Como se planejar para ter uma restituição maior no Imposto de Renda de 2026

Enviado Quarta, 04 de Junho de 2025.

Organização e planejamento ajudam a ganhar uma quantia maior no próximo ano

A declaração do Imposto de Renda de 2026 só deve começar em março de 2026, mas um bom planejamento feito a partir de agora pode ajudar a ter uma restituição maior ou diminuir o tributo a ser pago.

A restituição ocorre quando o valor retido pela Receita durante o ano é maior do que o imposto devido pela pessoa. Já o pagamento será feito quando o tributo retido pelo contribuinte é menor do que a quantia a ser paga no ano.

Caso a Receita Federal não mude as regras no próximo ano, será possível deduzir gastos com saúde, educação, dependentes, previdência privada e livro-caixa , que ajudam a reduzir o imposto devido.

Qual o valor das deduções do IR em 2025?

  • Dedução por dependente: R$ 2.275,08 (valor mensal de R$ 189,59)
  • Limite anual de despesa com educação, pelo titular ou por dependente: R$ 3.561,50
  • Limite anual do desconto simplificado (desconto-padrão): R$ 16.754,34
  • Despesas de saúde devidamente comprovadas: não há limite de valores

A Folha ouviu especialistas que indicaram algumas dicas que podem ajudar o contribuinte a ter uma devolução maior.

Como se planejar para uma restituição maior

Separe documentos e comprovantes

O primeiro passo é se organizar e separar os documentos que são necessários para a declaração, como comprovantes e notas fiscais de despesas com médicos, hospitais, dentistas. Uma dica é listar as despesas e os valores de reembolso de plano de saúde, se for o caso.

Para quem investe em ações ou bitcoins, é preciso reservar as notas das corretoras que são enviadas para cada operação na Bolsa ou com criptomoedas. "Guarde os documentos em um local específico ao longo do ano para que você não precise correr na última hora atrás desses comprovantes", disse Claudinei Tonon, presidente do Sindicato dos Contabilistas de São Paulo.

Os informes de rendimentos de bancos, empresas, imobiliárias, operadoras de planos de saúde e de previdência, e órgãos públicos como o INSS (Instituto Nacional do Seguro Social), com os valores consolidados de 2025, serão enviados para o contribuinte até 28 de fevereiro do próximo ano.

Consulte o Receita Saúde

Uma novidade para a declaração do próximo ano é a obrigatoriedade do Receita Saúde, aplicativo que os profissionais da saúde devem usar para emitir seus recibos de pagamento das consultas realizadas como pessoa física.

Desde 1º de janeiro deste ano, a Receita passou a exigir que médicos, dentistas, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, psicólogos e terapeutas ocupacionais usem o aplicativo para comunicar os valores que receberam dos seus pacientes. O recurso está disponível desde abril de 2024, mas ele era opcional até 31 de dezembro do ano passado.

O contribuinte já pode consultar se os recibos foram emitidos. De acordo com a Receita, os dados inseridos no aplicativo serão importados automaticamente para a declaração pré-preenchida do Imposto de Renda.

O Receita Saúde é acessado pelo aplicativo da Receita Federal, que pode ser baixado para tablet e celular nas lojas oficiais da App Store (para iPhone e iPad) e da Play Store (para aparelhos com Android). É preciso tomar cuidado para não instalar aplicativos que não são oficiais. O desenvolvedor da Receita Federal é Serviços e Informações do Brasil.

Após instalar o aplicativo, vá em "Entrar com gov.br", informe o CPF e a senha para fazer o login. Em seguida, clique no item "Receita Saúde". Será aberto o "perfil paciente" e a pessoa pode consultar todos os recibos que foram emitidos em seu nome ou dos dependentes em 2025.

"O contribuinte terá uma garantia de que o médico com quem se consultou é um médico mesmo, porque tem casos de contribuintes que enviam recibos de pessoas que não são qualificadas para exercer a profissão. Já o médico não vai correr o risco de ter alguém fraudando o recibo dele, utilizando o nome dele indevidamente", diz Ricardo Ribeiro Júnior, supervisor do Imposto de Renda em São Paulo.

As despesas com a saúde foram a principal razão de malha fina em 2023 e 2024, devido a erros na dedução. O item tem especial atenção do fisco, já que não há limite para dedução de gastos com saúde no Imposto de Renda, mas é preciso seguir uma série de regras para ter essa despesa aceita pelo fisco.

A expectativa da Receita é que o aplicativo ajude a diminuir o número de declarações na malha fina. "Vai melhorar o controle das despesas do contribuinte com médicos, dentistas e outros profissionais, e também ajudar na dedução desses gastos", afirmou Welinton Mota, diretor tributário da Confirp Contabilidade.

"Se você consultar e não vir o recibo, pode cobrar do profissional e pedir que ele declare o gasto, que pode te ajudar a aumentar a restituição ou diminuir o imposto a ser pago", disse Mota.

Avalie seu perfil

O planejamento deve levar em conta se a declaração do Imposto de Renda será enquadrada no desconto simplificado (com o abatimento de 20% do imposto devido, com limite máximo de R$ 16.754,34) ou deduções legais.

A recomendação é usar o documento enviado neste ano como uma referência caso a pessoa tenha tido em 2024 as despesas de rotina. "Mas se houver uma nova renda ou gastos que não existiam no ano passado, é preciso reavaliar", disse Mota. Uma sugestão é usar o programa de declaração para simular as despesas e ver qual é a melhor opção tributária.

"Se as despesas dedutíveis superarem o desconto padrão, [o contribuinte] deverá optar pelo modelo completo. O modelo simplificado é ideal para quem não possui despesas dedutíveis significativas", comentou Renata Soares Leal Ferrarezi, advogada tributarista especialista em Imposto de Renda.

Investir ou não na previdência privada?

O contribuinte que simulou e concluiu que se enquadra na dedução legal pode investir no PGBL (Plano Gerador de Benefício Livre) para aumentar a restituição ou diminuir o imposto a ser pago. Para quem tem o desconto simplificado como melhor opção, o PGBL não fará diferença no cálculo.

Esse tipo de previdência privada permite dedução de até 12% do rendimento tributável no ano. Para ser informado e deduzido no IR de 2026, o PGBL precisará ser adquirido até 31 de dezembro de 2025, já que a declaração é relativa à movimentação financeira do ano anterior.

O investidor pode simular até quanto pode gastar com o PGBL, tendo como referência a declaração do Imposto de Renda entregue neste ano, caso não tenha variações de renda muito grandes de um ano para o outro. "Pegue o que você teve de rendimento tributável e calcule 12% desse valor. Essa será a quantia máxima que você poderá deduzir no ano que vem", destacou Mota.

O rendimento tributável é informado no item "Resumo da Declaração" que está no menu do lado esquerdo no PGD (Programa Gerador de Declaração). Clique neste item e selecione "Rendimentos Tributáveis e Deduções". Veja o total que está no item "Rendimentos Tributáveis" e multiplique por 0,12. "O resultado será o limite do que você pode contribuir com o PGBL", disse Mota.

Caso a quantia supere os 12% permitidos pela legislação, o excedente não será incluído como dedução. "Com este valor definido, a pessoa pode pagar de uma vez ou ir parcelando ao longo do ano. Caso ela tenha algum rendimento a mais durante o ano, ela deve refazer a conta e realizar o ajuste necessário", comentou Mota.

"Para fazer simulações mais exatas do valor ideal de investimento existem simuladores, que inclusive são ferramentas utilizadas por bancos e instituições de investimento", recomendou Ferrarezi.

A dedução com o PGBL exige que o contribuinte tenha contribuído para o INSS ao longo de 2025. Essa quantia é retida automaticamente na fonte caso ele seja empregado ou pode ser paga pelo próprio contribuinte com o recolhimento do Carnê-Leão durante o ano.

De olho no livro-caixa

Outra despesa que pode ser deduzida do Imposto de Renda é o livro-caixa de quem é autônomo. A recomendação é guardar todos os comprovantes de despesas, os recibos e as notas fiscais dados aos clientes e ficar atento com o enquadramento da empresa como MEI (microempreendedor individual), ME (microempresa) ou EPP (empresa de pequeno porte). Cada uma delas tem um limite de faturamento e uma tributação diferente.

"É permitido deduzir do valor recebido todos os gastos para a execução do serviço ou renda de aluguel. É necessário guardar por cinco anos esses comprovantes", dise Sandro Rodrigues, sócio fundador da Attend Contabilidade.

Doação é dedução?

A doação não aumenta a restituição e nem diminui o imposto a ser pago. De acordo com a Receita, o valor doado é considerado uma destinação do imposto devido. A quantia é repassada para a entidade escolhida pelo contribuinte em vez de ir para o fisco.

É possível doar para várias leis de incentivo e entidades beneficentes, mas a somatória tem o limite de 7% do imposto devido quando há um repasse para o desporto e o paradesporto, e de 6% quando não envolve o desporto ou paradesporto.

As doações feitas em 2025 só podem ser declaradas no Imposto de Renda de 2026. A exceção é a doação feita diretamente na declaração, que é realizada no programa de declaração e deve ser paga no mesmo ano da declaração, restrita a beneficiar entidades ligadas à infância, juventude e proteção de idosos.

Fonte: Folha de S. Paulo