Bacellar enfrenta resistências para disputar RJ em 2026

Enviado Segunda, 02 de Junho de 2025.

Ex-presidente tem mais proximidade com Washington Reis, do MDB, e seu partido quer o comando do legislativo fluminense

Com o caminho livre para disputar o governo do Rio em 2026, o presidente da Assembleia Legislativa do Estado, Rodrigo Bacellar (União Brasil), tem arestas para aparar com o PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro, e se sacramentar como candidato da direita. Apesar do apoio do governador Cláudio Castro (PL), o deputado precisa vencer a desconfiança de Bolsonaro. Outra contrapartida exigida pelo bolsonarismo é ter o controle sobre a sucessão no comando do Parlamento do Estado.

Para vencer as reticências de Bolsonaro, o filho mais velho do ex-presidente, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), tem feito o meio de campo. O senador tem tido reuniões com o presidente da Alerj para azeitar a relação do deputado com o pai. Segundo interlocutores, houve avanços desde o começo do ano, quando Bacellar intensificou os acenos ao líder bolsonarista, mas “ainda há longo caminho a ser percorrido”.

Há alguns motivos para as desconfianças de Bolsonaro. O primeiro é que essa é uma característica intrínseca do ex-presidente, dizem aliados. Argumentam que ele é desconfiado sobretudo com quem não faz parte de seu grupo mais próximo. E esse é o caso de Bacellar. Também pesa o passado petista do deputado estadual. O presidente da Alerj foi filiado ao PT no início dos anos 2000, por influência do pai, Marcos Bacellar, político sindicalista de Campos dos Goytacazes (RJ). O terceiro motivo é tempo. Para aliados do ex-presidente, ainda falta muito para a eleição de 2026 e Bolsonaro não quer ter compromisso de longo prazo com quem tem pouca relação.

Segundo fontes ouvidas pelo Valor, Bolsonaro pode até aceitar Bacellar como candidato, mas nada garante que retire o apoio se algo ou alguém melhor aparecer. E, nos planos do ex-presidente, o nome mais palatável para a disputa estadual é Washington Reis, cacique do MDB e secretário estadual de Transportes.

Para ser candidato, o emedebista tenta reverter no Supremo Tribunal Federal condenação por crime ambiental que o torna inelegível. Reis, no entanto, diz estar confiante para conseguir essa vitória judicial. Nos bastidores, ele também fala que está trabalhando para poder se lançar ao governo do Estado. Se isso se concretizar, pela relação mais antiga que o secretário tem com Bolsonaro, são todas as chances do ex-presidente apoiá-lo ao Guanabara em detrimento a Bacellar.

Para o presidente do PL fluminense, deputado Altineu Côrtes, o presidente da Alerj precisa se concentrar em atrair apoios e firmar alianças se quiser disputar o Estado. “O papel de Bacellar é construir uma unidade na direita e na centro-direita. Fazer com que todos estejam comprometidos com esse projeto e assumir os compromissos políticos para isso”, disse ao Valor.

Entre os compromissos há aqueles vistos como fundamentais pelo PL, como a sucessão para a presidência da Alerj - outro ponto de atrito entre Bacellar e a sigla. Para concorrer ao governo, o deputado quer “estar sentado na cadeira” e disputar como incumbente. Já há um acordo com o governador para que isso aconteça. Procurado, Bacellar não se pronunciou. Castro reafirmou que defende seu aliado como candidato e disse que não tem previsão para deixar o governo.

Mesmo sem ter data fechada, Castro deve deixar o cargo para se lançar ao Senado, e Bacellar assumirá o Estado. Assim, o comando da Alerj vai ficar vago. A ala ligada a Bacellar defende que o posto fique com alguém próximo, como Rodrigo Amorim (União Brasil) e Chico Machado (Solidariedade). O PL está de olho no cargo e tem reforçado que, pela troca de apoio ao Guanabara, o futuro candidato deve ceder sua sucessão. “A presidência da Alerj tem que ser do PL”, disse Côrtes.

Fonte: Valor Econômico