Abras ataca ICMS para antecipar efeitos da reforma tributária na cesta básica
Enviado Quinta, 27 de Março de 2025.Levantamento da associação de supermercados que será publicado nesta quarta (26) vai mostrar que alíquota sobre alimentos básicos é maior no Norte e Nordeste
A Abras (Associação Brasileira de Supermercados) divulga nesta quarta (26) um estudo para pressionar os estados a antecipar o fim de tributação sobre itens da cesta básica, algo previsto para 2033 por força da reforma tributária.
O levantamento, obtido pelo Painel S.A., mostra que as maiores cargas de impostos concentram-se nas regiões Norte e Nordeste, justamente onde o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) é mais baixo.
Mulher faz compras en um supermercado de Brasília, no Distrito Federal - Lucio Tavora/Xinhua
Em São Paulo, que tem o IDH considerado alto, a maioria dos itens da cesta básica não passa de 7%, com alguns poucos alimentos com uma alíquota máxima de 18%.
Na Paraíba, que tem um dos menores IDHs do Brasil, praticamente todos itens são tributados em 20%, como arroz, feijão, leite e carne. A exceção é farinha de mandioca, ovos, frutas, verduras e legumes, que têm imposto zero.
Roraima, Sergipe, Pernambuco, Piauí, Tocantins e Bahia também têm alta concentração de alimentos básicos com alíquota igual ou superior a 20%.
"O ICMS sobre o leite chega a 20% em alguns estados, mesmo sendo um item de primeira necessidade. Isso precisa mudar", diz João Galassi, presidente da Abras.
A apresentação do estudo acontece em meio a discussões do governo federal junto a entidades representativas do setor de varejo alimentício sobre medidas para reduzir o preço dos alimentos.
A disparada da inflação da comida desde o ano passado por conta de efeitos climáticos, a alta do dólar e processos de oferta e demanda tem afetado a popularidade do presidente Lula.
Com o levantamento, a Abras espera apoio do governo federal no pleito junto aos estados.
Segundo a associação, a proposta de antecipar a desoneração da cesta básica já foi acolhida pela equipe de Lula, que pede um pacto federativo de caráter emergencial.
"Estamos diante de uma oportunidade concreta de reduzir o custo da alimentação no país. Os estados podem agir agora, sem esperar até 2033, e zerar o ICMS sobre produtos que são base da dieta da população brasileira", afirma Galassi.
Alíquota geral subiu desde reforma tributária
O estudo também mostra que a alíquota modal do ICMS (sobre todas as mercadorias e serviços, e não apenas sobre alimentos) subiu desde a aprovação da reforma tributária, em 2023, em 70% dos estados brasileiros.
Os únicos que não elevaram o imposto estadual foram Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Amapá. Em média, a alíquota geral subiu 2 pontos percentuais.
A culpa foi dos combustíveis, dizem estados
Consultado, o Comsefaz (Comitê Nacional de Secretários de Fazenda dos Estados e do Distrito Federal) afirma que essa alta ocorreu para compensar as perdas que os estados tiveram com a Lei Complementar 194, promulgada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro em 2022, que impôs um teto de ICMS sobre combustíveis, energia elétrica, telecomunicações e transporte público.
Segundo André Horta, diretor institucional do Comsefaz, a medida causou prejuízo aos cofres estaduais na ordem de R$ 109 bilhões em apenas um ano.
O comitê então fez cálculos sobre qual seria a alíquota de equilíbrio para o estados reaverem ano a ano o que perderam até 2032, último ano da existência do ICMS, que será integrado ao IBS (Imposto sobre Bens e Serviços) por conta da reforma tributária.
Questionado sobre os oito estados que não elevaram a alíquota de ICMS, Horta disse que eles conseguiram implementar outras medidas para elevar a arrecadação sem precisar aumentar o ICMS.
Fonte: Jornal Folha de S. Paulo