PSD de Paes cinco vezes maior, PL como segunda força e renovação pela metade: como é a nova Câmara do Rio
Enviado Segunda, 07 de Outubro de 2024.Dos 51 vereadores da atual legislatura, 47 tentaram a reeleição, 26 permanecerão na Casa e 25 são novatos ou retornarão
A Câmara Municipal do Rio de 2025 terá quase 50 % de renovação. Dos 51 vereadores da atual legislatura, 47 tentaram a reeleição, 26 permanecerão na Casa e 25 são novatos ou retornarão. Entre os que assumirão pela primeira vez o cargo, Leniel Borel (PP), pai do menino Henry, morto aos 4 anos, foi o mais bem votado. Carlos Bolsonado (PL), filho do ex-presidente Jair Bolsonaro, foi o primeiro colocado no ranking geral: conseguiu 130.480 votos, um recorde histórico no parlamento carioca desde 1975, e quase o dobro do que ele conseguiu na eleição passada (71 mil), quando ficou atrás do primeiro colocado, Tarcísio Motta (PSOL).
Na nova Câmara, o PSD do prefeito reeleito Eduardo Paes fez 16 vereadores. Em 2020, quando Paes estava no antigo DEM, o partido só elegeu três (na ocasião, o DEM conquistou sete vagas). Agora, o PL foi o segundo partido com mais vereadores eleitos: sete. A Coligação Brasil da Esperança — reúne PCB, PT e PV — fez cinco. A Federação PSOL-Rede ficou com quatro cadeiras. Doze partidos e coligações também fizeram vereadores. Entre os que não voltam estão os veteranos Jorge Felipe (PP) e Paulo Pinheiro (PT). O ex-governador Anthony Garotinho também ficou de fora, assim como Kaio Brazão, enteado de Domingos Brazão, preso acusado de ser o mandante da morte de Marielle Franco, junto com o irmão Chiquinho Brazão.
Entre os que vão continuar na Casa está Rosa Fernandes, campeã de mandatos: irá para o nono.
— Amo o que faço. Ser vereadora é estar por perto, conhecer as ruas, os bairros. É onde me encontro como política e cidadã. O elo de confiança (do eleitor) é muito forte — diz Rosa, com base eleitoral na Zona Norte.
O decano do parlamento municipal será o ex-prefeito Cesar Maia, de 79 anos. Maia exercerá seu quarto mandato consecutivo. O mais jovem da Casa é o estreante Flavio Valle, de 25 anos, que foi subprefeito da Zona Sul. Já a bancada feminina aumentou de 11 para 12 e corresponderá a 23% do total de vereadores.
O último recorde de votos para a Câmara do Rio havia sido de Jorge Bittar, pelo PT, que conseguiu 125.393, em 1992. Carlos Bolsonaro foi reeleito para seu sétimo mandato consecutivo, mantendo o foco nas pautas de comportamento, “ideologia de gênero” e críticas à esquerda. O chefe de gabinete Jorge Luiz Fernandes diz que a campanha não se limitou às redes sociais. Deputados de direita, como Anderson Moraes e Márcio Gualberto, colocaram diariamente equipes na rua para intensificar a visibilidade do vereador:
— Essa votação mostra a força do sobrenome Bolsonaro no Rio e méritos individuais do próprio Carlos. Ainda vamos discutir planos para o futuro. No passado, avaliamos tentar uma vaga de deputado federal, mas na época ele estava no Republicanos, que não o liberou para trocar de partido — diz Jorge Luiz.
Pai do menino Henry Borel, que morreu vítima de violência em 2021, Leniel foi o oitavo colocado na votação geral, com 34.359 votos. Ele afirma que o resultado das urnas é uma vitória do combate à violência infantil. O ex-vereador cassado Jairinho e a então namorada Monique Medeiros, mãe da criança, aguardam presos pelo julgamento do caso. Os dois são acusados de homicídio triplamente qualificado e tortura.
— Meu filho se tornou um símbolo e uma petição pública motivou a criação da Lei Henri Borel, que cria mecanismos para prevenção à violência doméstica. No parlamento, vou me empenhar para regulamentar esses mecanismos no Rio, o que ainda não aconteceu. Vou para a Câmara com a memória de meu filho guardada no coração — disse Leniel, que deseja integrar a Comissão dos Direitos da Criança e do Adolescente.
Entre os novatos eleitos aparece o tiktoker Rick Azevedo (PSOL), operador de marketing que começou sua militância nas redes sociais defendendo o fim da jornada de seis dias de trabalho por um de descanso. Gigi Castilho (Republicanos), ligada ao ex-deputado federal Eduardo Cunha, será mais uma cara nova.
Estreiam ainda no Palácio Pedro Ernesto ex-secretários e ex-subprefeitos de Paes. É o caso de Joyce Trindade (PSD), que foi titular da pasta de Políticas de Promoção da Mulher. Outro que ocupará uma cadeira na Câmara é Diego Vaz (PSD), de 35 anos, empresário e engenheiro têxtil que ingressou na política fazendo campanha para o prefeito nas eleições de 2020. Logo após a vitória, foi convidado a virar subprefeito da Zona Norte.
— Vou ser um representante da Zona Norte na Câmara. Falta uma maior representatividade no Legislativo da região, onde a prefeitura precisa continuar a atuar. Os moradores podem acreditar que vou trabalhar por eles — afirma ele.
O PSDB tem cara nova na Câmara. Ex-subprefeita de Jacarepaguá, Talita Gualhardo focou sua campanha não só na região, mas por toda Zona Oeste. No antigo cargo chegou a romper com Eduardo Paes e renunciou. Antes da campanha se reconciliou.
— Fiz uma campanha voltada para a necessidade de termos um melhor ordenamento urbano na cidade, combatendo as construções irregulares e disciplinando, oferecendo vagas onde for possível ao comércio ambulante — conta.
Maíra do MST, professora e doutoranda em História, é uma das novidades do PT. Maíra faz parte do movimento Levante da Juventude, do MST, que tem atuação nas cidades. Maíra divulgou nas redes sociais apoio de personalidades como Chico Buarque e a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco:
— Meu foco será o combate à fome na cidade. São mais de 500 mil pessoas que não se alimentam de forma adequada. Um dos pontos que vamos discutir com a prefeitura será a reabertura de restaurantes populares, com o MST sendo fornecedor de alimentos para o município.
Além de Bolsonaro, outros sobrenomes ganharam as eleições. Um deles é o advogado Felipe Pires (PT), que conquistou 15.136 votos, principalmente na Zona Oeste. Ele é sobrinho e herdeiro político do ex vice-prefeito e hoje secretário municipal de Desenvolvimento Social, Adilson Pires:
— O Adilson e o PT têm uma militância forte de trabalhar pela Zona Oeste. Aqui também há um espaço para o voto mais ideológico. Minha avaliação é que teremos uma Câmara com menos polarização, tranquila. A tentativa de nacionalizar a campanha (por Ramagem) não pegou.
Combate a milícias
A vereadora Monica Benicio — viúva de Marielle Franco, assassinada em 2018 — foi a segunda mais votada do PSOL, atrás do estreante Rick Azevedo, e vai para o segundo mandato. Monica, de 38 anos, afirma que, além das pautas que defendeu nos primeiros quatro anos de legislatura, vai direcionar esforços para o combate e o enfrentamento das milícias, que trata como prioridade desde que a Polícia Federal prendeu, em março, os irmãos Chiquinho e Domingos Brazão e o ex-chefe de Polícia Civil, Rivaldo Barbosa, acusados de serem os mandantes da morte de Marielle e do motorista Anderson Gomes.
— A expansão das milícias no Rio de Janeiro é uma das piores coisas que a gente tem para o país. Já estão falando em “Rio de Janeirização” de outras cidades, se referindo à chegada da milícia em outros territórios. Não tem nada mais perigoso para o sistema democrático que as milícias, porque elas têm projeto de poder — afirma Monica. — As milícias hoje estão ocupando cadeira na Câmara Municipal, na Assembleia Legislativa, na Câmara Federal e no Senado. Então, por ter essa relação muito direta e muito íntima com a política institucional, é algo que precisa ser urgentemente combatido.
Fonte: O Globo