Reforma tributária amplia disputa por inteligência fiscal e revela fragilidade estrutural nas empresas

Enviado Quinta, 22 de Maio de 2025.

Falta de mão de obra qualificada expõe risco de erros durante a transição entre regimes tributários e pressiona lideranças a investir em capacitação

Com a chegada do Imposto sobre Bens e Serviços (IBS) e da Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS), as empresas terão de operar por anos em dois modelos distintos de apuração. Isso exige equipes preparadas para lidar com complexidade técnica, mudanças legais e ferramentas digitais.

A preocupação com a execução ficou mais evidente com a proximidade da primeira fase da implementação.

Segundo o CEO do Grupo Assertif, José Guilherme Sabino, o principal desafio das empresas está na escassez de profissionais capazes de traduzir as regras da reforma em processos eficazes. “O erro, ou acerto, será humano. A complexidade técnica da reforma exige mais do que entendimento jurídico, exige equipes capazes de aprender, interpretar e adaptar rapidamente às novas regras”, afirma.

Riscos da transição simultânea

Durante o período de transição, o Brasil vai operar dois sistemas tributários em paralelo: o atual, baseado em ICMS, ISS, PIS e Cofins; e o novo, que concentra a tributação no IBS e na CBS. Essa sobreposição impõe uma carga extra de trabalho técnico e operacional.

Entre os principais riscos estão erros de parametrização em sistemas de gestão (ERP), perda de créditos fiscais e aumento da litigiosidade. Além disso, há riscos de falhas na apuração e na entrega de obrigações acessórias, o que compromete a governança financeira. Outro ponto crítico é a qualidade dos dados contábeis, que pode ser afetada negativamente em processos mal estruturados.

“Não adianta investir nos melhores sistemas fiscais se não houver uma equipe treinada para operá-los com excelência”, diz Sabino.

A reforma exige profissionais com domínio legal, capacidade de leitura de normativos em constante revisão e fluência tecnológica. No entanto, a combinação dessas competências é rara no mercado. Esse problema se agrava com a baixa atratividade dos departamentos fiscais para as novas gerações de trabalhadores.

De acordo com o relatório 2025 Gen Z and Millennial Survey, da Deloitte, até o fim da década, 74% da força de trabalho global será composta por jovens das gerações Z e millennial. Apesar disso, apenas 6% da Geração Z deseja ocupar cargos de liderança sênior. A maioria busca aprendizado constante, impacto social e autonomia.

Esse comportamento contrasta com o modelo tradicional das áreas fiscais, marcado por hierarquias e pouca flexibilidade.

Apoio insuficiente ao desenvolvimento profissional

O levantamento da Deloitte também mostra que 50% da Geração Z e 48% dos millennials gostariam de mais apoio em sua qualificação. Por outro lado, apenas 36% e 32%, respectivamente, sentem que o recebem. Essa lacuna dificulta a formação de quadros técnicos preparados para lidar com a nova lógica da tributação.

Para Sabino, a retenção de talentos passa por estratégias que incluam trilhas de capacitação, mentorias internas e maior protagonismo em projetos de adaptação à reforma.

“A nova geração não quer apenas estabilidade. Ela quer propósito. Isso desafia as empresas a criar ambientes de aprendizado e atuação mais abertos à participação ativa desses profissionais”, afirma.

Empresas estão atrasadas na preparação de equipes

Em 2024, o Grupo Assertif promoveu um workshop gratuito com foco na preparação técnica para a reforma. Durante o evento, foram discutidos temas como simulações de impacto fiscal, utilização de calculadoras de split payment e integração com os controles exigidos pelo Comitê Gestor do IBS (CG-IBS).

Segundo a empresa, poucas organizações estão avançando na capacitação de suas equipes com a mesma intensidade com que investem em sistemas tecnológicos.

“A blindagem fiscal do futuro passa por um novo tipo de profissional, mais resiliente, flexível e com visão sistêmica da cadeia de valor”, diz Sabino.

Recomendações para lideranças empresariais

Para reduzir os riscos associados à mudança do sistema tributário e enfrentar o déficit de talentos, o Grupo Assertif aponta quatro ações imediatas:

Mapear as competências técnicas e comportamentais dos times atuais;
Desenvolver trilhas de capacitação focadas no novo modelo de tributação;
Estimular a troca de conhecimento entre gerações com programas de mentoria;
Incluir jovens talentos na reformulação dos processos fiscais.

De acordo com Sabino, a preparação das pessoas será determinante para garantir a segurança e a eficiência da transição.

“A nova equação do valor fiscal é clara: compliance + pessoas = a blindagem estratégica. A reforma é jurídica, mas a execução é humana.”

Fonte: Carta Capital