientes dos bancos”, explica.

A gestora, que lidera quatro funcionários, acredita que o setor no Brasil precisa de reforço de pessoal. “As novas obrigações de reporte contábil das emissões em companhias abertas, além da necessidade de fazer planos de riscos climáticos vão demandar especialistas”, afirma. “Serão necessários profissionais de mensuração de emissões de gases de efeito estufa, de consultoria de transição climática, de direito ambiental e internacional, além de cientistas de dados.”

No escritório Bichara Advogados, a sócia Patrícia Mendanha Dias, mestre em engenharia ambiental, já trabalha com ações ligadas ao segmento há cerca de dez anos. “Meu exercício profissional como advogada sempre foi na área ambiental e migrei para a pauta climática por conta da importância do assunto e do crescimento das demandas dos clientes”, justifica.

Dias presta consultoria jurídica na área ambiental e apoia empresas no desenho de operações de transação de créditos, revisão de contratos e acompanhamento da legislação específica.

Com uma equipe de cinco funcionários exclusivos para projetos de carbono, ela tem se dedicado a frentes de trabalhos no Norte do país, que unem investidores e comunidades ribeirinhas. “Para desempenhar bem a função, é importante estar preparada para mudanças”, diz. “As normas do setor e as exigências para a viabilidade dos projetos são atualizadas constantemente. Nesse campo, saber direcionar sugestões propositivas é fundamental.”

Soraya Dias Pires, head de descarbonização da multinacional brasileira de soluções ambientais Ambipar, acrescenta que é preciso acumular competências como conhecimento técnico e visão estratégica. “Além de ter capacidade para conectar sustentabilidade, viabilidade econômica e desenvolvimento de negócios”, diz a engenheira agrônoma, contratada pela empresa por meio de um headhunter, em 2022.

A experiência em inovação e conhecimentos sobre a economia de baixo carbono me abriram caminhos para entrar nessa indústria, afirma a executiva que, antes da Ambipar, era gerente de desenvolvimento de negócios na BP Bunge Bioenergia, do ramo sucroalcooleiro. “Trabalhei com a estruturação de projetos de impacto ambiental e financeiro, vinculando a regeneração ambiental com a economia sustentável”, explica.

Com reporte direto ao CEO Tércio Borlenghi Jr., a gestora comanda uma equipe de 70 pessoas e é responsável por tarefas como certificação e comercialização de créditos de carbono, desenvolvimento de planos de descarbonização corporativa e aplicação de geotecnologias para o monitoramento de projetos. “Nossa meta é garantir que a descarbonização seja acessível para as empresas, com fontes de financiamento que viabilizam as implementações”, diz Pires, envolvida com iniciativas de conservação e restauração ambiental em estados como Amapá, Pará e Rondônia. “O que me move é saber que o meu trabalho contribui para a agenda climática global e deixa um legado para as próximas gerações.”

 

Fonte: Valor Econômico