Reforma tributária aumenta demanda por gestores temporários

Enviado Segunda, 18 de Agosto de 2025.

Pesquisa mostra que a busca cresceu 24% entre abril e junho de 2025

A demanda de lideranças para projetos temporários ligados à reforma tributária nas empresas cresceu 24% entre abril e junho de 2025. As principais razões para o avanço são mais oportunidades para tarefas extras e pontuais (32%), a imprevisibilidade do cenário político-econômico (29%), que pode brecar contratações permanentes; e a demanda urgente por profissionais com características técnicas específicas (25%).

A análise faz parte de uma pesquisa da consultoria Robert Half com 700 profissionais, entre recrutadores e executivos que trabalham por projetos no Brasil. No levantamento, que se concentrou em gestores que atuam direta ou indiretamente com as mudanças trazidas pela reforma tributária nas organizações, a maioria ocupa cargos de gerência ou superior (91,8%) em grandes companhias (56%) da indústria (46%), serviços (37%) e comércio (17%).

“A pesquisa revela que a contratação por projetos temporários é uma alternativa estratégica no contexto da reforma tributária”, analisa Maria Sartori, diretora de mercado da Robert Half. “Quarenta e dois por cento das vagas abertas para adequação à mudança serão para atividades temporárias, complementando as posições permanentes [que podem representar 58% das colocações disponíveis].”

A consultora diz que o modelo de contratação ganha força pela complexidade da nova norma de tributos e pelos picos de demanda de trabalho que devem ser gerados pela troca das alíquotas.

O novo modelo de tributação sobre o consumo passará por uma fase de testes e transição a partir de 2026. A mudança completa do sistema tributário nacional está prevista para 2033, quando serão extintos tributos como o ICMS e o ISS. Até lá, serão testadas e entrarão em vigor novas taxas, como o Imposto sobre Valor Agregado (IVA).

“[Contratar temporários] permite que as companhias mobilizem profissionais especializados por um período determinado, sem comprometer o ‘headcount’ [número de pessoas que trabalham em uma empresa] fixo”, sugere. “É uma solução para empresas sem aprovação de headcount permanente que precisam de agilidade e expertise para desafios pontuais.”

O estudo indica que as funções mais procuradas exigem currículos “de alta senioridade e especialização”. “A lista de profissionais mais buscados aponta uma demanda por experiência estratégica e técnica, a fim de navegar na complexidade da nova legislação, abrangendo de especialistas a cargos de liderança”, explica Sartori.

A pesquisa sinaliza a busca por posições como PMO tributário, também chamado de “TMO ou transformation/tax management office” (executivo para gestão de mudança de taxas, do inglês), um perfil relativamente novo no mercado, diz a especialista.

“Esse profissional atua como ponto focal na coordenação da estratégia de adequação fiscal da empresa, gerenciando frentes como compliance, tecnologia, processos e jurídico, além de garantir cronograma, orçamento e entrega de iniciativas ligadas aos novos tributos”, explica. “Geralmente, tem experiência em projetos fiscais de larga escala, liderança de equipes multidisciplinares e domínio de sistemas fiscais, com reporte direto ao conselho”. A remuneração mensal pode chegar a R$ 30 mil.

De acordo com o mapeamento, outras posições em alta para projetos temporários são “tax specialist” (especialista em tributos ou consultor tributário sênior), responsável por apoiar trabalhos de transição fiscal, simulações de cenários e gestão de riscos, com salários de até R$ 17 mil; e “legal manager” (gerente jurídico tributário), geralmente um advogado tributarista que atua com contenciosos e atividades consultivas, com remuneração mensal de até R$ 25 mil.

A diretora da Robert Half chama a atenção para os números da pesquisa que indicam o despreparo das organizações em relação à troca dos impostos. “Enquanto apenas 11% das empresas se consideram plenamente confiantes, a metade [50%] acredita que poderia estar mais preparada e 37% admitem estar despreparadas para a reforma”, compara. “Esses dados são alarmantes, pois a implementação da norma, embora gradual, exigirá ajustes em sistemas, processos e na estrutura de pessoal.”

Sartori lembra que, em um cenário com as menores taxas de desemprego da série história, tanto para a população em geral quanto para profissionais qualificados - 6% e 3%, respectivamente, de acordo o Índice de Confiança Robert Half, com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) - a disputa por talentos especializados pode se intensificar. “As empresas que não se planejarem correm o risco de enfrentar escassez de mão de obra e sobrecarga nas equipes, dada a urgência e a complexidade das mudanças.”

Para a executiva, a hora de agir é agora. “As companhias devem dimensionar os impactos financeiros, ajustar estruturas operacionais e formar equipes capacitadas.”

Fonte: Valor Econômico