Bacellar acusa Paes de deixar um rombo na prefeitura do Rio, em estreia na cadeira de governador
Enviado Quarta, 18 de Junho de 2025.Postulante à sucessão de Cláudio Castro (PL) em 2026, presidente da Alerj aproveita viagem oficial como governador em exercício para rivalizar com prefeito da capital
Em sua viagem de "estreia" como primeiro da fila na linha sucessória do governo do Rio, o presidente da Assembleia Legislativa (Alerj), Rodrigo Bacellar, fez um discurso com críticas ao prefeito da capital, Eduardo Paes (PSD), possível adversário nas eleições de 2026. Bacellar, que está no cargo de governador em exercício devido a uma viagem do titular Cláudio Castro (PL), acusou Paes de "deixar um rombo" na prefeitura do Rio.
O discurso ocorreu durante viagem oficial de Bacellar por municípios do interior do estado, nesta terça-feira. Ele participou, como governador em exercício, de cerimônias de entrega de viaturas da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) nos municípios de Teresópolis e Italva.
Em sua fala no evento, Bacellar argumentou que o governo Castro não contraiu novas dívidas, e comparou o cenário ao da prefeitura do Rio, que obteve recentemente autorização da Câmara de Vereadores para contrair empréstimo de R$ 2,2 bilhões. O estado atravessa um Regime de Recuperação Fiscal (RRF) desde 2017, e agora negocia sua adesão ao novo Programa de Pleno Pagamento das Dívidas dos Estados (Propag) junto ao governo federal.
— É muito fácil ser prefeito de cidade grande, e aqui eu dou nome, como o prefeito do Rio de Janeiro, e que já foi para o terceiro empréstimo. Aí é mole. Quebrar a prefeitura, deixar um rombo para que nos próximos anos a cidade sofra por aquilo, para ser o "bonitinho cheiroso que entreguei um monte de coisa boa para a população, quando na verdade só estou preocupado com eleição". O dia que vocês esperarem isso da minha pessoa, façam um favor, não votem em mim — afirmou Bacellar.
A declaração do presidente da Alerj, em tom de campanha, também ocorre em um contexto de queda de braço dentro do governo estadual envolvendo uma proposta de redução da tarifa de trem e metrô. A medida foi apresentada pelo secretário estadual de Transportes, Washington Reis (MDB), que busca se viabilizar como candidato ao governo — embora Castro já tenha manifestado preferência por Bacellar.
Aliados de Castro alegam preocupação com o impacto fiscal da medida em meio às negociações para aderir ao Propag, embora também admitam, reservadamente, que o projeto poderia gerar um ativo eleitoral importante para Reis, concorrente de Bacellar.
No discurso desta terça, como governador em exercício, Bacellar defendeu que a postura do Executivo estadual seja de explicar "de cabeça erguida" quando houver falta de recursos para "resolver agora" determinadas demandas, sem se referir a algo específico.
Bacellar ascendeu ao primeiro posto da linha sucessória de Castro após uma série de articulações e pressões nos bastidores para que o então vice-governador, Thiago Pampolha (MDB), renunciasse ao cargo e assumisse uma vaga de conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE) no último mês.
O objetivo do presidente da Alerj é assumir a cadeira de Castro antes das eleições de 2026, para se tornar mais conhecido antes de disputar o posto de governador nas urnas. Castro tende a renunciar ao cargo em abril do ano que vem, que é o prazo obrigatório de desincompatibilização para concorrer ao Senado, seu objetivo em 2026.
Aliados de Bacellar, por sua vez, pressionam para que o governador abra espaço a ele antes desse prazo. Castro tirou uma licença de dez dias, a partir desta semana, para viajar com a família. O governador tende a adotar expediente semelhante nos próximos meses, permitindo que Bacellar tenha mais tempo de visibilidade no cargo.
Procurado para comentar as declarações de Bacellar, Paes não retornou o contato do GLOBO. O prefeito da capital, por ora, não se apresenta abertamente como candidato ao governo, e já negou ter a intenção de disputar a próxima eleição. Aliados e até adversários, no entanto, projetam que Paes estará nas urnas em 2026.
Fonte: O Globo