Fechamento de empresas no Rio cresce 27%

Enviado Terça, 19 de Março de 2024.

Número de companhias abertas em 2023 avança em ritmo mais modesto, de 0,4% ante o ano anterior

A abertura, no ano passado, de uma franquia de alimentação saudável no centro do Rio foi a primeira experiência de Yuri Osório de Oliveira, de 28 anos, na área de refeições. Antes produtor de eventos, ele não achou tão difícil começar no ramo. Porém, mesmo sem experiência na área, o empreendedor já tinha percepção de que abrir um novo negócio não seria o principal desafio em sua empreitada no setor de serviços na capital fluminense. “Não digo que abrir negócio seja fácil. Mas creio que é muito mais difícil manter o negócio do que abrir”, ressaltou.

A afirmação do empresário vai ao encontro de estudo sobre o tema, feito pelo Clube de Diretores Lojistas do Rio de Janeiro (CDLRio) em parceria com o Sindicato dos Lojistas do Comércio do Município do Rio de Janeiro (SindilojasRio). O negócio de Oliveira foi uma das 283.249 empresas abertas no ano passado no Estado do Rio, volume 0,4% maior ante as aberturas em 2022. Ainda de acordo com o levantamento, denominado “Os Caminhos da Economia Fluminense”, divulgado ao Valor, foi o maior patamar de abertura de empresas no Estado fluminense desde 2019, início da série histórica do estudo para esse dado.

No entanto, o mesmo levantamento, feito com base em dados da Junta Comercial do Estado do Rio (Jucerja), mostra que 159.095 CNPJs foram fechados no Estado no ano passado, alta de 27,3% ante o ano imediatamente anterior. A conta de abertura e de fechamento de empresas inclui também números de MEI (Microempreendedor Individual).

Um dos fatores que contribuem para esse cenário de volume alto em fechamento de empresas é a dificuldade de elas se manterem a longo prazo no Rio, afirma o assessor Econômico do CDLRio/SindilojasRio, Antonio Everton, responsável pelo estudo.

Na ótica do levantamento, 15,3% das empresas no Rio não sobreviveram um ano, o que foi considerada uma taxa de mortalidade alta, no entendimento do pesquisador. Ainda segundo o estudo, 59,8% das empresas viveram entre um e cinco anos, e 91,1% fecharam antes de completar dez anos.

“Entre os fatores que podem ser atribuídos [como causa], está o comportamento da economia”, comenta Everton.

No entendimento do especialista, se a atividade econômica mostra quadro favorável, isso traz contexto benéfico não apenas para a maior durabilidade das empresas, mas também para abertura de novos negócios. Mas, em caso contrário, quando a economia do Estado não vai bem, o mesmo ocorre com o consumo interno, notou. Um empresário dificilmente abre novo empreendimento quando a economia vai mal, reconhece. “A demanda [interna] afeta a capacidade empreendedora”, resume.

A trajetória errática da economia fluminense, nos últimos cinco anos, foi elencada em nota técnica da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), divulgada no fim do ano passado. No estudo, a entidade lembrou trajetória do PIB do Estado do Rio, que subiu 1% em 2018; com alta de 0,5% em 2019 - mas que caiu 2,9% em 2020 com a pandemia; e subiu 4,4% em 2022. A previsão da federação, na nota, é de alta de 3,4% no PIB do Rio no ano passado.

Assim, na prática, se a economia e a demanda foram bem no Rio, no ano passado, isso ajudou a impulsionar maior volume de abertura de empresas, observado no estudo da CDLRio e de SindilojasRio, concordou Everton.

Porém, no estudo da Firjan, a federação projeta queda no ritmo de crescimento econômico em 2023, na comparação com o ano imediatamente anterior. Sobre o crescimento mais fraco, Everton admite que no estudo é visível perda de fôlego em ritmo de abertura de empresas, no Estado. O técnico comenta que, entre 2021 e 2022, houve alta de 84% no número de aberturas de CNPJs no Estado - sendo que a variação, embora positiva, encontrada para 2023 ante ano anterior foi de 0,4%, reitera.

E, para 2024, o contexto da economia do Rio para abertura de negócios não é bom, diz o economista. “Recentemente vimos cortes de gastos do governo estadual para equalizar a situação financeira”, lembra Everton. Esse quadro evidencia pouca margem para investimentos públicos na atividade econômica do Estado, um contexto desfavorável tanto para crescimento econômico, quanto para demanda interna, admite.

Aldo Gonçalves, presidente do CDLRio e SindilojasRio, concorda. “É preciso que o governo desenvolva políticas públicas que favoreçam mais o ambiente de negócios do Rio de Janeiro”, diz.

No estudo, as entidades fizeram ainda um mapeamento regional e setorial dos CNPJs abertos no Rio, no ano passado. Em 2023, a região metropolitana do Rio respondeu por 77,3% do total de novos negócios, no Estado. Na análise setorial, o comércio varejista foi destaque, sendo origem de 53.361 aberturas de empresas no ano passado (ou 18,8% do total); e por 38.614 dos fechamentos de CNPJs em 2023 (24,27% do total).

Fonte: Jornal Valor Econômico