Campos Neto diz que ‘maior incerteza sobre âncora fiscal’ afeta política de juros

Enviado Quinta, 18 de Abril de 2024.

Dois dias após governo mudar a meta para o resultado das contas públicas, presidente do BC afirma em Washington que 'se você perde a credibilidade, torna mais custoso o trabalho'

O presidente do Banco Central do Brasil, Roberto Campos Neto, afirmou nesta quarta-feira que a mudança de alvo para o controle das contas públicas aumenta o cenário de incerteza sobre o controle fiscal no Brasil.

Na última segunda-feira, o Executivo fixou como zero (ou seja, receitas iguais às despesas) a meta de resultado das contas públicas no próximo ano. Até então, o governo trabalhava com um superávit (receitas superiores às despesas) de 0,5% para 2025, ou R$ 61 bilhões de saldo positivo nas contas.

— O problema é que, temos mencionado isso, a âncora fiscal e monetária são muito relacionadas. Se você perde credibilidade ou se você está indo para um cenário de maior incerteza sobre o âncora fiscal, isso torna mais custoso o trabalho do outro lado — cita, em relação ao trabalhado do BC na trajetória de juros para o controle da inflação.

A perspectiva é que a expansão fiscal, além de aumentar a incerteza sobre a trajetória da dívida, gera pressão na demanda por maior consumo. Isso, consequentemente, impacta nos preços. Se houver uma expectativa de inflação maior, o Banco Central pode retardar o ciclo de queda de juros.

— Nós sempre defendemos que se deveria permanecer com a meta e fazer o que fosse necessário para atingi-la. Entendemos que houve uma necessidade de mudança — declara.

No último ano do governo Lula, a equipe econômica está prevendo um superávit de 0,25% em relação ao PIB ou R$ 33,1 bilhões.

Na última reunião do Comitê de Política Monetária, em março, o Banco Central reduziu a taxa básica de juros (Selic) em mais 0,5 ponto percentual, para 10,75% ao ano. Uma sinalização recente foi a tendência de ritmo menor de queda da taxa de juros a partir de junho.

— Parte da deterioração (das expectativas) tem, diferente de outros países, e ao menos parcialmente, essa explicação (sobre fiscal). Temos outros ruídos, como Petrobras, Vale, etc. Mas parte disso está relacionado à percepção de que a revisão do fiscal faz da sustentabilidade da dívida um objetivo mais difícil de atingir — cita o presidente do BC.

Fonte: O Globo