Presidente interino da Alerj, Guilherme Delalori admite:
Enviado Sexta, 12 de Dezembro de 2025.Deputado abandona postura protocolar, inicia transição e reorganiza cargos enquanto tenta conter turbulência política na casa
Desde a prisão do colega Rodrigo Bacellar, e do seu afastamento da presidência da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), o deputado estadual Guilherme Delaroli (PL), 1º vice-presidente da Casa, fez questão de reafirmar sua condição de interino. Ao microfone, na condução das sessões plenárias, dizia estar apenas “cumprindo o rito regimental”, que seu papel era o de vice e que a presidência “pertencia a Bacellar”. Ontem, após o anúncio de que Bacellar havia pedido licença do cargo por dez dias, transformou sua postura na Casa, deixando o discurso protocolar de interino para assumir com "caneta firme" o comando.
A ascensão de Delaroli ao posto máximo da Alerj ocorreu na quarta-feira, após a prisão de Bacellar pela Polícia Federal, que o investiga por suspeita de vazamento de informações sigilosas. Militar da reserva da PMERJ, ex-coordenador em Itaboraí e eleito com mais de 114 mil votos em 2022, o parlamentar agora enfrenta o desafio de equilibrar a gestão da Casa em meio a um vácuo político.
Nas sessões plenárias, era incisivo em dizer ao microfone que estava apenas "cumprindo o rito regimental", que seu papel era o de vice e que a presidência "pertencia a Bacellar". O parlamentar evitava interferências políticas e afirmava que não agiria antes da notificação formal do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre o afastamento ser efetivamente enviada ao seu gabinete.Essa posição, descrita por aliados como de "protocolo", mudou radicalmente com o comunicado oficial de Bacellar sobre sua licença. Com a formalização da ausência do presidente afastado, Delaroli agiu com desenvoltura de dirigente, sinalizando que assumiu a caneta do comando: acelerou a transição, convocou reuniões e afirmou que fará as mudanças que considerar necessárias enquanto estiver na direção da Casa.
Articulação e Conversas Pendentes
A nova postura de Delaroli foi confirmada na quarta-feira, com um encontro com o Governador Cláudio Castro. O parlamentar disse que o encontro se deu para tratar de assuntos de interesse da Alerj, mas foi categórico ao dizer que a situação de Bacellar não entrou na pauta.
Delaroli também reforçou que ainda não conversou com o presidente afastado — tema que, segundo ele, deverá ser tratado somente após o término da licença de Bacellar, para resolver questões pendentes relacionadas à presidência.
Nesta quinta-feira, a mudança de comando ficou mais evidente com a intensa movimentação no gabinete de Delaroli, que se tornou ponto de encontro de aliados de Bacellar, como o líder da bancada do União e presidente da CCJ, Rodrigo Amorim, e os deputados Alexandre Knoploch (PL) e Val Ceasa (PRD). Delaroli recebeu a todos com gestos de conciliação, sinalizando um esforço para manter a articulação interna do grupo político que orbitava em torno do ex-presidente. O secretário executivo do União Brasil, Márcio Bruno, também esteve presente para tratar da transição entre as equipes, um passo considerado estratégico na nova gestão. Apesar de assumir a gestão em meio a um cenário de turbulência, Delaroli manteve o discurso de que sua prioridade é o trabalho e não a política eleitoral. Para descomplicar o cenário, o presidente em exercício manteve seu tom descontraído e humilde: "Eu sou um cara simples, xucro e da roça. Entendo de cavalo e de asfalto", declarou, indicando que o foco, no momento, é na gestão prática da Casa.
Se a interinidade de Delaroli será breve, dependerá agora das decisões do STF e da evolução das investigações que envolvem Bacellar. Até lá, o deputado tenta consolidar sua autoridade em meio ao vácuo de poder na Alerj.
Como que o senhor avalia que vai ser a sua presidência?
Vou manter a calma, a tranquilidade e priorizar as pautas que mais interessam ao povo. Vejo que o embate entre a direita e a esquerda é muito prejudicial ao parlamento e às pautas importantes da casa, pois cada um quer fazer o seu discurso. Isso é natural, é democrático, mas muitas vezes atrapalha o andamento de pautas que realmente vão mudar a vida do nosso povo. Portanto, a minha missão é fazer com que essas pautas avancem para melhorar a situação. Já vivemos um momento tão ruim no Estado do Rio de Janeiro: um momento ruim na segurança, na saúde, e de incerteza. Infelizmente, aconteceu o que aconteceu com o presidente Bacellar. Eu não tinha vaidade nenhuma de ser presidente, mas Deus colocou essa missão em minha vida. São coisas que não posso fugir.
Nunca fugi à luta. Confesso a você que [assumir a presidência] me atrapalha um pouco no que eu mais gosto de fazer, pois sou um cara muito ativo e ligado a obras. Gosto de estar na obra, de estar no canteiro com meu irmão, de estar rodando pelo estado, fiscalizando o que está certo e o que está errado. Agora, me vejo dentro da Alerj, tendo que analisar todos os projetos de lei, dialogar com todos os deputados, sejam eles de direita ou de esquerda. É tudo muito novo para mim, mas, devagar, vamos pegando o jeito e conduzindo da melhor forma."
O senhor quis manter o trabalho no seu gabinete desde que tudo aconteceu. O senhor pretende tocar a presidência da Alerj do gabinete ou haverá mudanças?
Chamei o chefe de gabinete do presidente Rodrigo Bacellar e conversei com ele para podermos fazer uma transição. Afinal, eles já estavam lá. Vou fazer um ato administrativo e nomear três pessoas do meu gabinete para fazerem essa transição com a equipe do Bacellar da melhor forma possível.
O senhor também pretende mexer em algum dos cargos comissionados da presidência?
Sou o presidente em exercício, ou seja, todos os cargos relacionados ao presidente têm que trabalhar comigo. A presidência do Rodrigo tem o staff dele, a pessoa que trabalha com ele. Como eu assumi, todos os cargos referentes à presidência serão nomeados por mim. E isso já começou. Vou nomear o meu chefe de gabinete da presidência, o assistente da presidência e o diretor-geral da casa. Vou vendo quem é quem. Então, eu vou substituir pelos cargos de confiança do meu pessoal.
O que mudou com o senhor se tornando presidente. Quais eram as suas propostas enquanto deputado?
Foi tudo muito em cima, não esperava essa guinada brusca no meu mandato, na minha vida, mas não muda muita coisa não.
Como tem sido a sua relação com o governador Cláudio Castro?
Estive com o governador ontem, mas nos falamos todos os dias por telefone. Acho que vivemos em harmonia. Os poderes têm que viver em harmonia, e, claro, cada um respeitando o outro. O governador foi uma pessoa que ajudou muito a minha cidade (Itaboraí), sou muito grato por tudo que ele fez pelo município. Não construímos nada na vida se não tivermos parceiros. O deputado Altineu Côrtes também ajudou muito o município com emendas. As contas da cidade já estão pagas graças à administração do prefeito Marcello Delaroli, que é meu irmão, claro, e a parceria que a gente tem com todo mundo.
Alguns prefeitos já procuraram o senhor?
Sim, estão ligando para mim. Eu já vi que o presidente Bacelar fez um projeto de lei contemplando os 92 municípios com o dinheiro que os deputados economizaram da Alerj. O presidente da CCJ, Rodrigo Amorim, criou um projeto de lei e nós votamos. Tratei desse projeto com o governador ontem e ele já me ligou avisando que está assinando e, muito em breve, vamos fazer o repasse aos municípios.
O senhor e o governador chegaram a falar dessa situação do Bacelar ou esse assunto não surgiu?
Não, não rolou esse assunto comigo e o governador. Só tratamos de pautas do governo como o Propag.
Como que fica, na sua percepção, o tabuleiro político para o ano que vem?
Olha, eu vou ser bem sincero para você. Estou preocupado com agora e com o hoje. Preocupado em tocar a casa e as pautas de interesse do nosso povo. Eu nunca fui político. Não tinha pretensão nenhuma de ser político na minha vida. Isso aconteceu por apoio do meu irmão, do Altineu e do Castro. Então, essa parte de candidato, de lançar quem vai ter voto, isso deixo com eles. Eu não toco nesse assunto. Me dá uma rua para asfaltar que eu vou asfaltar. Me dá um bairro para reurbanizar que eu vou fazer, entendeu?
O senhor e o Bacellar chegaram a conversar em algum momento, desde que ele saiu?
Não houve nenhum contato meu com o presidente Bacellar. Espero até que esse contato aconteça quando ele voltar de licença. Ele deve reassumir as atividades parlamentares aqui na casa. Essa transição está sendo feita agora, pelo ato administrativo que mandei fazer da minha equipe com a dele.
O que o senhor deseja para o próximo ano?
Desejo um ano de bênçãos, um ano sem esse tipo de episódio que mancha realmente a política carioca.
Fonte: Extra
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