Atrasos na reforma tributária preocupam, mas governo descarta caos em 2026
Enviado Segunda, 29 de Setembro de 2025.A pouco mais de três meses do início da implantação da reforma tributária, representantes do setor privado demonstram preocupação com o atraso na definição de pontos importantes para que todas as empresas possam se adaptar ao novo sistema.
A partir de janeiro, será necessário indicar o valor dos novos tributos nas notas fiscais para que seja possível calcular a alíquota que mantém a carga tributária atual. Para o consumidor ainda não haverá mudança, pois esses impostos só começam a ser cobrados em 2027.
Os trabalhos na área federal estão avançados, com o novo portal da reforma já testado por algumas empresas. Estados e municípios, no entanto, ainda trabalham em um Comitê informal sem poder para tomar decisões.
Nos próximos meses será necessário concluir aprovar o segundo projeto de regulamentação, publicar as regras infralegais e garantir a emissão de notas fiscais no novo formato.
Em evento realizado no início do mês, o secretário da Reforma Tributária, Bernard Appy, afirmou que a migração para o novo sistema não exigirá das empresas nada que não seja viável em termos operacionais e repetiu que haverá "bom senso" por parte do governo. Segundo ele, em hipótese alguma haverá "caos em 2026".
No mesmo evento, a Receita Federal disse que não serão exigidas obrigações sem que haja um período para adaptação e que 2026 será um período de testes e ajustes para governo e empresas.
Waleska Lemos Morais, sócia do escritório Mattos Filho, afirma que muitas empresas estão bem avançadas nessa preparação, mas ainda há preocupação com o funcionamento dos sistemas e com os investimentos necessários em termos de tecnologia.
A emissão de notas é uma preocupação para plataformas e serviços digitais. A avaliação é que é impossível implementar todas as exigências até 1º de janeiro.
Atualmente, essas empresas estão em regimes especiais que permitem emitir uma única nota abarcando diversas operações. Com a reforma, é necessário que haja um documento individual para cada transação.
André Menon, sócio do Machado Meyer Advogados, afirma que o ponto de maior atenção é para operações que hoje não precisam cumprir essas obrigações. Por exemplo, empresas de locação de veículos ou de imóveis.
Há também preocupação com a capacidade de processamento da nuvem soberana do governo federal que vai abrigar todos os documentos fiscais. Como mostrou a Folha em junho, a reforma irá movimentar um número de transações cerca de 10% superior ao Pix, mas com arquivos que carregam uma quantidade de dados 150 vezes maior.
Cristina Câmara, sócia do Siqueira Castro Advogados, afirma que o motivo do despreparo de muitas empresas para o início da reforma é o fato de a regulamentação não estar completa.
Apesar das pendências, eles não acreditam que o início da transição seja adiado, mas tudo caminha para que a reforma seja implantada de uma forma mais branda em termos de exigências neste primeiro momento.
A versão do segundo projeto de regulamentação da reforma, prevista para ser votada no Senado nesta semana, prevê que as empresas que não conseguirem cumprir as novas obrigações fiscais no ano-teste de 2026 devem ser notificadas pelo fisco e terão 60 dias para resolver as pendências, antes da imposição de multa.
Eduardo Fleury, sócio da área tributária do FCR Law, afirma que as grandes empresas estão se movimentando e recomenda que elas procurem garantir que clientes e fornecedores também estejam pronto. "Vejo que as pequenas e médias estão um pouco fora dessa preparação."
Fonte: Folha de S. Paulo