Invasões e depredações: imóveis estaduais abandonados viram ponto de uso de drogas e aumentam sensação de insegurança em Niterói
Enviado Sexta, 24 de Janeiro de 2025.Quatro imóveis que antes serviram a órgãos do governo do estado, no Centro de Niterói, sofrem há anos com o abandono e aumentam a sensação de insegurança, para moradores e comerciantes. Em contraste com a revitalização pela qual a região passa, com a readequação de imóveis históricos de administração municipal, os prédios das secretarias estaduais de Fazenda e Administração, o Quartel Geral da Polícia Militar e a sede do Instituto de Assistência dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro (Iaserj) se tornaram alvo de depredação, moradia irregular e até local de uso de drogas. O governo afirma que vai analisar, junto com a prefeitura, todas as demandas referentes aos imóveis estaduais no município. Ainda de acordo com o estado, recentemente a Subsecretaria de Gestão Administrativa e Patrimonial, vinculada à Secretaria de Estado da Casa Civil, realizou um estudo sobre estes imóveis. Uma reunião entre os poderes está prevista para acontecer ainda este mês.
Localizado na Rua Marechal Deodoro, o edifício da antiga sede da Secretaria de Fazenda foi desocupado em 2012, com a transferência dos serviços para a capital. Desde então, o prédio tem sofrido com depredações e ocupações irregulares. Em 2018, surgiu a promessa de revitalização do espaço, que o transformaria em um complexo cultural, mas a iniciativa não avançou.
Sobre esse prédio, a comerciante Márcia Siqueira, dona de uma loja de artigos de festas na Rua Visconde do Uruguai, na esquina com o endereço, lembra que o local foi constantemente invadido por moradores em situação de rua, mesmo após o governo fechar as entradas com tijolos. Segundo ela, isso não intimidou os invasores, que abriram buracos nas paredes. À noite, passar pela calçada se tornou uma tarefa arriscada, diz ela.
— Já perdi as contas de quantas vezes vi pessoas ali dentro usando drogas e roubando gente que passava pela rua. É triste ver isso. O prédio está totalmente largado, e nós que trabalhamos aqui também sofremos prejuízos. Muita gente acaba evitando o endereço por causa disso. Dá medo — desabafa.
A antiga unidade do Iaserj na Rua Professor Heitor Carrilho começou a ter os serviços gradualmente fechados a partir de 2010. Durante anos, o local foi alvo de protestos de servidores e usuários, que lamentaram o fim dos serviços de saúde ali prestados. Promessas de transformar o imóvel em um centro de saúde regional também não se concretizaram, e o prédio permanece abandonado. Em 2012, o governo do estado chegou a anunciar que o local abrigaria um anexo do Hospital Estadual Azevedo Lima, que fica no Fonseca, o que também não aconteceu. Agora, as pessoas evitam passar perto do edifício por medo.
— Só tenho coragem de andar aqui de dia, e mesmo assim avito ao máximo. Faço isso para cortar caminho para chegar à minha casa, que fica num condomínio ao lado. Graças a Deus, nunca vi nada, mas esse lugar vazio dá sensação de muita insegurança — diz a professora Andréa Bernardes.
Outro prédio em estado de abandono, apesar da aparência imponente, é o imóvel na Avenida Feliciano Sodré que já sediou o Quartel Geral da Polícia Militar. Ele é o retrato da falta de manutenção que transformou o local em um espaço com infiltrações aparentes e estrutura comprometida.
O prédio do Tribunal de Contas do Estado (TCE), no início da Avenida Jansen de Melo, segue este mesmo caminho. Em 2021, o edifício, que já estava desocupado há anos, teve os portões de ferro arrancados, episódio que evidenciou a vulnerabilidade do local. Na época, o prédio foi alvo de invasões e depredações, com denúncias constantes de saques.
Na época, a Secretaria Estadual de Planejamento e Gestão, responsável pelo imóvel, informou que não havia previsão para intervenções no prédio, mas que ele estava inserido em um projeto de reaproveitamento de imóveis estaduais sem uso administrativo. Apesar dessa promessa, o prédio, que já foi o mais moderno da cidade, permanece em situação precária.
O imóvel chegou a ser cedido ao município em 2018, com o objetivo de abrigar parte da Secretaria de Planejamento, Modernização da Gestão e Controle (Seplag). Contudo, a prefeitura desistiu do projeto no início de 2021, devolvendo a administração do edifício ao estado. Desde então, nenhuma iniciativa concreta foi implementada para sua recuperação ou reutilização.
Fonte: O Globo