Relator da LDO no Rio critica regras sugeridas pelo governo estadual para executar emendas da Alerj
Enviado Sexta, 10 de Maio de 2024.Em projeto, Cláudio Castro estabelece limites apenas para casos em que não é possível custear ação proposta por deputado
Em seu relatório sobre o projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), o deputado André Corrêa (PP), presidente da Comissão de Orçamento da Assembleia Legislativo do Rio, criticou as regras sugeridas pelo governo estadual para a execução das emendas impositivas. Aprovado em 2023, o orçamento previa R$ 190 milhões para os deputados escolherem este ano que projetos querem custear. Entre as mudanças no texto da LDO enviado pelo governo está que não haverá prazo para o início prazo de execução dos projetos.
No texto enviado pelo governo à Alerj, o único prazo que seria estabelecido é de casos que o projeto seja inviável tecnicamente de ser executado. Nesses casos, em até 120 dias após a sanção da Lei Orçamentária Anual (LOA) o governo estadual justificaria os motivos que não poderia custear a ação. Os deputados teriam um mês para indicar a realocação dos recursos e, caso um novo projeto que não possa ser feito permaneça na lista, o dinheiro será destinado ao órgão com a atribuição prevista na emenda.
"Para dizer o mínimo, não incentiva uma atuação ágil por parte das secretarias e entidades do governo (...) Trata-se de um prêmio à ineficiência e/ou falta de vontade em transformar o objeto da emenda em realidade. Em outras palavras, se o ordenador de despesa encarregado da execução da iniciativa parlamentar vier a ser contemplado com o uso discricionário dos recursos de uma emenda considerada tecnicamente inviável, ele estará sendo incentivado a não executá-la", diz trecho do relatório.
Outro ponto de críticas de André Correa é a falta de transparência no trâmite de execuções das emendas. Na Lei Orçamentária Anual (LOA) de 2023, a Alerj aprovou algumas medidas que foram vetadas pelo governador Cláudio Castro.
"Não foram previstos procedimentos para dar publicidade aos eventos e informações de caráter administrativo (licitações, contratos, fornecedores etc.) decorrentes dos processos de execução dos recursos das emendas impositivas, preocupação que a Alerj teve ao aprovar o orçamento de 2024 com instruções bem detalhadas a esse respeito", diz trecho do documento.
Procurada, a secretaria estadual de Planejamento e Gestão (Seplag) diz "os prazos estabelecidos na LDO 2025 são as datas limite para resposta dos órgãos executores, e que visa garantir a execução do que foi proposto". A Seplag ainda afirma que as regras de destinação das verbas às secretarias para emendas que não sejam tecnicamente adequadas só seriam feitas após um prazo determinado pela LDO e que é necessário "para não haver desperdício do dinheiro público, podendo ser revertida para políticas entregues à população"
"Os procedimentos para dar publicidade aos eventos e atos administrativos serão rigorosamente os mesmos seguidos por todo o conjunto da administração pública, sob observação do Tribunal de Contas e demais instâncias de controle", diz trecho da nota.
O orçamento impositivo foi aprovado na Assembleia Legislativa em outubro do ano passado, quando foi votada a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que retirou da Carta do estado o artigo que só permitia as emendas após o fim do Regime de Recuperação Fiscal do Rio. Sem o obstáculo, 0,37% da arrecadação com impostos, como o IPVA e o ICMS, será destinado aos deputados, que vão definir como o dinheiro será gasto — desde que pelo menos 30% fiquem para saúde e 30% para a educação. A Constituição Federal determina o limite de 2% da Receita Corrente Líquida (RCL) do orçamento para as emendas impositivas. O percentual é o adotado pelo Congresso Nacional.
A antecipação do orçamento impositivo foi muito comemorada por governistas e oposicionistas no ano passado, já que, antes, o parlamentar precisava negociar diretamente com o Executivo para ver seu projeto sair do papel. Mas ainda há um entrave para os políticos incluírem a conquista na próxima campanha eleitoral. É que a Lei Orçamentária Anual (LOA), aprovada pela Alerj, estipulava o prazo até 31 de maio para o governo liberar esses recursos. No entanto, o governador Cláudio Castro vetou esse dispositivo, o que em ano de eleição pode ser crucial: pela legislação, candidatos só podem participar de inaugurações e entregas de equipamentos até a primeira semana de julho. Há um movimento na Assembleia é para derrubar esse veto. Castro prometeu executar todo o orçamento impositivo, mas até o fim do ano e sem relação com o período eleitoral.
Com dados da Lei de Acesso à Informação (LAI) o GLOBO criou uma ferramenta que permite o leitor consultar como cada deputado destinou suas emendas parlamentares, já que ainda não há dados divulgados sobre o tema pela Alerj ou governo estadual. No projeto, Castro sugere que a Secretaria de Planejamento publique as informações da execução das emendas a cada quatro meses.
Outra alteração proposta na LDO é a criação de cotas mínimas de R$ 100 mil para a aplicação de recursos. Das 812 emendas apresentadas, 31% foram menores desse valor sugerido por Castro. O menor montante foi do deputado Renato Cozzolino (União), que alocou R$ 522 ao município de Magé, seu reduto eleitoral, para contratação de Punção Aspirativa por Agulha Fina, exame para o diagnóstico de câncer de mama.
O governo estadual estimou que o déficit público de 2025 chegue a R$ 13,7 bilhões, um aumento de 61% em relação a esse ano, quando o rombo dos cofres deve chegar a R$ 8,5 bilhões. Os técnicos preveem que até 2027 o déficit quase dobre, ultrapassando os R$ 16,3 bilhões.
A dívida com a União é um dos principais problemas de caixa apontado pelo governador Cláudio Castro na mensagem enviada aos deputados. A estimativa é que em 2025 o Rio pague em dívidas R$ 11,6 bilhões, valor que vai crescendo ano a ano. O governador foi esta semana à Brasília tentar avançar nas negociações com o Ministério da Fazenda sobre o Regime de Recuperação Fiscal. As conversas não têm avançado como o esperado pelo governo fluminense, que estuda entrar com uma ação no Supremo Tribunal Federal. Umas das alegações é que o Planalto não poderia cobrar juros, apenas a mora da dívida.
A última versão do acordo de Recuperação Fiscal do Rio foi assinado por Castro em 2022 durante o governo Bolsonaro. Na época o estado ficou em risco de ter que quitar R$ 42,8 bilhões da dívida à União. As negociações demoraram um ano, sobretudo porque o técnicos do Ministério da Economia emitiram pareceres contrários à renegociação. No final, ficou estipulado que a dívida seria parcelada até 2030 e as parcelas aumentariam escalonadamente.
A Fazenda fluminense já havia previsto que em 2024 o Rio voltaria a conviver com o déficit nas contas públicas após dois anos de superávitis. Durante a discussão do orçamento, a Alerj aprovou duas medidas para tentar aliviar os cofres: a desvinculação dos Fundos e o aumento da alíquota do ICMS.
Um dos pontos abordados no projeto da LDO é a volatilidade da receita do Rio, que tem como principais fontes de recursos o ICMS e os Royalties do Petróleo. Em 2022, com o barril do petróleo sendo comercializado, em média, a US$ 100, o Rio teve o recorde da arrecadação dos royalties. O preço caiu e é atualmente negociado a US$ 90, sendo que em 2023 chegou ao valor mínimo de US$ 84. A expectativa é que em 2025 a receita com petróleo e gás chegue a R$ 26,37 bilhões.
"O Estado possui adversidades a serem enfrentadas para a manutenção do seu equilíbrio fiscal, em razão da volatilidade da receita visto que fatores externos s, como o preço do Brent, não estão sob controle do poder público estadual e influenciam diretamente este resultado", diz trecho da LDO.
Em março, O GLOBO revelou que Cláudio Castro determinou a todo governo a redução de 20% dos contratos da administração pública. Diversas secretarias, no entanto, alegaram que o corte impactaria a prestação de serviços públicos. Em contraponto, em um ano houve o crescimento de 21% no número de comissionados em cargos de confiança, ao custo de R$ 57,5 milhões.
Fonte: O Globo
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