Eleição para governador do RJ
Enviado Quarta, 25 de Junho de 2025.Mesmo na base de Paes, ala do PT flerta com Bacellar, possível adversário de prefeito em 2026
Filiado ao União Brasil, presidente da Alerj é o nome defendido pelo governador Cláudio Castro (PL) e conta com aval do ex-presidente Jair Bolsonaro
Em novo episódio que causou ruído na relação entre o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD), e o PT, quadros do partido acenaram ao presidente da Assembleia Legislativa, Rodrigo Bacellar (União), que tende a disputar a eleição de governador contra Paes no ano que vem. Se há um mês os problemas entre o prefeito e a legenda aconteceram com alas mais à esquerda, agora são com setores mais pragmáticos, sobretudo a família Ceciliano. Bacellar é o candidato do governador Cláudio Castro (PL) e recebeu o aval do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Filho do ex-presidente da Alerj e hoje secretário de Assuntos Parlamentares do governo Lula, André Ceciliano, o prefeito de Paracambi, Andrezinho, recebeu Bacellar — na função de governador interino — para visita a obras na cidade. Em vídeo que divulgou nas redes sociais, classificou o parlamentar como “nosso futuro governador”. Paes chegou a ironizar o registro. Compartilhou o link da publicação e escreveu: “Chega a emocionar…”.
O diretório estadual do partido, comandado pela ala que tem Maricá como reduto, vem assegurando que a sigla compõe aliança “programática” com Paes, que tende a receber apoio petista em 2026.
— Tenho certeza que na hora de bater o martelo o PT estará empenhado no projeto do prefeito Eduardo Paes e do presidente Lula no Rio de Janeiro — afirma o presidente estadual da sigla, João Maurício de Freitas.
Há, no entanto, insatisfeitos. André Ceciliano, que chegou a ser colocado pelo PT como um possível vice do prefeito na eleição do ano passado, reclamou a interlocutores nos últimos meses que Paes só deu espaço na prefeitura para petistas ligados a Washington Quaquá, prefeito de Maricá, ex-presidente do diretório estadual, hoje comandado por Joãozinho, seu vice na prefeitura. O secretário de Habitação do Rio, Diego Zeidan, é filho de Quaquá e deve ser eleito para assumir o PT-RJ no dia 6 de julho.
Entre dirigentes, existe a avaliação de que Ceciliano e o filho deveriam ser mais comedidos nos movimentos, que são individuais e não foram combinados com o partido. Ainda mais, dizem, por se tratar de alguém com assento no Planalto em um governo que tem sólida parceria com a prefeitura de Paes.
Como Andrezinho é prefeito, estaria tentando manter um vínculo com quem tem hoje a caneta do estado, o que facilita na obtenção de recursos. Ceciliano, o pai, não esconde que, se a eleição fosse hoje, abriria uma dissidência interna pró-Bacellar. Ele tem interesse em firmar um acordo para voltar ao comando da Casa em 2027, já que pretende deixar Brasília e se candidatar a deputado estadual no ano que vem. Internamente, contudo, existem deputados com mandato que são considerados prioridade.
Durante um compromisso de Bacellar como governador em Campos dos Goytacazes, outra petista apareceu ao lado dele: a deputada estadual Carla Machado, ex-prefeita de São João da Barra. O caso dela, no entanto, é minimizado pelo partido, e a própria continuidade da deputada na sigla já vinha sendo questionada.
Nos setores mais à esquerda, o estresse recente entre Paes e o PT envolveu o armamento de parte da Guarda Municipal. Dois dos quatro vereadores do partido, Leonel de Esquerda e Maíra do MST, não só votaram contra a medida, como assinaram antes uma emenda para retirar o projeto de pauta. O movimento irritou Paes.
Essa discordância de programa na área de segurança é vista como um provável foco de crise para o ano que vem. Paes pretende apresentar medidas duras voltadas para o problema, mas vislumbra reclamações da esquerda ao fazê-lo.
Com trajetória política construída em partidos de centro e centro-direita, o prefeito foi reeleito no ano passado numa aliança que tinha sobretudo legendas de centro-esquerda. Além do PT, compuseram a coligação o PDT e o PSB, por exemplo. O PDT, inclusive, é outro que tem hoje alguns quadros mais vinculados a Bacellar do que a Paes.
Para a eleição estadual, o prefeito teme que os adversários consigam explorar de forma negativa sua parceria com Lula, que está com desaprovação alta no Rio. A relação com o candidato nacional é mais evidente em campanha estadual.
Fonte: O Globo