Reforma tributária segue em andamento ao longo de 2025

Enviado Quinta, 02 de Janeiro de 2025.

Após quatro décadas de discussões, novo sistema de impostos ainda tem um período de transição e adequação para vigorar a partir de 2033
Discutida há 40 anos, a reforma tributária foi finalmente aprovada em 2023. O novo sistema tributário só passará a funcionar plenamente em 2033. Mas até lá, a União, estados, municípios, empresas e consumidores terão de se adaptar às novas regras, que ainda estão sendo discutidas pelo Congresso Nacional. Ao longo desse período, será feita a regulamentação da mudança do sistema tributário.

A reforma tributária sobre o consumo, prevista na Proposta de Emenda à Constituição 45, de 2019, trouxe a substituição de cinco impostos por um Imposto de Valor Agregado (IVA) dual, com a Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS) — um tributo federal — e o Imposto sobre Bens e Serviços (IBS), de estados e municípios. A exemplo de outras mudanças constitucionais, no entanto, para fazer o novo sistema funcionar, é preciso aprovar leis que regulamentem as mudanças. Isto é, que detalhem como as novas regras vão funcionar, quem vai aplicá-las, quem vai fiscalizá-las e quem está sujeito a elas.

Para isso, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) enviou dois textos ao Congresso: o Projeto de Lei Complementar (PLP) 68 e o PLP 108, ambos de 2024. O Legislativo aprovou o primeiro texto a poucos dias do fim dos trabalhos do Legislativo, em dezembro passado.

Entre os principais pontos previstos no PLP 68, está a criação de um cashback, que consiste na devolução de tributos para consumidores de baixa renda inscritos no Cadastro Único para Programas Sociais (CadÚnico) com renda familiar mensal per capita até meio salário mínimo.

O PLP 68 também traz regras para o período de transição; a isenção de proteínas (carnes, frangos e peixes) na cesta básica e o funcionamento do Imposto Seletivo, que vai incidir sobre produtos considerados prejudiciais à saúde e ao meio ambiente, conhecido com o "imposto do pecado". Serão sobretaxados produtos como refrigerantes, bebidas alcoólicas e cigarros. Há também regras para tributação de operações imobiliárias e a isenção a nanoempreendedores (com renda bruta anual inferior a R$ 40,5 mil) e motoristas de aplicativos.

A nova regra, ainda, o Comitê Gestor do Imposto sobre Bens e Serviços (CG-IBS), que fará a arrecadação e a distribuição dos recursos para os estados e os municípios, além de compensar os débitos e os créditos no sistema e interpretar a legislação para aplicar as regras corretamente. Inicialmente, a criação desse comitê estava prevista no PLP 108. O governo e o Legislativo, no entanto, resolveram antecipar essa medida para que o colegiado começasse a funcionar ainda neste ano, a fim de dar mais tempo de adaptação ao Comitê.

"Espinha dorsal"

A aprovação dessa regulamentação, ainda que com desidratações por pressões de diversos setores da sociedade, foi vista pelo governo Lula como uma vitória. Durante a votação no Senado, o secretário extraordinário da Reforma Tributária do Ministério da Fazenda, Bernard Appy, disse, na ocasião, que a equipe econômica gostaria que o PLP 68 tivesse sido aprovado com menos "exceções", mas afirmou que o governo ficou satisfeito porque a "espinha dorsal" da reforma foi mantida.

No Senado Federal, o texto foi relatado pelo senador Eduardo Braga (MDB-MG). Quando voltou à Câmara, o deputado Reginaldo Lopes (PT-MG) reassumiu a relatoria do texto para acatar ou rejeitar as mudanças feitas pelos senadores. Ele reverteu algumas mudanças, inclusive diminuindo as exceções incluídas no Senado, e o texto foi aprovado. Em entrevista ao Correio, o congressista, que comemorou a aprovação e destacou os benefícios que o novo sistema terá, ressalta a importância dessa reforma.

"É o maior fato histórico do ponto de vista de uma mudança estrutural para a economia brasileira. É a maior mudança estrutural dos últimos 60 anos. Porque corrige enormes distorções do sistema tributário sobre consumo que levaram o Brasil a ser uma economia primária exportadora. [O atual sistema] criou um sistema tributário que impede o Brasil de ser competitivo, de ter ganho de produtividade. Porque cobra imposto do imposto", afirma Reginaldo Lopes.

Para o deputado, o fato de o sistema brasileiro se equiparar aos sistemas tributários de economias desenvolvidas que já têm o IVA vai colocar o país em uma condição de maior competitividade. "O Brasil vai sair do pior sistema para o melhor sistema, que é o split payment, um sistema que é um tipo de Pix do tributo. Apuração, recolhimento, distribuição automática da arrecadação. Isso é uma modernização extraordinária, tecnológica", afirma Lopes. "E vai acabar com a sonegação, fraude e inadimplência. Porque hoje o imposto por dentro é escondido, o cidadão paga, não sabe quem tá pagando, a indústria por insegurança jurídica judicializa, para tudo no Cade, nas procuradorias-gerais das Fazendas dos estados, municípios e da União, e vai fazendo essa confusão", acrescenta.

Para o relator, o governo do presidente Lula precisa falar sobre o assunto para que a população entenda os benefícios da reforma. "Isso é algo a se comemorar, acho que o governo tem que falar mais sobre isso. (...) É um conjunto de ganhos da sociedade, da economia e da justiça tributária", afirma Lopes.

Quem também comemorou a aprovação foi o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). Depois de votar o pacote de corte de gastos e encerrar os trabalhos na Câmara em 2024, o congressista fez um balanço de sua gestão e destacou a importância da aprovação da reforma tributária.

"A reforma tributária, para acabar com o manicômio tributário, facilitar a situação da segurança jurídica, dar previsibilidade, simplificar o traço das coisas no Brasil com relação ao pagamento de impostos, recolhimento, competitividade. É uma lei esplendorosa e eu tenho certeza de que em 4 ou 5 anos, quando ela entrar em sua efetividade, com todo o período de transição, nós vamos fazer uma entrega para o Brasil ser o que sempre quis: um ativo de investimentos externos", disse Lira, na ocasião.

Fonte: Jornal Correio Braziliense