RJ: Castro cancela férias e ensaia reação a Bacellar para não ser ofuscado no próprio governo

Enviado Sexta, 11 de Julho de 2025.

O governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), começou a ensaiar uma reação ao presidente da Assembleia Legislativa do Estado (Alerj), Rodrigo Bacellar (União Brasil)

O governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), começou a ensaiar uma reação ao presidente da Assembleia Legislativa do Estado (Alerj), Rodrigo Bacellar (União Brasil), para evitar que o deputado assuma um protagonismo no Executivo fluminense antes da hora. O movimento se dá após Castro ficar do lado de Bacellar na briga com o presidente do MDB estadual, Washington Reis.

Enquanto esteve como governador interino, no começo deste mês, Bacellar demitiu o emedebista da Secretaria de Transportes sem ter falado antes com Castro, que havia viajado ao exterior e deixou o cargo com o aliado. A demissão gerou uma crise na base do governador; não só por ter exposto a disputa entre o presidente da Alerj e o cacique do MDB, mas por Bacellar ter sobrepassado a autoridade do governador.

Ontem, o governador confirmou a demissão de Reis, ficando ao lado de Bacellar e abrindo mão de ter em seu secretariado um aliado de quem sempre foi próximo — vale lembrar que o emedebista chegou formar uma chapa como vice de Castro, na eleição de 2022, que só não foi à frente por decisão da Justiça eleitoral de manter a inelegibilidade de Reis.

Segundo fontes do entorno do Guanabara ouvidas pelo Valor, não havia outra saída ao governador senão avalizar o ato de Bacellar que exonerou Reis por conta da pressão de aliados do presidente da Alerj e pelo próprio fato de que Castro empoderou demais o aliado ao longo de todo o mandato atual. Na avaliação desses interlocutores, o episódio mostrou um chefe do Palácio Guanabara "fragilizado" e explicitou um clima de “rei morto, rei posto” que paira sobre o governo.

Procurado para comentar, integrantes do Palácio Guanabara não se pronunciaram.

Aliados mais próximos de Castro defendem que ele reaja para conter os avanços de Bacellar. Do contrário, ao deixar a situação como está, o governador estaria “entregando o governo” de forma antecipada e não teria tempo para mostrar suas conquistas à frente do Executivo fluminense e se cacifar como candidato competitivo ao Senado, na eleição do ano que vem.

Críticas a Bacellar

Para se proteger, Castro já começou a dar os primeiros sinais dessa reação. Na nota que divulgou para confirmar a saída de Reis do governo, o chefe do Executivo fluminense fez críticas ao que chamou de “ato intempestivo e desrespeitoso” de Bacellar por demitir o então secretário.

“A demissão do secretário Washington Reis vinha sendo tratada e discutida, nas últimas semanas, por conta de suas sinalizações, desalinhadas ao nosso grupo político. Ela já estava em minha previsão e seria realizada após o retorno do meu período de férias”, escreveu o governador, no comunicado. “Este fato não justifica o ato intempestivo e desrespeitoso do presidente da Assembleia em exonerá-lo sem a minha aprovação ou sem dialogar com os campos políticos de nossa base.”

Outra medida de Castro foi cancelar as férias com a família, que ele tiraria agora em meados de julho, para não deixar que Bacellar assuma o Guanabara de forma interina. Seria a terceira vez desde que o vice-governador, Thiago Pampolha (MDB), deixou o cargo para assumir como conselheiro no Tribunal de Conta do Estado (TCE), movimentação feita pelo presidente da Alerj para deixar livre para si o caminho para a sucessão do Executivo estadual.

De acordo com um interlocutor de Castro, o objetivo desse gesto é passar uma mensagem clara a Bacellar de que ele venceu na briga com Reis, mas quem continua mandando no Estado é o próprio governador.

Há, contudo, dúvidas no entorno do chefe do Guanabara se ele vai conseguir conter de fato Bacellar. A avaliação é que, neste momento, quem tem mais força no governo é o presidente da Alerj, que já desautorizou o governador em outros momentos além da exoneração de Washington Reis. Numa discussão recente na assembleia, por exemplo, o deputado disse que não aceitaria ser tratado como Castro porque com ele “o buraco é mais embaixo”.

“O senhor está fazendo ataque pessoal. Comigo não. Não me confunda com o Cláudio Castro”, disse Bacellar, em meio ao bate-boca com o deputado Rosenverg Reis (MDB), irmão de Washington Reis. “Aqui o buraco é mais embaixo”, enfatizou o presidente da Alerj.

Afastamento de aliados importantes

Outro complicador para o chefe do Guanabara é que ele está se afastado de quadros importantes do governo: o seu chefe de gabinete, Rodrigo Abel, que sempre atuou como um guru para o governador; e o marqueteiro Paulo Vasconcelos, responsável pela bem sucedida campanha de 2022 que levou Castro à vitória já no primeiro turno.

Em relação ao publicitário, conforme disseram interlocutores próximos, Vasconcelos se desligou do governo há cerca de um mês por não ver muito espaço para trabalhar dentro da área de comunicação do governo.

Já sobre Abel, segundo fontes do Executivo fluminense, ele se sentiu deixado de lado nas articulações para indicar Pampolha ao TCE. Castro havia prometido ao chefe de gabinete que o indicaria para o tribunal, mas desde então foi preterido nas movimentações. Além da vaga ocupada agora pelo ex-vice, há uma expectativa de mais uma se abrir, mas ela também está na mira de Bacellar para ser usada como moeda de troca no futuro. Por conta disso, a saída de Abel da chefia de gabinete de Castro é dada como certa.

Procurado, o governo do Estado negou que haja um afastamento de Abel do governador. Sobre todos os outros pontos desta reportagem, a gestão estadual preferiu não se manifestar.

Opções para 2026

Ainda segundo o entorno de Castro, caso ele não consiga conter Bacellar nem reverter o equilíbrio de forças dentro do Executivo, há quem defenda que o governador mude seu plano de voo para 2026. Uma opção aventada é que Castro não deixe a cadeira para concorrer a nenhum cargo no ano que vem — fazendo com que, assim, o presidente da Alerj não assuma o governo.

A outra alternativa é, se ficar ofuscado em meio a esse cabo de guerra com o aliado, Castro se lance candidato à Câmara, e não ao Senado, para evitar uma eventual derrota eleitoral. De todas as formas, para evitar que se chegue a um cenário ruim como esse, a orientação dos aliados do governador é que ele reaja rápido para não ser o “rei morto”.

Procurados, Bacellar e Abel não responderam.

Fonte: Valor Econômico