Rodrigo Bacellar reeleito presidente da Alerj

Enviado Terça, 04 de Fevereiro de 2025.

De forma inédita desde a fusão do Rio com a Guanabara, um presidente do Legislativo é eleito com 100% dos votos

A festa da vitória já estava pronta no hall de entrada da histórica sede do Legislativo fluminense, o Palácio Tiradentes. Alguns convidados beliscavam aperitivos antes mesmo da sessão porque sabiam qual seria o resultado: a reeleição de Rodrigo Bacellar (União) para mais um mandato como presidente da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj). Mas o que nem os corredores poderiam prever é que ele conseguiria algo inédito até para aquelas paredes que parecem ter testemunhado de tudo: o voto “sim” de todos os 70 deputados, incluindo os parlamentares de partidos de esquerda como PT e PSOL.

Pela primeira vez, desde a fusão dos estados da Guanabara e do Rio, um presidente do Legislativo é eleito com 100% dos votos. Nem os antigos poderosos Jorge Picciani e Paulo Melo conseguiram esse feito. Mas, apesar do resultado novo, a fórmula usada por Bacellar é velha conhecida da política: a negociação. Foi abrindo espaço para os principais cargos da Casa, tanto para o Partido Liberal (PL), do governador Cláudio Castro, quanto para siglas de oposição, como o PSOL, que ele construiu sua vitória unânime.

— Não adiantava estar no PL com 17 deputados e ter a força do governo que me apoiou e achar que eu poderia deixar todo o resto execrado. Então, trouxe o que eu aprendi da vida: que todo mundo pode se sentar à mesa, divergir e amanhecer melhor no outro dia — disse Bacellar, pouco após a vitória.

O PSOL, por exemplo, fez um acordo para manter as cadeiras nas comissões de Direitos Humanos, Combate ao Racismo, Servidores e Mulheres, além de ganhar a presidência de uma nova, que será criada nas próximas semanas: a de Legislação Participativa. O partido, no entanto, sustenta que, mesmo apoiando Bacellar, continuará a ser oposição a Cláudio Castro.

— O balanço que a gente faz desses dois anos é que o Parlamento não foi uma extensão do governo. Soube ter a autonomia na representação dos mandatos respeitada e abriu espaço para um novo acordo pelo qual, respeitando ainda mais a proporcionalidade e a democracia interna, podemos ter um Parlamento com maior autonomia e debates — justificou o líder do PSOL, Flávio Serafini, ao votar.

Segundo Yuri (PSOL), que vai participar da nova comissão, ela será criada por indicação legislativa:

— É uma busca de ampliar a participação popular nos assuntos e discussões da Assembleia Legislativa. Temos o aplicativo LegislAqui para proposições populares, mas com a Legislação Participativa, nos moldes da Câmara Federal, ampliaremos as ações por transparência e aproximação com o cidadão de nossas cidades — diz ele.

O resultado e o clima da votação de ontem foram bem diferentes dos do último pleito, há dois anos. Bacellar havia sido eleito deputado estadual pelo PL e deixado a Secretaria de Governo de Cláudio Castro para concorrer à presidência da Alerj sob as bênçãos do governador. No entanto, correligionários tentaram lançar uma chapa dissidente, encabeçada por Jair Bittencourt e sob tutela do presidente estadual da sigla, Altineu Côrtes. Esta chapa calculava que poderia vencer Bacellar com o apoio de partidos de esquerda, como PSOL e PT, e apostava que eles poderiam apoiar um nome do PL considerado mais neutro na Casa.

O clima pós-eleitoral de 2022 pesou na decisão da época, e o PSOL optou horas antes da votação por não apoiar uma chapa encabeçada pelo PL. Parte dos deputados do PT também seguiu esse caminho, e Bacellar foi eleito com 56 votos, 12 abstenções e uma ausência.

Com a briga interna no PL, Bacellar deixou a sigla e assumiu o controle do União Brasil no Rio. A mudança para um partido de centro foi outro fator que, segundo ele, contribuiu para partidos de esquerda decidirem votar nele.

Além disso, como presidente do União Brasil, ele abriu mão agora de dois cargos estratégicos na Alerj para seu antigo partido, o PL: Guilherme Delaroli, o novo 1º vice-presidente da Casa, é irmão do prefeito de Itaboraí Marcelo Delaroli e muito próximo de Alineu Côrtes. Na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), o presidente continuará a ser Rodrigo Amorim, braço direto de Bacellar, mas ele deixará o União e se filiará ao PL.

Destacando que todos os acordos com a bancada foram cumpridos, Verônica Lima (PT) ponderou que a mudança de Bacellar para o União Brasil foi decisiva:

— Vossa excelência hoje é membro de um partido que faz parte da base do governo do Presidente Lula. Portanto, eu fico absolutamente à vontade de votar hoje para presidente da Assembleia Legislativa.

Mas algo que as paredes do Palácio Tiradentes já cansaram de testemunhar também voltou a acontecer ontem: a antecipação do calendário eleitoral. Apesar de dizer publicamente estar num partido de centro por se entender melhor assim, Bacellar recentemente se encontrou com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Entre as pautas da conversa estava um possível apoio do clã Bolsonaro à sua futura candidatura.

O nome de Bacellar foi citado como candidato ao governo do Rio em 2026 por diversos deputados. Em seu discurso da vitória, ele disse, por exemplo, que vai levar a Alerj aos municípios do interior para ouvir os prefeitos. A promessa foi vista por alguns como primeiro passo de uma pré-campanha. Mas, em meio a graves problemas na Segurança Pública e ao aperto no Orçamento, Bacellar diz que esses serão os principais desafios de 2025 e nega que o clima eleitoral vá atrapalhar os trabalhos da Assembleia:

— Terei mão de ferro. Disso não posso abrir mão. Trato todos com um carinho enorme, mas quando é preciso bater na mesa, faço. É para isso que há o presidente. Seria insano pensar em eleição ao governo num estado com R$ 14 bilhões de rombo, num estado em que vemos policiais mortos. Primeiro temos que dar um choque de ordem, para depois, em 2026, falar de eleições que será inevitável.

Entre os possíveis postulantes ao cargo de governador também está o prefeito Eduardo Paes. Um dos principais articuladores políticos dele é o deputado estadual Guilherme Schleder (PSD). Ele deixou o comando da Secretaria municipal de Esportes na última sexta-feira para votar na eleição de Bacellar. Seu discurso ao votar “sim” foi um dos mais curtos de ontem. Ao todo, cinco deputados do partido do prefeito votaram “sim”.

Ao fim das últimas eleições, em outubro, Paes e Bacellar chegaram a trocar farpas publicamente. Em entrevista ao GLOBO, o prefeito disse que o governador sofria uma interferência da Alerj e “ameaças e extorsões”. Depois, o presidente da Assembleia chamou o prefeito de “vagabundo”.

Nos bastidores, Bacellar estava sendo cotado para ocupar a vaga no Tribunal de Contas do Estado (TCE) que abrirá em maio. Mas ontem, diante de efusivo apoio dos colegas, o deputado descartou essa possibilidade, deixando escapar que cogita concorrer ao governo. Hoje os deputados voltam ao trabalho: na pauta um projeto que obriga que pets shops tenham um veterinário no quadro de funcionários.

Confira a composição da nova Mesa Diretora

Presidente: Rodrigo Bacellar
1° Vice-presidente: Guilherme Delaroli (PL)
2ª Vice-presidente: Tia Ju (Republicanos)
3ª Vice-presidente: Zeidan (PT)
4ª Vice-presidente: Célia Jordão (PL)
1° Secretário: Rosenverg Reis (MDB)
2° Secretário: Dr. Deodalto (PL)
3ª Secretária: Franciane Motta (Podemos)
4º Secretário: Giovani Ratinho (Solidariedade)
1ª Vogal: Índia Armelau (PL)
2° Vogal: Rafael Nobre (União)
3° Vogal: Deputado Valdecy da Saúde (PL)
4° Vogal: Renato Miranda (PL)

 

 

 

 

Fonte: O Globo