Queda na confiança empurra PIB para baixo

Enviado Segunda, 29 de Novembro de 2021.

Sob a ameaça da ômicron, mercado vê aumento das incertezas na economia brasileira, com recuo em índices importantes, como os que medem o humor do consumidor, as vendas no comércio e a atividade industrial.

Grande parte dos índices que medem a confiança no país está em queda, após um período de forte recuperação do momento crítico da pandemia do covid-19. Mesmo com a ligeira recuperação em outubro, os indicadores voltaram a cair em novembro, sinalizando uma situação de incerteza crescente. Parte disso vem com a nova variante do covid- 19, que fez o mercado desabar na sexta-feira.

A ômicron, como foi batizada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), ligou o alerta de especialistas. E o quadro, que já era dramático para o Brasil, com perspectiva de queda de até 0,7% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2022, ficou ainda pior.

Assim, não há como se falar em investimentos e crescimento robusto da economia. Com a crise econômica, a população, de uma forma geral, parou de comprar o que não era necessário. Não por acaso, o Índice de Confiança do Consumidor (ICC) do FGV IBRE caiu 1,4 ponto em novembro, para 74,9. Segundo a entidade, é o menor valor desde abril (72,5 pontos).

Em médias móveis trimestrais, o índice se manteve em queda pelo terceiro mês consecutivo. A FGV ressalta que, em novembro, o indicador de confiança foi influenciado pela piora tanto na avaliação da situação corrente quanto das expectativas. O Índice de Situação Atual (ISA) diminuiu 2,1 pontos, para 66,9, enquanto o Índice de Expectativas (IE) caiu 1,0 ponto, para 81,4.

O planejador financeiro Marco Harbich, consultor de valores mobiliários e sócio da Vante Financial Group, diz que, mesmo famílias que conseguirem um aumento de renda no curto prazo, buscarão quitar as dívidas antes de voltar para o consumo. "Há um conjunto de incertezas que compromete a expectativa de crescimento do PIB em 2022. Ainda não vejo o momento como estagflação (conjugação de inflação alta e baixo crescimento), mas há possibilidade disso ocorrer, se a economia se mantiver desta forma", observa Harbich.

No início de novembro, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), mostrou que o volume de vendas do comércio varejista no país recuou 1,3% em setembro, na comparação com o mês anterior, segunda queda consecutiva após a maior alta do ano, em julho, quando cresceu 3,1%. No ano, de acordo com dados da Pesquisa Mensal de Comércio (PMC), o varejo acumula crescimento de 3,8% e, nos últimos 12 meses, de 3,9%.

Segundo o economista autônomo Hugo Passos, os resultados negativos vêm em um contexto de escalada da inflação, que eleva os custos de operação das empresas e diminui o poder de compra da população.

Para Passos, o índice que mostra as expectativas para os próximos meses no setor não são boas. "No entanto, vale lembrar que, segundo os dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), o Brasil gerou mais de 2 milhões de vagas com carteira assinada comparado ao ano passado. Isso possibilitou incremento de renda nas famílias, o que deve impulsionar as vendas do comércio com o combustível do 13º salário, mesmo com o aumento das despesas domésticas", comenta Passos.

O quadro não é diferente nas fábricas. O Índice de Confiança do Empresário Industrial (ICEI) de novembro, divulgado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), ficou em 56 pontos, uma queda de 1,8 ponto em relação ao mês anterior.

O indicador caiu nos últimos três meses, o que indica confiança mais fraca e menos disseminada. Ao recuar 1,1% no trimestre encerrado em setembro, o setor industrial interrompeu o comportamento positivo que vinha sendo registrado desde os últimos três meses do ano passado, em 3,4%. De acordo com a economista Catharina Sacerdote, consultora especialista em investimentos, essa mudança é explicada pela diminuição no ritmo das quatro grandes categorias econômicas.

O péssimo momento da indústria é endossado pela Fundação Getulio Vargas (FGV). O Índice de Confiança da Indústria (ICI), calculado pela instituição, apresentou recuo de 3,1 pontos em novembro e foi a 102,1 pontos, menor nível desde agosto de 2020 (98,7 pontos). Esse comportamento se reflete no número de vagas ocupadas nas fábricas.

Segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), o emprego da indústria de transformação, que vinha crescendo a taxas elevadas em 2021, desacelerou. O faturamento da indústria, por sua vez, caiu 1,5%; a Utilização da Capacidade Instalada (UCI) recuou pela terceira vez seguida e o rendimento médio real segue tendência de retração.

Para Catharina Sacerdote, o Brasil vive grandes desafios. "Enquanto uma desaceleração da China deixa o país muito vulnerável do ponto de vista de balança comercial, há outras reformas importantes internas que foram completamente paralisadas desde o início da pandemia. Junta-se a isso a escassez de insumos generalizada, que impacta diretamente a indústria e mantém os níveis de desemprego altíssimos", comentou.

Já o Índice de Confiança da Construção (ICST), da Fundação Getulio Vargas, caiu 0,8 ponto de outubro para novembro e chegou a 95,3 pontos, em uma escala de zero a 200 pontos. Essa foi a segunda queda consecutiva do indicador. O tombo da confiança do empresário da construção no mês foi puxada, principalmente, pela piora das avaliações sobre o futuro.

A confiança das empresas da construção civil mantém o mesmo nível de confiança registrado há um ano. O Índice de Confiança do Empresário da Indústria da Construção (Icei) é calculado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). No geral, o indicador passou de 58,9 em novembro de 2020 para 54,9 no mesmo mês deste ano.

A economista Catharina Sacerdote explica que, dos índices que compõem o ICE, somente a construção civil não recuou, que vive ainda de uma boa maré dos juros em um patamar abaixo do que vivemos há cinco ou seis anos. "Mas houve recuo no serviço, indústria e comércio, estes últimos sofrem também impacto por causa da desaceleração da China, que é um grande comprador de produtos brasileiros", destacou.

De acordo com Catharina Sacerdote, apesar de a construção civil não indicar nenhuma tendência de queda ainda, o resultado deste trimestre pode ser apenas pontual, mas o Brasil vive grandes desafios no cenário econômico. "Enquanto uma desaceleração da China deixa o país muito vulnerável do ponto de vida de balança comercial, há outras reformas importantes internas que foram completamente paralisadas com o início da pandemia. Junta-se a isso uma escassez de insumos generalizada que impacta diretamente a indústria e os níveis de desemprego altíssimos", comentou.

"Em geral, os dados são de crescimento fraco e, ainda sim, não refletem a má qualidade de vida de grande parte da população, que tem sentido duramente o impacto da inflação em serviços, e principalmente, alimentos. Como o Banco Central também utiliza uma política monetária agressiva para conter a inflação com o aumento de juros, podemos ter uma combinação dolorosa para os próximos meses: mina a confiança dos consumidores, impacta as taxas de juros para financiar desenvolvimento e atinge mais ainda índices de confiança empresarial", ressaltou a economista. (FS) 

 

 

Fonte: Correio Braziliense