Eduardo Paes critica propostas fiscais do governo federal
Enviado Quarta, 04 de Dezembro de 2024.O prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD), distribuiu alfinetadas às recentes políticas econômicas do governo federal e criticou a reforma tributária proposta pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, por “centralizar as receitas em Brasília”. O chefe do Executivo carioca fez, como ele gosta de dizer, uma “sessão de terapia” durante almoço empresarial organizado pelo grupo Lide, nesta segunda-feira (2).
Ao fazer um discurso apresentando as diretrizes para seu quarto mandato, que começa em janeiro do ano que vem, e responder a perguntas de empresários da cidade, Paes criticou as mudanças fiscais que, na sua avaliação, podem afetar a arrecadação dos municípios. Um dos alvos das falas do prefeito foi a reforma tributária, já aprovada pelo Congresso Nacional no final do ano passado.
“O Brasil começa a consolidar uma reforma tributária, na minha opinião, complexa. Porque ela vai contra alguns enunciados da Constituição de 88, que equipara os municípios a entes da federação. Ela [a reforma] centraliza receitas em Brasília. A gente vê que essa centralização de receitas em Brasília nunca foi boa para o Brasil”, disse Paes.
A reforma estabelece a unificação dos cinco tributos atuais — entre eles, o municipal ISS e o estadual ICMS — em três novas taxas: Imposto sobre Bens e Serviços (IBS), a Contribuição Social sobre Bens e Serviços (CBS) e o Imposto Seletivo (IS).
Paes também alfinetou o anúncio feito por Haddad de isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil. O prefeito não chegou a criticar diretamente a medida, mas afirmou que nenhum chefe do Executivo municipal ou estadual foi consultado pelo governo federal antes de a decisão ser publicizada.
“Se a gente for olhar aqui, o lado fofo do pacote anunciado pelo Haddad é o quê? Isenção de Imposto de Renda para quem tem até R$ 5 mil. Imposto de Renda é um dos poucos tributos que a União compartilha com Estados e municípios”, disse Paes, que logo emendou:
“Ninguém perguntou para os prefeitos do Brasil se esse é o melhor caminho para dar um alívio. Ou [perguntou] aos governadores.”
A sessão de descarrego de Paes alcançou até mesmo a ex-presidente Dilma Rousseff. O prefeito afirmou que os problemas de equilíbrio fiscal do país começaram nas gestões da petista à frente do Palácio do Planalto.
“O problema fiscal brasileiro hoje foi construído — e isso é duro para o PT ouvir, partido do qual sou aliado — no governo da Dilma. Que na sua nova economia, o Guido Mantega [ex-ministro da Fazenda] fazia isenção de imposto. Isso de ‘tira daqui, tira dali’. Ninguém empregou mais ninguém por causa daquilo”, disse Paes.
O prefeito carioca é aliado do PT e do presidente, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), mas tem feito, desde a campanha eleitoral deste ano, questão de frisar que tem divergências com o mandatário. Na eleição em que saiu vitorioso para um quarto e inédito mandato, Paes foi o candidato oficial de Lula e teve o apoio do PT a seu nome.
No almoço desta tarde, Paes disse que preza equilíbrio fiscal:
“Aqui o prefeito preza e zela pelo equilíbrio fiscal permanentemente. Só não podem maltratar os outros. As pessoas precisam comer, ter um hospital para serem atendidas e acessar os serviços básicos de maneira adequada.”
Depois da declaração, Paes até brincou: “Daqui a pouco vou estar no Valor dizendo que o mercado é uma abstração. Aí vem meu irmão [o banqueiro Guilherme Paes, sócio do BTG] me ligar para dizer para parar de falar besteira.”
Fonte: Jornal Valor Econômico