Com ajuda de Paes, Reis avança para ficar elegível

Enviado Segunda, 21 de Julho de 2025.

Prefeito do Rio foi um dos articuladores do movimento que pode ajudar político a reaver seus direitos

Agora que está oficialmente fora do governo do Rio de Janeiro, Washington Reis (MDB) tem um caminho “quase” livre para concorrer ao comando do Estado na eleição do ano que vem. O “quase” deve-se a dois motivos: o fato de estar inelegível, condição que tenta reverter no Supremo Tribunal Federal (STF), e a proximidade que tem com o prefeito da capital fluminense, Eduardo Paes (PSD), outro interessado em disputar o Palácio Guanabara.

Esses dois motivos se entrelaçam, uma vez que Paes foi um dos articuladores que ajudaram a destravar caminhos para que Reis consiga reaver seus direitos políticos no Supremo. E o emedebista está agora um passo a menos de conseguir isso. O relator do processo no STF, Flávio Dino, enviou à Procuradoria-Geral da República (PGR) a possibilidade de Reis firmar um acordo de não persecução penal.

A ação atende a um despacho do ministro Gilmar Mendes que levantou a hipótese de Reis se livrar da condenação e da inelegibilidade ao confessar o crime ambiental pelo qual o emedebista e, com isso, arcar com as compensações necessárias. Essas duas movimentações que liberou margem para uma vitória de Reis se deram depois que Paes acionou interlocutores que têm em comum com os magistrados do Supremo, conforme contam aliados do próprio prefeito.

Agora, a PGR precisa dar o aval para seguir com o acordo de não persecução em favor de Reis.

Se o emedebista conseguir reverter a inelegibilidade com a ajuda de Paes, a avaliação de fontes próximas é de que ele passaria a ter um débito com o prefeito. E Paes já deixou muito claro para Reis que ele o quer em sua chapa na disputa eleitoral de 2026.

Para o chefe do Executivo carioca, Reis seria um candidato ao Senado ideal no palanque de Paes. Isso porque o ex-secretário funcionaria como uma espécie de antídoto anti-PT, visto que o emedebista não só é um nome agradável ao eleitor bolsonarista como também tem uma relação boa com o ex-presidente Jair Bolsonaro, filiado ao PL.

Na visão de um conselheiro político de Paes, com Reis ao lado, o prefeito formaria uma chapa “LulaNaro”. Isto é, com aliados tanto do líder bolsonarista quanto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Lula apoia Paes e tem nele um importante cabo eleitoral no Estado fluminense. No entanto, o potencial candidato do PSD para o Guanabara tem votos entre a direita e não quer ficar totalmente colado a Lula para afugentar os eleitores antipetistas. Numa aliança com Reis, a estratégia de comunicação do prefeito já estaria pronta; o argumento seria de uma união que fura a polarização para se preocupar só com o Rio.

Reis também ajudaria Paes a ter mais entrada na Baixada e em Caxias, um polo industrial importante no Rio, e entre eleitores mais conservadores e evangélicos.

Além disso, Paes também quer ter o MDB no seu arco de alianças partidárias. No cenário que se tem hoje, em que o presidente da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), Rodrigo Bacellar (União Brasil), também vá disputar o governo do Estado, o MDB é um dos poucos partidos de grande porte e de centro livres para formar uma coligação; o PP está federado com o União Brasil, e o PL tem acordos para estar ao lado de Bacellar.

Acontece que Washington Reis, mesmo sendo visto como alguém que “cumpre acordos e paga dívidas”, pode querer concorrer ao Executivo fluminense a despeito dos desejos de Paes. Desde que foi demitido do governo de Cláudio Castro (PL) por Bacellar, o emedebista tem dito abertamente que é “candidatíssimo”.

Em uma eventual empreitada ao governo do Rio, se conseguir ficar elegível, Reis teria apoio de Bolsonaro, conforme afirmam bolsonaristas ouvidos pelo Valor, levando o PL a abandonar Bacellar. O emedebista também teria toda a estrutura do partido no Estado, do qual ele é presidente, e o aval da Executiva nacional da sigla. Contudo, nesses dois quesitos, há um porém para Reis: a sua própria sigla e o ex-presidente têm um histórico de virar às costas quando lhes convém.

De toda forma, Reis continua dizendo que vai estar nas urnas em 2026. “Estou convicto da minha candidatura. Estou trabalhando para conseguir apoios partidários e políticos”, disse. Paes, por sua vez, não se manifestou.

Fonte: Valor Econômico