Contra Bacellar e próximo de Paes, Washington Reis tenta mexer em tabuleiro eleitoral do Rio

Enviado Quarta, 25 de Junho de 2025.

Secretário estadual tenta reverter inelegibilidade enquanto se aproxima de prefeito

As articulações para a eleição de 2026 no Rio têm sido atravessadas pelo dito segundo o qual “ainda vai passar muita água debaixo da ponte”. Isto é, o que parece definido agora pode mudar com o que acontece nos bastidores. E nessas conversas, um nome se destaca: o de Washington Reis (MDB), ex-prefeito de Duque de Caxias e secretário de Transportes do Estado.

Presidente do MDB fluminense e chefe de um dos clãs políticos mais fortes no Rio, Reis é visto como estratégico para o próximo pleito e tem sido cortejado pelos dois que despontam como possíveis candidatos ao governo do Estado: o presidente da Assembleia Legislativa (Alerj), Rodrigo Bacellar (União Brasil), e o prefeito da capital, Eduardo Paes (PSD). Acontece que o próprio emedebista, embora esteja por ora inelegível pela Lei de Ficha Limpa, também tem pretensões de participar da corrida, o que pode embaralhar o quadro atual.

Hoje, como secretário estadual, Reis faz parte da base do governador Cláudio Castro (PL), aliado e fiador da candidatura de Bacellar. O emedebista, no entanto, já indicou nos bastidores que não vai apoiar o deputado. Entre os motivos, além de ele próprio querer ser o candidato ao Palácio Guanabara, o fato de ele, Reis, ter um histórico de desavenças com o presidente da Alerj.

Em 2024, os dois estiveram em lados opostos na eleição pela Prefeitura de Caxias, reduto eleitoral do emedebista. Bacellar apoiou o candidato de oposição Celso do Alba (União Brasil), enquanto Reis defendia seu sobrinho, Netinho Reis (MDB), representante do legado da família na cidade. Na ocasião, o prefeito do município era Wilson Reis (MDB), tio de Washington e que o sucedeu no comando da cidade em 2022.

Outro fator que pesa para Reis não se alinhar a Bacellar é o apoio que o emedebista tem do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que o prefere em detrimento ao presidente da Alerj, conforme o Valor havia antecipado. Bacellar tenta concorrer ao governo sob a alcunha de candidato bolsonarista, embora seja visto com desconfiança por Bolsonaro.

Porém, para ser candidato, Reis precisa derrubar a sua inelegibilidade. O emedebista é condenado no Supremo Tribunal Federal (STF) por crime ambiental desde o fim de 2016, mas recorre há anos da decisão. Nesse ínterim, conseguiu se eleger à Prefeitura de Caxias em 2017 e 2020 e se manteve no cargo graças a decisões de efeito suspensivo da condenação pelo Supremo.

Ainda assim, quando tentou concorrer a vice na chapa de Castro, em 2022, a Corte vetou a candidatura por causa dessa inelegibilidade - que, pela Lei da Ficha Limpa, se mantém até 8 anos após o cumprimento da pena, o que ainda ocorreu. Agora, para 2026, Reis acredita que vai ter novamente o Judiciário a seu favor e conseguir estar nas urnas do próximo pleito.

Na segunda-feira (23), o ministro Gilmar Mendes fez um aceno a Reis ao indicar ao relator do processo na Corte, Flávio Dino, que o emedebista pode pedir um acordo de não persecução penal. Nesse caso, o secretário estadual teria que confessar o crime e, em troca, teria uma pena alternativa que pode lhe devolver os direitos políticos.

Dino precisará avaliar se o acordo vale para o caso de Reis e mandar o pedido à Procuradoria-Geral da União (PGR). Em seguida, o órgão também precisa concordar com a solução. Do contrário, o processo continua no STF. Hoje o julgamento está paralisado, após pedido de vista de Gilmar, e o placar para manter a inelegibilidade é de três votos a um.

Em paralelo, há uma outra movimentação que também tem potencial de reconfigurar o cenário de 2026. Eduardo Paes quer ter o apoio de Reis na disputa ao governo do Estado, esteja o emedebista elegível ou não. No primeiro caso, para não concorrer contra o emedebista, o prefeito do Rio tem oferecido a ele uma das vagas para concorrer ao Senado, segundo afirmam fontes ligadas a ambos.

Na administração carioca, a avaliação é que ter Reis no palanque ajudaria Paes a se colocar como um candidato mais de centro e lhe daria mais acesso a um eleitorado cristão e conservador que costuma votar no emedebista. Isso facilitaria ainda “neutralizar” uma eventual rejeição do prefeito por conta da proximidade dele com o presidente Lula (PT). O apoio de Reis também aproximaria Paes da Baixada Fluminense, por causa da forte influência que tem em Caxias.

Por fim, ter o MBD na coalizão daria também fôlego ao PSD contra a federação União Brasil e PP, de Bacellar, que garantirá ao deputado acesso a um extenso tempo de TV e fundo eleitoral milionário.

Paes e Reis já têm trabalhado juntos em prol de ampliar o metrô e trocaram afagos públicos recentemente. Enquanto isso, para azeitar a possível aliança, aliados de Paes vêm se encontrando com outros emedebistas no Estado.

Castro, Bacellar e Paes não quiseram se manifestar. Já Reis diz que, por ora, não quer tratar de eleição. “O processo eleitoral foi muito antecipado. Isso atrapalha o bom andamento do nosso trabalho, que deve focar em entregas à população”, disse ao Valor.

Mas Reis reconhece: “Ainda é muito cedo, passa muita água debaixo da ponte.”

Fonte: Valor Econômico