Cedae vai contratar modelagem para definir futuro do negócio
Enviado Quinta, 20 de Março de 2025.Licitação está em fase final, com três concorrentes na disputa e que o resultado deverá ser divulgado na primeira quinzena de abril
A Cedae, estatal que capta e trata a água para consumo no Estado do Rio de Janeiro, abriu, em fevereiro, licitação para escolher a instituição financeira que vai desenhar as melhores alternativas em termos de modelo de negócio. A lista de opções poderia incluir a abertura de capital em bolsa, hipótese que foi levantada pelo governador Cláudio Castro na campanha de 2022, a venda direta de ações para um sócio ou a emissão de debêntures, entre outras operações. O mecanismo a ser adotado ainda não foi definido.
O Valor apurou que a licitação está em fase final, com três concorrentes na disputa e que o resultado deverá ser divulgado na primeira quinzena de abril. A partir de então, a empresa vencedora da concorrência terá prazo de seis meses a um ano para apresentar o resultado da modelagem. Um eventual IPO (oferta pública inicial de ações) na bolsa poderia permitir ao Estado levantar recursos diante do delicado quadro fiscal das contas.
O Estado do Rio fechou 2024 com um déficit de R$ 2,4 bilhões, segundo informou a Secretaria Estadual da Fazenda no início do mês. A cifra é menor do que a prevista pela Lei Orçamentária (LOA) do ano passado, que estimava um saldo negativo de R$ 8,5 bilhões. Para 2025, a previsão da LOA é de déficit de R$ 14,6 bilhões. Procurada, a Cedae confirmou que a licitação está em curso, mas não deu detalhes.
O estudo vem depois de o governo do Estado ter feito, em 2021, as concessões dos serviços de distribuição de água e tratamento de esgoto. Na ocasião, houve quatro leilões que dividiram os serviços em quatro áreas e permitiram arrecadar R$ 24,8 bilhões, dinheiro dividido entre Estado e municípios fluminenses.
A Cedae, que permaneceu sobre controle do Estado do Rio, ficou responsável por captar e tratar a água vendida às concessionárias. Em 2023, último dado anual disponível, a receita da empresa foi de R$ 3,199 bilhões, 4,27% maior sobre 2022.
O lucro naquele ano foi de R$ 4,21 milhões. Os números de 2024 ainda não foram divulgados pela empresa, que tem 99,6% das ações nas mãos do Estado, conta com 2,8 mil funcionários e é listada no mercado de balcão da B3.
A modelagem para a fatia da Cedae que permaneceu sob controle do Estado será o segundo movimento da empresa em poucos anos. O primeiro irrigou as contas do governo fluminense e de municípios. Em 2021, dos R$ 24,8 bilhões arrecadados nos leilões para prestação de serviços de distribuição de água e tratamento de esgoto, o Estado ficou com cerca de R$ 15 bilhões.
A modelagem do certame foi feita pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O restante dos valores arrecadados ficou com os municípios.
Semana passada, em entrevista ao Valor, o governador do Rio deixou claro que o IPO não é a única possibilidade sobre a mesa. Castro disse que, com o cenário de juros e dólar altos, “o dinheiro está muito caro” e afirmou que o Estado consulta “diversos players no mercado”. Em um cenário de juros mais altos, os investidores passam a ter opções menos arriscadas para remunerar o dinheiro, tornando, muitas vezes, pouco interessante para a empresa abrir capital.
Na campanha que o reelegeu em 2022, Castro afirmou que faria o IPO da Cedae, movimento que poderia representar a entrada de cerca de R$ 10 bilhões nos cofres estaduais, segundo disse à época em sabatina do Valor, da rádio CBN e dos jornais “O Globo” e “Extra”. “O que eu tinha mais na cabeça que era o IPO, fui desaconselhado [pelo momento atual de juros altos]”, disse Castro, semana passada a este jornal.
Na entrevista, o governador acrescentou que a Cedae contrataria um estudo para a escolha da melhor modelagem. Fontes afirmam que o IPO não está descartado e que outras opções poderiam ser a venda direta de ações para um sócio ou lançamento de debêntures, entre outros mecanismos que serão analisados.
Atualmente, a Cedae capta, trata e vende a água consumida pela população para três distribuidoras que atendem a quatro áreas: Rio+Saneamento, controlada pela Águas do Brasil e pela Vinci Partners, que arrematou o Bloco 3 por R$ 2,2 bilhões; Águas do Rio, controlada pela Aegea, que arrematou o Bloco 1, por R$ 8,2 bilhões, e o Bloco 4, por R$ 7,203 bilhões. Há ainda a Iguá Saneamento, que arrematou o Bloco 3, por R$ 7,286 bilhões. Além da outorga, as regras do leilão definiram o preço da água cobrado pela Cedae e o montante a ser investido pelas distribuidoras nas áreas de atuação.
Fonte: Valor Econômico