Com rejeição em alta na capital, Castro vira alvo de rivais que miram disputa ao governo do Rio em 2026

Enviado Segunda, 16 de Setembro de 2024.

Com gestão em crise e a segurança pública bombardeada na campanha eleitoral, governador é criticado até pela base na Alerj

Com reprovação em alta na capital e em meio a uma crise com aliados, o governador Cláudio Castro (PL) foi arrastado para a campanha à prefeitura do Rio e virou alvo constante de adversários. Ao citar um “aumento gigante da violência” como justificativa para trocar a chefia da Polícia Civil no início deste mês, Castro de uma só vez entregou munição para o prefeito Eduardo Paes (PSD), que busca culpar o governador por problemas na segurança, e ainda irritou a base de seu governo. À esquerda, o candidato do PSOL, Tarcísio Motta, também procura atacar Castro, cuja gestão classificou recentemente como “desastre”.

Paes, que lidera as pesquisas e busca a reeleição, vem tratando Castro como “padrinho” da candidatura do bolsonarista Alexandre Ramagem (PL). O prefeito, que prepara terreno para se candidatar ao governo estadual em 2026 — embora negue esta intenção —, também já frisou em sua propaganda que os problemas de segurança “não se limitam” à capital, e que já apresentou propostas para resolvê-los nas duas ocasiões em que se candidatou ao Palácio Guanabara, em 2006 e 2018.

Segundo pesquisa Quaest em agosto, Castro é avaliado positivamente por 14% dos cariocas, enquanto 42% consideram sua gestão negativa na capital. É o inverso da avaliação de Paes, que tem 51% de aprovação e 13% de reprovação. Os números de Castro são piores ainda do que os do presidente Lula (PT) e do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Além de expor Castro a críticas de adversários na segurança, área sensível nesta eleição, a troca da chefia da polícia derreteu a base política do governador na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj). Demitido por Castro há dez dias, o delegado Marcus Amim havia assumido a Polícia Civil no fim do ano passado numa articulação da Alerj, que mudou a lei orgânica da polícia para permitir sua nomeação. Na semana passada, após a demissão e sob críticas a Castro, Amim ganhou o cargo de coordenador de Segurança da Alerj.

Mal digerida por aliados, a saída de Amim gerou uma saia-justa para Ramagem, que reconheceu em sabatina do GLOBO que o governo “ainda precisa melhorar muito” a atuação na segurança pública — principal bandeira do candidato. A demissão ainda desagradou o presidente do Alerj, Rodrigo Bacellar (União), que disputa influência no governo com outros interlocutores.

Na quinta-feira, parlamentares do PL e do União constrangeram sete secretários de Castro com uma convocação para depor numa Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que apura um suposto descumprimento da Lei de Acesso à Informação na gestão estadual. Apelidada de “CPI da Transparência” e criticada por integrantes do governo pela falta de um objeto definido, a comissão passou a mirar em aliados de longa data de Castro, com ameaças à sustentação política do governo.

A linha de frente da CPI reúne nomes de confiança de Bacellar, como o deputado Rodrigo Amorim (União). Ele também é candidato à prefeitura do Rio, devido a uma articulação do governo Castro para engrossar a oposição contra Paes. Na sessão de quinta, Amorim usou a CPI para criticar o governo e citou “rumores de arapongagem” por parte do Palácio Guanabara contra deputados.

Presidente da CPI, Alan Lopes (PL), que acompanhou Ramagem ao primeiro debate da campanha na TV Band, chegou a sugerir na sessão que o próprio Castro teria que “sentar aqui e ouvir”, se os deputados quisessem convocá-lo. Depois, disse que citou o governador por “força de expressão”, mas manteve o tom bélico e lembrou o impeachment do ex-governador Wilson Witzel, de quem Castro era vice:

— Não é interessante para ninguém ter mais um impeachment de governador. A gente está aqui para ajudar o estado, mas como podemos ajudar com essa pouca vergonha que está acontecendo?

Procurado, o governo do Rio não retornou os contatos.

Interlocutores de Castro avaliam que a crise tem como pano de fundo a disputa pelo governo em 2026. Bacellar aspira concorrer ao Guanabara, impulsionado pela máquina estadual. Neste ano, Castro prestigiou o lançamento de candidatos a prefeito aliados de Bacellar em municípios como Belford Roxo e Campos dos Goytacazes. No geral, porém, tem tido participação discreta na campanha municipal.

O futuro político de Castro, que já aspirou concorrer ao Senado, hoje é incógnita. Para concorrer a outro cargo em 2026, ele teria que repassar o governo a seu vice, Thiago Pampolha (MDB), com quem rompeu politicamente.

Fonte: O Globo