O alerta da Casas Pedro: reforma tributária vai salgar o bacalhau
Enviado Segunda, 04 de Novembro de 2024.Tratado como iguaria de luxo pelo Congresso na Reforma Tributária, o bacalhau luta para ser reconhecido como um prato popular. No Rio de Janeiro ao menos, onde a herança portuguesa é forte, o bacalhau está longe de ser um produto consumido exclusivamente pela Zona Sul. Porém, o preço do bacalhau corre o risco de ficar salgado com a nova tributação — que prevê isenção de alíquota para a picanha e até a carne japonesa Wagyu, mas deixou de fora o gadus morhua. O alerta vem da Casas Pedro, empório de venda a granel que é um dos maiores varejistas de bacalhau do país.
A rede deve vender 720 toneladas do peixe este ano — 6% mais do que no ano passado. Segundo o CEO Ivo Ferreira, a maior evidência de que o bacalhau é um alimento básico da dieta popular está na distribuição das vendas do produto nas 66 lojas próprias da rede.
— As quatro lojas da Casas Pedro em Copacabana não vendem juntas o que as unidades de Alcântara, Madureira ou Nova Iguaçu vendem separadamente o ano inteiro — diz Ferreira. Nesses bairros, a maior saída é de bacalhau desfiado, seco e salgado.
A Reforma Tributária aprovada na Câmara incluiu o complexo carne na lista da cesta básica que contará com isenção da alíquota: isso inclui todos os cortes bovinos e suínos, aves (menos foie gras) e pescados. Crustáceos, excluindo lagosta e lagostim, terão redução de 60% no IVA.
Dentre os pescados, importados como salmão, atum, bacalhau e caviar, entraram na lista das exceções, classificados como de luxo, passando a contar com alíquota cheia.
Hoje o quilo do bacalhau tipo gadus morhua é vendido por cerca de R$ 102 o quilo, valor que embute 20,3% de tributos. Se fosse incluído no complexo carne, o preço do quilo poderia cair para algo em torno de R$ 70. No entanto, se o Senado mantiver a redação aprovada na Câmara, o preço do bacalhau deve subir para mais R$ 120.
— Além de se tornar inacessível aos mais pobres, isso cria um problema de isonomia com outras proteínas. Como os outros peixes e carnes vão ficar mais baratos, haverá substituição no consumo — diz Ferreira. Além da alíquota maior, o preço ainda pode ser impactado pelo aumento que a reforma deverá provocar na cadeia de serviços.
No Congresso Nacional, quatro emendas tentaram incluir o bacalhau na lista do complexo carne, seja com isenção total ou de 60%, sob o argumento de se tratar de um alimento ligado à tradição religiosa.
O Brasil importou 11,2 mil toneladas de bacalhau de janeiro a agosto, sendo que 74,4% deste total chegou no país antes da Páscoa, período de maior consumo. Na Casas Pedro, contudo, embora haja aumento na Páscoa e no Natal, o consumo acontece o ano inteiro. — Das 720 toneladas que vendo no varejo, umas 100 ton são vendidas na Páscoa e no Natal — diz Ferreira.
Fundada por imigrantes libaneses em 1932, a Casas Pedro deve faturar R$ 630 milhões este ano. Hoje na terceira geração da família Mussalem, a rede tinha 12 lojas até 2015, quando se associou à Visagio, consultoria de gestão e transformação de negócio, vendendo 40% do negócio. De lá para cá, a Casas Pedro tem crescido mais de 10% ao ano, e faz planos de expansão para além do estado do Rio.
Fonte: O Globo - Coluna Capital