Com crise climática, campanha contra a dengue é antecipada

Enviado Quinta, 19 de Setembro de 2024.

País registra 6,5 milhões de casos prováveis da doença entre janeiro e agosto, alta de 300% em relação ao mesmo período do ano passado

O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) decidiu antecipar a campanha de combate à dengue num momento de escalada da crise climática, com secas históricas e crescimento das queimadas castigando o país.

“Todo verão nós somos vitimados pelo crescimento da dengue e de outras doenças. E dessa vez, com a questão climática evoluindo para que o planeta fique mais aquecido, resolvemos antecipar o lançamento da nossa campanha”, disse Lula em cerimônia no Palácio do Planalto, acompanhado da ministra da Saúde, Nísia Trindade.

A ministra disse que os cenários em relação à dengue mudam "de acordo com a questão climática, a circulação dos sorotipos e a ação organizada da sociedade". Nísia apresentou o plano do governo para enfrentar a doença nos próximos meses. No evento, Lula também pediu engajamento da população no combate ao mosquito da dengue.

Segundo dados do Ministério da Saúde, houve 6,5 milhões de casos prováveis da doença no país entre janeiro e agosto deste ano, uma alta de 300% em relação ao mesmo período do ano anterior. São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Paraná, Santa Catarina, Goiás e Distrito Federal concentram 87,7% dos casos.

As mortes já ultrapassam a casa das 5 mil nesse mesmo período de 2024, em um cenário que foi classificado anteriormente pelo secretário adjunto de Vigilância em Saúde, Rivaldo Venâncio, como, "de longe, a pior epidemia que tivermos na história".

Lula afirmou ainda que cada brasileiro deve atuar como “seu próprio médico”, a fim de adotar medidas de combate à proliferação do mosquito, que se reproduz em água limpa e parada. Ele disse ainda que está focando em medidas de curto e médio prazo para conseguir resultados na área ainda em seu mandato.

No evento, Nísia apresentou o plano do governo, que envolve investimento de R$ 1,5 bilhão e prevê a aplicação de 9 milhões de doses da vacina Takeda, produzida no Japão. Essa vacina exige duas doses para a imunização.

O governo também conta com a aprovação, pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), de uma vacina de dose única contra a dengue do Instituto Butantan. Caso isso ocorra, haverá mais 1 milhão de imunizantes. “Por que não mais? É a capacidade de produção", afirmou Nísia.

A ministra admitiu, no entanto, que esse número é insuficiente e afirmou que o laboratório está com estoques baixos de matéria-prima para produzir o imunizante. "Não farei falsas promessas aqui", disse. "Com todos os cuidados sabemos que não levaremos à eliminação da doença. Ela está no nosso plano de eliminação, mas levaremos tempo para isso.”

Por outro lado, Lula também afirmou na ocasião que, "se Deus ajudar", o Brasil terá o verão com menos mortes por dengue na história. Mas a ministra da Saúde, Nísia Trindade, discordou e disse que essa meta dificilmente será atingida e classificou a fala do presidente como um "desafio" e uma "meta".

Fonte: Jornal Valor Econômico