ICMS cria embate entre Gilmar e Mendonça

Enviado Sexta, 24 de Junho de 2022.

As discussões no Supremo Tribunal Federal (STF) em torno do ICMS sobre os combustíveis provocaram uma disputa entre os gabinetes do mais antigo e do mais recente integrante da Corte - os ministros Gilmar Mendes e André Mendonça, respectivamente.

Ambos são relatores de processos semelhantes sobre o tema, mas têm visões opostas. Diante disso, há um debate em curso sobre quem, afinal, deve ficar responsável pelas decisões envolvendo o modelo de tributação a ser adotado pelos Estados. Os governadores querem Gilmar. O presidente Jair Bolsonaro, Mendonça, indicado por ele ao STF.

Na semana passada, Mendonça definiu que as alíquotas do imposto devem ser uniformes em todo o país, sendo que, dois dias antes, ao analisar petição quase idêntica da Advocacia-Geral da União (AGU), o decano havia decidido não conceder a liminar, mas instruir o processo para ser julgado direto em plenário.

Temendo queda bilionária nas suas arrecadações anuais, os 26 Estados e o Distrito Federal pediram ao STF para que fique válida apenas a decisão de Gilmar, assinada antes da liminar de Mendonça. Segundo a petição, ter o mesmo tema sob a alçada de dois ministros diferentes pode causar insegurança jurídica.

Agora, o decano tem a possibilidade de derrubar a decisão do colega - e estaria inclinado a fazê-lo. A interlocutores, o ministro indicou que, entre a alta dos preços nas bombas e a sobrevivência fiscal dos Estados, a prioridade seria salvar os Estados.

Ele reconhece, entretanto, tratar-se de uma “escolha de Sofia”. Além disso, a guerra de liminares entre ministros costuma ser uma fonte de grande desgaste interno - algo que a Corte, já sob os constantes ataques de Bolsonaro, não precisaria neste momento, conforme fontes do tribunal.

Uma das opções cogitadas pelo decano é submeter a discussão do ICMS a uma nova tentativa de conciliação. Com Mendonça, o acordo não prosperou. Os governadores exigiram compensações que o governo federal considerou inexequíveis. Sem consenso, o ministro concedeu a liminar em favor da União.

A decisão causou mal-estar nos bastidores. Para uma ala do tribunal, Mendonça ampliou o objeto da sua ação, que discutia um convênio do Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz), e não exatamente a questão da seletividade do ICMS - foco principal do processo que está com Gilmar. Ademais, o ministro foi criticado internamente por não ter submetido sua liminar para referendo em plenário - algo que ele ainda resiste em fazer, diante da possibilidade de sair vencido do julgamento.

A derrubada da alíquota única é o pior cenário para Bolsonaro, que considera a redução do ICMS uma medida urgente para baixar os preços dos combustíveis, conter a inflação e diminuir o desgaste do presidente a menos de quatro meses das eleições.

A definição sobre a relatoria definitiva ainda deve ganhar novos capítulos. O Valor apurou que a AGU também pode entrar em cena, pedindo para que Mendonça seja o único responsável pelos casos envolvendo o ICMS. Diante disso, não se descarta que o presidente da Corte, ministro Luiz Fux, seja provocado a dar a palavra final.

Fonte: Valor Econômico