Primeiro mês da guerra tarifária não afetou comércio externo brasileiro, mostra Icomex
Enviado Segunda, 19 de Maio de 2025.A guerra comercial declarada por Donald Trump contra o resto do mundo não provou grandes mudanças no comércio externo brasileiro em abril. O superávit apurado no mês foi semelhante ao de 2024: US$ 8,2 bilhões contra US$ 8,4 bilhões. É fato, no entanto, que o resultado acumulado de janeiro a abril deste ano pela balança comercial foi bem menor do que o apurado no mesmo período de 2024: US$ 17,7 bilhões ante US$ 26,9 bilhões. O grande peso para essa redução veio da mudança de sinal nas negociações bilaterais com a China, de janeiro a abril, que foram negativas em US$ 3,6 bilhões este ano, enquanto acumulava superávit de US$ 5 bi no passado. Isso, no entanto, não guarda nenhuma relação com as mudanças tarifárias americanas, explica Lia Valls, coordenadora do Indicador de Comércio Exterior (Icomex) da FGV do Ibre.
- O déficit no comércio com a China foi registrado em janeiro e fevereiro e são o resultado do atraso da safra da soja, principal produto da nossa pauta de exportação com o mercado chinês - explica Lia.
A economista destaca ainda que não houve mudança na pauta de exportação brasileira nesse primeiro mês do anúncio das mudanças tarifárias implementadas pelos Estados Unidos. Na importação também não houve nenhuma mudança drástica, diz Lia.
- Houve um aumento na importação de produtos de couro da China, mas não houve salto ou mudança no percentual de participação. Ou seja, seguiu um movimento normal de crescimento que já vinha sendo observado.
As frequentes mudanças nas regras americanas, diz a coordenadora do Icomex, dificultam que se faça qualquer previsão para o futuro. A economista avalia, no entanto, que mantido o acordo firmado entre Estados Unidos e China, que estabeleceu em 30% a taxa de importação americana sobre os produtos chineses e de 10% a tarifa de importação aos americanos pela China, o Brasil pode perder a oportunidade de ampliar as exportações de calçados e têxteis para os Estados Unidos. Por outro lado, deve reduzir o temor de que o mercado brasileiro seja inundado por produtos chineses.
- Os chineses são muito competitivos, pode ser que possam absorver essa taxa de 30%. A questão é que ainda há muita incerteza; por isso, é muito difícil prever o que virá pela frente. A guerra comercial não foi preponderante para o resultado da balança comercial brasileira. Será preciso observar o que vem pela frente - ressalta Lia.
Fonte: O Globo - Coluna Míriam Leitão